Autor

O Gráfico

 

Data

Março de 1980

 

Secção

Enigma Policiário [48]

 

Competição

1º Grande Torneio de Fórmula Um Policiária e Torneio de Homenagem a Jartur

Problema nº 3 | Grande Prémio de Almada

 

Publicação

Passatempo [70]

 

 

ÉVORA, 14.10.79 (Q. G. – E. L. S. – R. M. S.)

O Gráfico

 

(Que muita gente nova apareça neste problema… ELE É VOSSO.)

A manhã outoniça achava-se e prosseguia duvidosa! Depois de uma noite de chuva torrencial, simultaneamente chovia e fazia sol, que, no entanto, não chegava para secar o chão uniformemente bem molhado, empoçado mesmo. Enfim, um dia intricado. Eu permanecia de plantão ao portão da parada superior. Invejava alguns colegas que se divertiam no bar do soldado porque obrigatoriamente não podia desamparar o meu posto. A bandeira içara-se antes do render da guarda e mantinha-se retesada em direcção à taberna do senhor Taí. Este velhote desembaraça-nos sempre que necessitamos de vestir roupa civil… Esporadicamente, aquando das folgas, passeamos pela pequena, mas muito rica e bela cidade alentejana. É um prazer apreciarmos construções antigas, muito valiosas, como por exemplo a Igreja e Convento de Nossa Senhora da Graça (séc. XVI); o tão considerado Templo Romano (Diana), além da muito famosa Praça do Geraldo com a Igreja de Stº Antão; a Fonte das Portas de Moura e outros tantos monumentos que todos conhecemos ou já ouvimos falar.

o senhor Taí alegra-se quando alguém fardado entra na sua taberna. Esta tem mesmo lugar em frente do portão da entrada principal do quartel. É aqui onde actualmente completo o serviço militar. Na entrada, temos à direita as secretárias e o gabinete do nosso capitão, comandante da unidade. Do lado esquerdo depois de subirmos uma dúzia de degraus, encontram-se as casernas dos soldados. Ao fundo (ao fim da parada), mesmo em frente, é o bar dos soldados, tendo a circundar um par de escadas que nos guiam ao refeitório, parada superior e bar dos sargentos. Ainda do lado direito (a seguir às secretárias), e em frente (ao lado das escadas que circundam o bar dos soldados), existem dois túneis – escuros – que nos transportam a outras imediações do quartel. Mas… porquê todas estas descrições!?… Estão deduzindo…

Houve um crime!! Sim, mesmo aqui dentro. Quem o cometeu está agora na prisão! Vejamos como tudo se passou…

(…) Cerca das doze horas (a manhã não mudara), ouviu-se um disparo! Eu, que me encontrava junto do portão da parada superior corri até junto das escadas de acesso à parada principal. Olhei… Em baixo não se via ninguém! Do bar dos sargentos saíam alguns. Vários soldados assomavam à porta das casernas. Todos se interrogaram: «– Mas o que foi isto?»; «Foi um disparo!»; «– Mas onde!?». Enquanto outros soldados se mostravam à entrada do bar, surgiu, correndo e gritando, o soldado que permanecia impedido, naquele dia, à secretária! Esta encerrava aos domingos. Todavia, aquele homem ficara lá para tratar duma papelada que o nosso capitão lhe ordenara. «– Foi ali… foi ali…» – gritava ele. Apontava o fundo do túnel. Nas mãos trazia algumas folhas escritas a tinta, ainda fresca... «– Deram um tiro no Adão!» – continuou. Instantaneamente nos dirigimos para o local. Fui um dos primeiros a chegar. Adão, o 1º Cabo responsável pela arrecadação, jazia sem vida com uma bala de espingarda automática G-3 alojada no peito, segundo posteriormente se confirmou. Ao lado do corpo estava um invólucro. Também um saco com luvas para lavar permanecia junto da vítima. No meio da confusão chegou o oficial de dia ao quartel que por sinal era o nosso comandante.

– Ninguém toca no corpo! – gritou.

Afastámo-nos.

– O Clarim que toque a formar imediatamente! – tornou a dizer.

… Após o toque, os militares disponíveis formaram por secções. Aguardaram em silêncio esperando os inspectores da P. J. M.! Não podendo abandonar o meu posto, mirava os meus colegas, lá do cimo das escadas. Finalmente chegaram os inspectores. Um deles, pelo menos, era civil. Conheci-o perfeitamente quando saiu do carro negro. O inspector Rodriguinho! Quem não conhecia aquela pequena barriguinha num corpo que não tem mais de 1,60 metros de altura?! Depressa compreendi o porquê da sua presença. Trabalhavam, naquele dia, no quartel, dois operários da construção civil (um pedreiro e um servente), na reconstrução da lavandaria. Esta, embora tivesse um compartimento a funcionar para lavar roupa, situava-se a cerca de 50 metros da arrecadação, mas num outro túnel que existia à sua direita.

Depois de retirado o corpo ir-se-ia seguir o clássico interrogatório. O local escolhido foi o gabinete do nosso capitão. Foram chamados para prestarem declarações: o soldado que tinha primeiramente observado a vítima, os dois operários, mais um outro militar que estava no bar… Naquele momento havia ido às casas de banho que ficam mesmo junto da arrecadação. O primeiro a depor foi o soldado da secretaria:

– Como o nosso capitão me ordenou, encontrava-me na secretaria a pôr em ordem aqueles papéis… Mas a determinada altura não me entendi bem com aquilo e fui pedir ajuda ao nosso 1º sargento Barbosa (era o chefe da secretaria e estava neste dia de sargento de dia ao quartel), que se encontrava no bar… Quando me preparava para subir as escadas, o vento soprou com mais força e deixei fugir os papéis que levava nas mãos! Ora, arrastaram-me para dentro do túnel… Aprestei-me a apanhá-los e… ouvi um tiro! Um estrondo que me atordoou!!! Aparvalhado, olhei em frente e vi um vulto que fugia pelo outro túnel da lavandaria depois de deixar cair qualquer coisa! Não vi quem era porque os túneis são escuros!!! Como já tinha apanhado o resto dos papéis corri até ao fundo da arrecadação e vi o Adão naquele estado. Voltei a correr para a saída, transmitindo a notícia, enquanto já alguns soldados saíam das casernas e do bar do soldado!».

– Muito bem, pode retirar-se. – ordenou um inspector da PJM.

– Agora os senhores – proferiu.

Um dos civis começou a declarar enquanto se mostrava arreliado: – Mas… o que temos nós a ver com isto?… É certo que estávamos muito perto do local do crime!… mas que não nos apercebemos de nada é a verdade.

Disse o outro:

– Como os senhores sabem, a lavandaria é muito grande e desta feita encontrávamo-nos mesmo no último compartimento. Deitávamos uma parede abaixo e é provável que o disparo tivesse ocorrido quando fazíamos o máximo barulho!!

– Pronto. Diga agora você. – disse o outro inspector apontando para o último soldado.

Este era magrinho, espigado e a cara apresentava muita timidez. Começou por dizer:

– Eu… meu inspector… fui… tinha ido…

– Mau…mau! Fale sem complexos se realmente está inocente. – gritou o inspector.

– Eu tinha ido… fui… à casa de banho. Isto é… alguns minutos antes de se dar o disparo. Ouvi o tiro… mas… não saí da casa de banho!

– Teve medo!? – interrogou o inspector.

– Não… bem… medo não tive!

– Então porque não saiu quando ouviu o tiro?

– É porque não podia, senhor inspector

– Ora bolas! Você sabe que bastava sair da casa de banho para ver o assassino?

– Sim, eu sei… mas

– Mas, mas, uma gaita! Homem, desapareça.

O rapaz saiu e o inspector Rodriguinho logo atrás. Foi então que, cá do alto da parada superior, lhe acenei. Somos velhos conhecidos. Ele depressa veio ter comigo.

Lumafero, como estás, meu rapaz? – cumprimentou-me.

– Puxa, com este frio alguém pode estar bem? – respondi-lhe.

– Então, sabem quem foi o assassino? – perguntei.

– Não, por enquanto não.

– Você sempre que há um crime lá está caído, hem? Até parece que lhe dá o cheiro!!

– Não, calhou a estar cá por Évora. Daqui de cima tens uma vista bonita. (O meu amigo inspector, com um ligeiro olhar, contemplava a entrada do quartel.) Depois ficou alguns segundos estático. Bateu as mãos e, dando-me uma palmada no ombro, disse-me:

Lumafero, espera aí que vou dizer aos meus amigos quem é o assassino.

E, descendo as escadas a correr, deixou-me boquiaberto!! Mais tarde explicou-me tudo.

A solução é simples, própria para iniciados… Por isso mesmo faço as seguintes perguntas:

 

A – Quem foi o assassino?

B – Explique como o inspector Rodriguinho chegou a essa conclusão!

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO