Autor

O Formiga

 

Data

13 de Abril de 1978

 

Secção

Mistério... Policiário [161]

 

Competição

Torneio “Sete de Espadas"

Problema nº 7

 

Publicação

Mundo de Aventuras [237]

 

 

O SENHOR ESQUECIDO…

O Formiga

 

– Sabes uma coisa, Filipe? A minha mãe vem fazer-nos uma visita…

– O quê?? Linda notícia para me dares ao pequeno-almoço. Ainda acabo por perder o apetite.

– Olha, querido, não sei porque a detestas dessa maneira! Sempre que cá vem deixa-nos a casa fornecida!

– Mas, por outro lado, não deixa de nos prejudicar. Da última vez que cá veio, no Natal, deixou os pequenos tão mimados e insuportáveis, que foi um caso sério para os pôr novamente na ordem. Só espero que ela venha e vá no mesmo dia. Não estou para ter depois, como da última vez, mais de um mês de preocupações com os pequenos.

– Não sejas mal agradecido, está bem? Desta vez ela vai ficar quinze dias…

– Oh, não!! Quinze dias! Ela nunca ficou cá tanto tempo?!

– Olha, filho, está na hora de ires para o emprego. Lembra-te que tens o automóvel estragado e precisas de apanhar o autocarro.

– Também acho. Se não o fizesse, era capaz de endoidecer. E talvez o trabalho no Banco me desanuvie o espírito!

E preparava-se para sair, depois de ter beijado fugidiamente a mulher, quando:

– Eh, olha lá, quando a tua mãe nos visitou, da última vez, não disse que só podia cá voltar de novo em Junho?

Mas, voltando-se, só viu a mulher, que sorria prazenteira e provocadoramente…

– Deixa-me ir embora, antes que faça alguma asneira – comentou em voz alta. – Apre, é preciso ter azar – ainda acrescentou.

Depois, já na paragem do autocarro, onde se viam algumas pessoas, foi atraído pela conversa de duas delas, mau grado as suas negras lucubrações daquele dia, e afinal de todo o ano de 1978, que, até à altura, não lhe trouxera qualquer verdadeira alegria.

– Sabes uma coisa, pá?...

– Antes de tu ma contares, não.

– Olha o engraçadinho. Ainda acabo por não te dizer nada!

– Conta lá, homem, e deixa-te de «momices».

– Os alemães descobriram uma máquina perfuradora capaz de transportar o primeiro homem ao centro da Terra…

– Tu deves é ter andado a ler livros do Edgar Rice Burroughs…

– É verdade! Como os americanos e os russos têm a primazia da exploração espacial, os alemães «voltaram-se» para o interior da Terra.

– Ah, sim, então porque é que isso não vem, por exemplo, nos jornais?

– Porque ainda é segredo. Quem mo contou foi um amigo que tenho na Alemanha e que trabalha no projecto…

Entretanto o autocarro chegou, o que pôs fim à conversa que o «nossa» amigo ouvia atentamente.

– Eh, Filipe! – chamou Manuel, que já vinha no interior do veículo. – Senta-te aqui, homem!

– Olá, pá! Estás bom?

– Cá vou indo. Que bons ventos te fazem andar de autocarro? E logo hoje?

– Bons, uma figa! Tenho é o automóvel estragado.

– Ahl Mas olha, não ouviste hoje o último noticiário da R. D. P. 1?

– Não! Porquê?

– É que tenho uma notícia sensacional para ti, que te interessas tanto por fenómenos insólitos…

– Ah, sim?

– Até parece que ainda estou a ouvir a notícia: «Bons dias, senhores ouvintes. Directamente de Ponta Delgada, o locutor em serviço nesta cidade. Pois, senhores ouvintes, cerca das oito horas e um quarto de hoje, chegou ao nosso conhecimento uma notícia sensacional. Foi encontrado no mar dos Açores, no já chamado «Triângulo da Morte», um navio abandonado. Segundo declarações do comandante do cargueiro «American Star», que descobriu o navio, este encontrava-se à deriva, enquanto a bordo, onde se deslocou com três elementos do seu barco, não havia vivalma, encontrando-se tudo em perfeito estado. Dir-se-ia que tripulantes e passageiros se volatizaram de repente, no decurso das suas ocupações quotidianas. Enfim, um caso obscuro que aguçará, sem dúvida, a imaginação das pessoas. E daqui é tudo. Bons dias».

– Tens a certeza de que isso é verdade? – interrogou ainda Filipe.

– Claro! Que necessidade tinha de te mentir?

– Lá isso é verdade…

No caminho que o levava ao trabalho, e já depois de ter descido do autocarro, ainda ia matutando no caso, naquele dia que, para ele, começara tão mal. E, só de pensar na sogra, sentia calafrios…

– Eh! – exclamou de repente. – Aquilo… pois claro! Eu devia ter percebido logo. E, além disso… pois… eu sempre sou muito esquecido. Agora, sim, está tudo explicado.

 

– E é este o «problema» que vou apresentar. Que achas?

– Nada mal. No entanto, digo-te uma coisa: o tal Filipe é esquecido, mas tu não és menos. Já reparaste que…

 

Aqui há um corte no texto, para se perguntar:

1 – Como se deduz das exclamações finais do Filipe, ele descobriu alguma coisa. Será você, também, capaz de o fazer?

2 – Complete a frase do amigo do autor do problema.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO