Autor

Mr. Jartur

 

Data

8 de Novembro de 1956

 

Secção

Quem Foi?

 

Competição

Torneio de Preparação

V Problema

 

Publicação

Mundo de Aventuras [378]

 

 

TRAGÉDIA NO CIRCO

Mr. Jartur

 

No interior do «Circo Lança», uma parelha de trapezistas executava vários lances, ensaiando um novo número, que seria estreado no espectáculo da noite.

Os trapézios oscilavam numa dança diabólica, e os acrobatas pulavam do um para outro, com infalível precisão. Os corpos, suados, confundem o seu brilho com o das roupas que os cobrem parcialmente. De tronco forte e membros musculosos, o homem faz prodígios de acrobacia. Mas a sua companheira não lhe é inferior.

Lá fora, com o rosto colado às tábuas, garotos espreitam através das fendas do madeiramento que rodeia o circo. Sempre que o polícia do giro se aproxima, um dos garotos dá o alarme, e o bando dispersa ràpidamento, ocultando-se os rapazes nas barracas circunvizinhas. Mas o inimigo afasta-se e a garota volta a guarnecer os seus postos de observação.

Entretanto, após breves momentos de descanso, os trapezistas recomeçavam as suas evoluções no espaço, procurando conseguir os movimentos mais belos e temerários. Algumas cordas e escadas da mesma matéria, pendentes dos paus que suportam o toldo, estendem-se até ao solo, roçando os coçados tapetes que cobrem a pista.

O circo está silencioso. Apenas as cordas rangem e o vento sibila, fustigando o pano gigantesco e colorido.

Súbito, um grito de terror ecoou no vazio do circo.

Os garotos debandaram, apavorados. A corrida foi curta, porque depressa retrocederam, desejosos de saber o que se havia passado para além do madeiramento. Os olhos dilataram-se-lhes o as pernas fraquejaram, mas logo a grito anunciador da reaproximação do guarda os dispersou uma vez mais. O polícia, que se apercebera da debandada, parou. Olhou à sua volta e resolveu lançar também um rápido olhar para o interior do circo. A mesma expressão que se havia estampado nos rostos dos garotos, caracterizava agora a cara do cívico.

Era bem macabra a cena que lhe provocava tal reacção. Num dos extremos da pista, um corpo de mulher estava caído, inerte, sem aparentar sinais de vida, e sangrando abundantemente do crânio.

O guarda continua espiando, como que fascinado pelo tétrico espectáculo.

Instantes depois, uma porta abriu-se e alguém gritou:

– Acudam! Acudam!

Alguns feirantes das tendas mais próximas acorrem prontamente e, seguindo o polícia, entram no circo enquanto outros procuram um médico.

Tal cuidado, porém, era já desnecessário. A jovem, que há instantes voava entre os trapézios, com toda a graça e leveza de uma gaivota, era agora apenas um corpo morto. E quando o médico chegou, nada havia a fazer.

Decorridos alguns dias, os espectáculos recomeçaram, e Marcos foi assistir, convidado por um dos artistas, a uma das sessões nocturnas.

– Quanto a mim – dizia o artista a Marcos – custa-me a crer que Dina tenha falhado. Era a nossa melhor acrobata, de sangue frio a toda a prova. A ele acho-o capaz do tudo…

E por esta confidência, que ao «detective» pareceu sincera, é que Marcos se decidiu a ouvir o homem que até há pouco fora o marido da infeliz trapezista. Levada a efeito a apresentação, Marcos conseguiu que o homem relatasse o trágico acontecimento.

– «Eu estava a trabalhar num dos trapézios quando a Dina falhou o salto. Instintivamente, estendi os pés e ela conseguiu agarrar-se, mas o seu peso fez com que eu perdesse o equilíbrio, e caíriamos logo se eu não lograsse agarrar uma das cordas. Mas com o duplo peso, eu não podia segurar-me e, ainda que abraçado à corda com pernas e braços, escorreguei velozmente. Foi então que as mãos dela se desprenderam do meu corpo e ela caiu, sem que a minha descida fosse abrandada. Na queda, desamparada, Dina bateu com a cabeça no rebordo da pista. E é tudo. Eu nada sofri, pois desci abraçado à corda, até cair, de pé, no solo. Corri depois a gritar por socorro.

– Mas o senhor não se feriu em parte alguma – observou Marcos, fitando o homem com olhar interrogador.

– Não, senhor Marcos. – Como já disse, cai de pé. Enquanto que minha esposa perdeu a vida, eu nem sequer uma beliscadura tenho. Cheguei cá abaixo tal como havia subido antes.

Marcos ouviu e calou, conquanto não acreditasse na versão do homem. Algo lhe dizia que ele mentira descaradamente.

Naquela mesma noite o homem recebia voz de prisão e confessava ter sido o culpado da morta de sua mulher.

 

PERGUNTA-SE:

1) Teria havido, na verdade, homicídio?

2) Porque pensa assim?

3) Como se deve ter passado o caso, e qual o móbil do delito?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO