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Autor Data Abril de 1981 Secção XYZ-Policiário [7] Competição I Campeonato Nacional de Problemas Policiários Problema nº 1 Etapa de Aveiro Publicação XYZ-Magazine
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Solução de: UM CRIME NO TERREIRO DO PAÇO O Gráfico 01 – Facilmente o inspector R. deduziu
que possivelmente teria sido aquela rapariga quem matara a outra, que jazia
no outro lado do rio Tejo, porque ela jamais poderia saber que: 1a – …A vítima era do sexo feminino –
quando afirma «não fui eu que a matei» – depois de o inspector apenas
informar pelo altifalante que «houvera um crime no Terreiro do Paço». 1b – …A morte da vítima fora produzida
por pistola – quando diz «não tenho aí pistola nenhuma» – depois de o
inspector apenas dizer que «houvera um crime…». (Não apenas por referir
tratar-se de pistola – daí estarem dois invólucros junto do cadáver –, mas
também pelo facto de até poder ter sido utilizada uma faca ou punhal pelo
assassino.) 1c – Outro factor importante para o
inspector ter desconfiado da jovem reside na circunstância de ela ter mentido
por dizer «venho do meu emprego de escriturária». Com efeito, se analisarmos
com atenção o narrado no texto, chega-se à conclusão de que a data do dia do
crime se trata de um dia memorável da nossa história: 5 de Outubro! Feriado
Nacional. Foi em 5 de Outubro de 1910 que se implantou a República Portuguesa
com a queda da monarquia constitucional! Sendo assim, seria impossível a moça
ter trabalhado naquele dia. 1d – É certo que a rapariga acabara de
assassinar a outra jovem quando chocou comigo no «Terreiro do Paço»… No local
do crime (na casa de banho das senhoras – donde a criminosa vinha), foram
encontrados três paus de fósforos dos quais dois eram de cor preta e um
branco. No cinzeiro encontravam-se mais… todos brancos… Ora, a assassina
utilizava fósforos de carteira negra conforme eu verifiquei no barco. Logo,
como ela vinha fumando dos lavabos femininos, os fósforos negros que lá se
encontravam só poderiam ter sido dela! Justifica-se mais ainda pelo facto de
um dos fósforos em questão não estar consumido nem inteiro… Evidentemente que
a outra parte residia na carteira da criminosa conforme foi descoberto!
Deduz-se o seguinte: Depois de ter morto a jovem, a assassina puxa de um
cigarro para fumar (pretendia esconder o nervosismo aparente – por isso ela
fumava bastante!), no entanto quebra pelo meio o primeiro fósforo pelo que o
deita fora… À segunda tentativa consegue acender o cigarro deitando de novo
para o chão o outro fósforo utilizado. Quanto ao facto de ela fumar «Kart» e
no chão do local do crime aparecerem beatas de «Paris» nada há de anormal…
Pois, como se justifica, a criminosa não fumou nas casas de banho. Aquelas
beatas seriam de outras pessoas assim como o pau do fósforo branco no solo!
Seria impossível os paus de fósforos pretos encontrados nos lavabos das senhoras
pertencerem a outras pessoas, uma vez que alguém, quando lá entrou a seguir à
assassina, detectou o corpo e deu o alarme. 02 – Por ter observado constantemente
a assassina, após o nosso choque no «Terreiro do Paço», por causa das minhas
«manias» de conquistador, pude depois auxiliar o inspector com mais provas
que a incriminariam melhor ainda: 2a – Ela ao dizer «faço esta viagem
todos os dias» continuava a mentir… De facto se assim acontecesse já tinha
tido tempo suficiente para saber que os barcos têm primeira e segunda classe!
E, pela sua inexperiência de viajar naquele transporte ficou admirada ao ver
pessoas a irem para ambos os lados (1ª e 2ª classe). Nunca iria para a
primeira classe com bilhete de 2ª se de facto viajasse todos os dias naqueles
barcos. Também o seu espanto ao olhar o revisor que examinava os bilhetes dos
passageiros prova que era a primeira vez que ela viajava naquele barco. 2b – Um outro pormenor que justifica
plenamente que ela não fazia aquela viagem todos os dias, nem tão pouco vinha
do emprego, é o facto de o seu bilhete ser de «ida e volta» conforme
verifiquei quando o apanhei no chão. Primeiro, porque seria mais cómodo
possuir um «passe» e segundo porque o bilhete de «ida e volta» seria mais
lógico ser tirado logo pela manhã, quando se dirigia para o emprego, e nunca
quando vinha do mesmo. Assim leva-nos a crer que ela após o crime (que já
havia sido planeado muito antes), pretendia ir até ao Barreiro (outro lado da
estação) enquanto descobriam o corpo e depois regressava num outro barco. 2c – Se a rapariga tinha acabado de
assassinar a vítima quando chocou comigo (conforme está provado)… Se no local
do crime não apareceu nenhuma arma… E se ao ser revistada, a assassina não
possuía nenhuma arma… Então onde se encontraria a pistola? – NO FUNDO DO RIO,
JUNTO AO CAIS DE ATRACAMENTO, NO BARREIRO!!! Esta dedução nasce em face do
seguinte: a jovem quando matou a rapariga guardou a arma na sua mada. (Daí a
mesma não se encontrar no local do crime!). Saindo nervosa da casa de banho chocou
comigo e quando lhe apanhei a maleta ela bruscamente ma tirou das mãos…
(Estava com medo que eu descobrisse a pistola dentro da mesma!!). Sendo
assim, quando entrou no barco levava consigo a arma do crime. Depois, quando
estávamos prestes a atracar no Barreiro, apareceu a polícia… Então, ela, para
não ser descoberta com a arma dirigiu-se à borda do barco e após olhar à sua
direita e depois para a esquerda retirou a pistola da mala e lançou-a ao
rio!!! Foi esta a justificação que dei ao inspector R. sobre o
desaparecimento da arma. |
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© DANIEL FALCÃO |
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