Autor

O Formiga

 

Data

13 de Setembro de 1979

 

Secção

Mistério... Policiário [234]

 

Competição

Torneio “Detective Misterioso"

Problema nº 12

 

Publicação

Mundo de Aventuras [310]

 

 

FOGO DE VISTA

O Formiga

 

Era um caso bastante estranho. Demasiado estranho – cogitou o inspector. – E recapitulou:

«Eu tenho uma chave da porta. Mas desta vez nem precisei de a usar, pois entrei logo a seguir ao senhor César. De repente soou um tiro. Eu fiquei aparvalhada – só tive tempo de ver um vulto que fugia por aquela porta». – E a mulher da limpeza mostrou ao inspector a porta em frente da da rua, que comunicava com uma pequena sala de trabalho. Perto dessa porta, e à esquerda de quem entrava a cápsula do projéctil. O detective, entretanto, entrava no gabinete de trabalho: em frente e um pouco à direita, a janela por onde o assassino fugira; no chão, uma cadeira que estivera à direita do vão da janela na parede jazia agora, deitada de lado, por baixo do parapeito. Do lado oposto, no chão, relativamente afastados da janela e do seu respectivo vão, e mais para a esquerda do que seria natural, notavam-se vidros partidos, provenientes da metade esquerda da janela, pois que esta abria em duas partes.

«Depois – continuou a mulher, não podendo conter--se –, quando me recompus, corri para aquela porta – a do gabinete de trabalho – e ainda vi a mão enluvada do assassino, que já passara o parapeito da janela. No chão estava uma pistola – e apontou o local, perto da cadeira caída. – Aliás, antes de entrar aqui ouvi um ruído surdo – terminou. – Mas logo continuou, raivosa: – O inspector tem que apanhar o assassino. Depois… ai dele se fosse eu a fazer justiça»

O inspector lembrou-se então que, segundo parecia, o móbil do crime fora o roubo. E, deitando um último olhar à janela, demasiado alta para a escalar sem ajuda, por ser baixo – «Que isso não me aquece nem me arrefece», dizia ele, muitas vezes –, passou ao átrio, ou sala de entrada e parou entre a porta: o morto, com um tiro bem no meio da testa, caíra perto dessa porta de ligação ao gabinete de trabalho – estava deitado no chão, de peito para baixo. Junto à parede do seu lado direito e dentro do gabinete, via-se um cofre aberto e vazio. Parecia ter sido arrombado.

«E os familiares?» – interrogou ainda o inspector.

«Não tinha – respondeu a mulher. – E amigos chegados também não, que eu saiba. Ele só vivia para a empresa» – concluiu, reprovadoramente.

E fora tudo o que apurara naquela casa. Entretanto entravam já os homens da técnica. O inspector saiu.

No dia seguinte, de manhã, dirigira-se à empresa onde o morto exercera as funções de director. Era a única coisa que podia fazer, visto não ter outra possibilidade de obter informações sobre o caso. Relembrou, então, os depoimentos dos três únicos suspeitos que pareciam reunir as condições necessárias para a realização do crime.

José Eduardo – Alto, nutrido, tinha olhos frios e expressão calculista. «Dali não sairá nada que ele não queira» – pensara o inspector. E começara o interrogatório.

«Não, infelizmente não tenho alibi. Às sete horas da tarde – quando se deve ter dado o crime, segundo nos disse –, estava a ver televisão, pois saímos do emprego às 5,30 horas». «Sim, sim… oportunidade… Olhe, oportunidade todos tivemos. Quem quisesse poderia entrar facilmente em casa dele, pois no gabinete que ele ocupava havia uma chave da porta. Às vezes era preciso ir lá buscar papelada, por isso ele deixava-a cá. Se bem que, segundo o jornal, tudo indique que o crime foi praticado por um ladrão que entrou por uma janela» – explicou, circundando o olhar pelos presentes. – «Bem… – continuou – sim, também se pode dizer que tinha um motivo: havia certas divergências e antipatia mútua entre nós. A minha posição na empresa era bastante melindrosa». «Tinha, ele tinha dinheiro em casa, pois hoje era o dia dos pagamentos. Todos sabíamos isso». «O quê? Se eu sei onde ele esteve entre as 5,30 horas e o momento em que foi morto? – Bem, segundo o que ele disse, ia visitar um companheiro nosso aqui da firma, que fora fazer uma operação e estava no hospital. Mas disse que às 7 horas tinha de estar em casa, para telefonar a um dos nossos fornecedores». «Se eu tenho algo mais a declarar? – Não, creio que já disse tudo que poderia interessar».

João Manuel – Forte, baixote, olhos esquivos. – O inspector, apesar da sua pretensa falta de complexo, sentiu prazer em olhar o homenzinho de cima para baixo. – Pela aparência um suspeito potencial. Mas

«Como o Eduardo, aqui presente, não tenho alibi para a hora do crime. As possibilidades foram também as mesmas». «Motivo? – Bem… ele, hoje, ia queixar-se de mim por – como hei-de dizer…. – ter desviado certa quantia. Que já repus – acrescentou. – Mas se ele me tivesse denunciado eu já me podia considerar despedido». «Sim, também sabia do dinheiro e do projecto que ele tinha de ir visitar o André ao hospital, mas querendo estar em casa às 7». «Não, não sei mais nada» – concluiu.

Joaquim Fernandes – Alto, magro, olhar penetrante e calmo. Pela aparência o menos suspeito. Mas como as aparências iludem…

«A oportunidade e o alibi são idênticos aos dos meus colegas. Quanto às notícias do dinheiro e da ida ao hospital, mas tendo de estar em casa às sete, posso dizer que também eram do meu conhecimento». «O motivo? – Bem, o dinheiro que ele tinha em casa, para dizer a verdade, fazia-me bom jeito, pois meti-me aí nuns negócios que correram para torto».

Após recordar estes factos, o inspector pegou de novo na folha que tinha à sua frente e que o levara a recapitular tudo quanto se passara. No entanto continuava «em branco». E o inspector leu novamente as informações enviadas pelo seu auxiliar:

«A morte, segundo a autópsia, foi causada pelo tiro da pistola caída perto da janela – a vítima morreu instantaneamente».

«A pistola pertencia ao Joaquim Fernandes. Interrogado por mim, dirigiu-se ao quarto e disse que não a encontrava; que certamente lha tinham roubado. Na arma, bastante borradas, ainda se conseguiu verificar que as únicas impressões digitais eram dele».

«A vítima foi, na realidade visitar o André ao hospital. Pela hora a que de lá saiu, deve ter ido directamente para casa».

«A mulher da limpeza todos os dias àquela hora costumava ir arrumar a casa do César, o que, aliás, era do conhecimento dos suspeitos. Há testemunhas que a viram entrar atrás da vítima e, imediatamente, ouviram o tiro. Então a mulher telefonou-nos».

– Maldita sorte – praguejou o inspector. – Lá vou eu passar outra noite sem dormir.

 

Certamente não precisará de fazer como o inspector para nos apresentar um relatório pormenorizado o completo do que aconteceu...

 Nele indique:

1 – O nome de quem considera ter cometido o crime.

2 – Indique, também, o mais pormenorizada e completamente possível, as razões que o levaram ã afirmação anterior.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO