Autor Data Julho de 1983 Secção Clube Xis [12] Competição Iº Campeonatos Regionais de
Decifradores de Problemas Policiários e IIº Campeonatos Distritais de
Decifradores de Problemas Policiários 2ª Jornada Publicação Clube Xis |
CRIME EM DIA DE ANIVERSÁRIO O Gráfico Almada, 27 de Fevereiro de 1983 Os detectives
“Misterioso” e “Alva” completavam mais um feliz aniversário neste dia. Como
sendo habitual, desde o dia em que os três fizemos exames para Detectives Particulares – e passámos!,
sempre que um de nós faz anos, lá estamos todos reunidos para um grande
almoço! Nestes últimos anos tenho-me feito acompanhar pelo meu ajudante, o Lumafero, um exemplo de rapaz dedicado e amigo pelo
próximo. Desde que sou inspector, torna-se
necessário a sua presença. Já me ajudou muito a resolver certos casos
considerados indecifráveis… Não é que eu esteja velho, não, nada disso, o inspector Rodriguinho ainda há-de
solucionar muitos casos, mas o Lumafero é um rapaz
com uma perspicácia extraordinária da qual eu me tenho aproveitado. E,
aproveitando esta homenagem que lhe faço, digo-lhes que ele é inseparável da
sua “moedinha da sorte”!… Ela faz parte dele… Vejam só a sua pachorra que,
mesmo quando está investigando algum crime, não deixa de brincar com a sua
moedinha… Eternamente a atira ao ar, para fazê-la cair no bolso esquerdo do
casaco de cabedal que sempre usa, quando partimos para investigar algum crime
ou, neste caso, para uma festa habitual. Afirma que só consegue raciocinar
convenientemente brincando com a sua moeda… Os meus amigos
não tiveram muita sorte com o dia do seu aniversário, pois o dia
apresentava-se muito irregular e embora não tivesse chovido durante a noite,
chegou a acontecer pela manhã, ininterruptamente, entre as sete e as nove
horas. Quando a chuva cessou, aprestei-me, então, para partir em direcção da casa do detective
“Misterioso”, local onde este ano se festejava. Ao volante do meu carro fui
buscar o meu ajudante ao seu lar. (…) Quando
passámos uma curva, em plena cidade, mas num local de raríssimos transeuntes,
ficámos espantados com o “quadro” que se nos deparou… Nem queiram saber…
Avistámos um indivíduo deitado no chão, com a barriga para o ar, em cima do
passeio que ladeava uma escola, estando a mesma ensanguentada, o que nos
parecia… A escola evidenciava, em toda a sua volta, um muro com cerca de três
metros de altura, tendo no lado interior umas gigantescas àrvores
frondíferas. Rapidamente parei o veículo, um pouco mais à frente e enquanto o
Lumafero foi deter um sujeito, de boa saúde, que
caminhava em direcção a um outro veículo
estacionado, eu fui em socorro do homem que permanecia caído. Estava morto,
apresentando um enorme golpe no estômago, talvez produzido por uma faca ou um
punhal!! Deduzi que a morte ocorrera de seis a sete
minutos antes por que o sangue brotado ainda não se mostrava coagulado.
Deixei a vítima na mesma posição e entretanto chegou o meu ajudante com o
outro cavalheiro. – Morto! – exclamei para ambos. Depois de me identificar ao tipo que
se apresentava em fato-de-treino, parecendo um jogador profissional de
futebol, e calçando uns “ténis” impecáveis e bonitos, com o cabelo
normalmente penteado, e de franja, este declarou-nos: – “…Está
morto. Eu ainda tentei socorrê-lo mas foi desnecessário! Já estava assim
quando cheguei junto dele. Ainda vi o gajo que o
assassinou fugir num carro… Ali pela rua abaixo… Depois de lhe espetar a faca
pegou nas duas malas que a vítima transportava, uma em cada mão, atirou-as
para dentro do carro e… pirou-se!…” – Ah, então o
senhor assistiu a tudo, hem? – inquiriu Lumafero atirando mais uma vez a sua moedinha ao ar fazendo-a
cair no bolso. – “…Sim, isto
passou-se acerca de cinco minutos. Eu tinha acabado de chegar do treino de
atletismo, que faço todos os domingos, no Campo do Seminário de Almada, de
manhã. Duas horas de preparação não fazem mal a ninguém, não é verdade?…” – Claro. – concordei. – “…Então –
continuou o seu depoimento o indivíduo – quando estacionei o meu carro, ali –
apontou para um carro vermelho – vi toda a cena… Saí apressadamente mas nem
consegui deter o assassino nem socorrer a vítima. Como verifiquei que já nada
havia a fazer dirigia-me ao meu carro para ir avisar a polícia do ocorrido
quando os senhores apareceram…” – O senhor
reside perto daqui? – perguntou Lumafero
brincando com a moeda. – Sim, além,
naquele prédio. – apontou com o indicador. – Bem, então o
senhor, se não se importa, o meu ajudante, acompanha-lo-á
à esquadra, no seu próprio carro, para prestar esses depoimentos. – indiquei. O sujeito
concordou e dirigiram-se para o carro deste. Lumafero
antes de entrar no veículo, mais uma vez, quis brincar com a moeda… Ela,
desta feita, contra as previsões do meu ajudante, foi cair no chão e rolou
para debaixo do carro vermelho. – Oh, falhou!
– proferiu surpreendido Lumafero.
E baixando-se, estendendo o braço lá apanhou a sua moedinha da sorte. – Uf!! Felizmente que não se molhou! Caíu
em lugar enxuto! – concluiu feliz. Despediram-se
e partiram. Depois dos
bombeiros e da poíicia terem tomado conta do corpo,
dirigi-me a esse tal Seminário, para confirmar se de facto qualquer cidadão lá
podia ir treinar atletismo. É que aquelas declarações do tipo não me
convenciam lá muito bem… Tive azar! O campo do Seminário existe de verdade e
situa-se mesmo num enorme Seminário onde alguns jovens se instroem com
destino à carreira eclesiástica… Abre às sete horas da manhã, todos os
fins-de-semana, para ser utilizado por qualquer cidadão. O campo de futebol é
muitíssimo antigo, muito mal tratado e sem relva!!!
Mas é nele e nos arredores que as pessoas podem praticar o desporto que
quiserem. Portanto, nada resolvi. O indivíduo estava a falar verdade. Quando me
reencontrei com o meu ajudante contei-lhe da pesquisa feita por mim no
Seminário… Ele, sorrindo, ao mesmo tempo que jogava a sua moedinha da sorte
ao ar, disse-me, quando a mesma caiu no bolso do casaco: – Já está… É
fácil! – É fácil? Já
está o quê?! – inquiri estupefacto. – A moedinha
no bolso, inspector! – disse
irónico Lumafero. – Então, não é
fácil!? Veja lá… – e repetiu a façanha por mais duas vezes. – Bem, deixa
lá de brincar e diz-me lá o que se passa… – interroguei. – Não! Vamos
para casa dos detectives que aquando do almoço
conversaremos, está bem? – aconselhou-me Lumafero ao qual obedeci. Concordei porque o caso estava
entregue à polícia. (…) Fiquei
pasmado com as conclusões do meu ajudante! Ele explicou-me o que na realidade
acontecera tintim por tintim, dizendo porque fora aquele sujeito do carro
encarnado o ASSASSINO!!! Os meus amigos
riram-se às gargalhadas quando verificaram a minha incapacidade de raciocínio
perante o caso que, de manhã, nos tinha sucedido… Era caso para
se dizer: “O INSP. RODRIGUINHO ESTÁ MESMO VELHO”!!! 1) – Concordam
com a conclusão de Lumafero em incriminar o sujeito
que disse se ter presenciado o crime? 2) – Em face
da resposta à pergunta anterior, justifiquem sem omitir nada, as vossas
opiniões. |
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© DANIEL FALCÃO |
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