Autor Data Setembro de 1983 Competição Iº Campeonatos Regionais de
Decifradores de Problemas Policiários e IIº Campeonatos Distritais de
Decifradores de Problemas Policiários 4ª Jornada Publicação (em Secção) Clube Xis [14] |
…EU ERA CRIANÇA ou O ROUBO DA BOLA DE
FUTEBOL O Gráfico Burgau, 21 de Junho dum ano qualquer… (…) Não me recordo exactamente do ano mas,
lembro-me perfeitamente que foi num Domingo, quando um dos rapazes do grupo
furtou a nossa linda bola de futebol, dos seis, comprada com o dinheiro que
tínhamos angariado com o peditório efectuado no dia de “Todos os Santos”, 1
de Novembro, do ano transacto! Até aquela
altura, sempre jogáramos com uma bola de trapos, feita pela irmã ínica do
nosso guarda-redes. Fomos seis
bons amigos… Digo fomos porque, hoje, já temos entre os 24 e 27 anos e cada
um está pelo seu lado, uns casados outros solteiros, sem nos relembrarmos dos
momentos felizes que passávamos juntos quando levávamos, ainda, entre os 9 e
os 12 anos de vida. Os seis formávamos uma belíssima equipa de futebol de
cinco e, na aldeia de Burgau, sempre fomos os melhores! Nos campeonatos das
aldeias, quando não ganhávamos, ficávamos no 2º ou 3º lugar. A nossa equipa
era quase imbatível e não queríamos mais ninguém além dos seis. Os três irmãos
do defesa-direito (este calçava sempre socas de madeira), Miguel, Luís e
Paulo bem quiseram pertencer a nossa equipa… Nunca tiveram hipóteses. Enfim,
recordo com saudade os meus tempos de criança. Sim, porque os maus tento
afastá-los… (…) Tudo se
desmoronou quando um de nós (tivemos a certeza na altura), roubou a nossa própria
bola de futebol!… Sempre soubemos quem foi… Jamais tivemos coragem para acusá-lo!
Preferimos acabar com a equipa porque findara a nossa união. Roubada a bola,
equipa desfeita, amizade corrompida. Todos tínhamos
alcunhas e nunca nos tratávamos pelo nosso próprio nome… Vejam só: O “Chateadinho”",
O “Mauzão”, O “Copo de Leite”, O “Benfiquista”, O “Craque” e O “Bonzinho”. O
meu apelido era “Mauzão”, ainda hoje não sei porquê, talvez por eu e o meu
irmão, o “Segundo Mauzão” andarmos sempre descalços. Os nossos pais pouco
dinheiro possuiam para nos comprarem sapatos. Por isso, nunca usufruímos
sapatos de lona como daqueles que o “Benfiquista” sempre usou. Aliás, todos
nos usávamos calçado diferente. Ainda relembro, não contando comigo, que os
outros calçavam: botas de cabedal, chinelos, botas de borracha, socas de
madeira e, claro, sapatos de lona que, como já referi, eram usados pelo nosso
defesa-esquerdo. Já vos falei
do nosso guarda-redes, dos dois defesas, direito e esquerdo, falta-me
dizer-lhes que o resto da equipa era formada por um médio e um atacante. O
sexto componente era o suplente. Sempre suplente. Mas jogava sempre!? Quando
entrava na equipa fartava-se de jogar e nem fazia lembrar os chinelos que
usava. Dos seis
apenas um era filho único. Um de nós tinha duas irmãs gémeas que se chamavam
Teresa e Patrícia. O médio era único mano do moço que tratava impecávelmente
e com dedicação do nosso equipamento. (…) Os calções
e as meias eram de cor branca. As camisolas azuis representavam as bonitas e
belas ondas do mar atraente que ininterruptamente se faziam, e fazem, ouvir
na querida praia de Burgau. A indumentária foi comprada em pano solto pelo pai
do atacante que era o sapateiro de Burgau e produzia as botas de cabedal para
os seus três filhos. Foi a costureira da aldeia, a senhora Maria quem deu
forma ao pano adquirido pelo senhor Alberto. As gémeas,
manas do suplente, acompanhavam-no sempre, em todos os jogos e gabavam-se
muito, as duas, de serem irmãs dele. Tinham multo orgulho nisso. Os jogos,
quer se realizassem em Burgau ou fora da aldeia, o suplente tinha sempre a
companhia das manas. E, assim que os mesmos terminavam, logo se dirigiam a
ele, a abraçá-lo e felicitá-lo! Nunca mais o largavam. Eu sempre joguei a médio
e, embora andasse descalço, no campo, era obrigado a calçar sempre os sapatos
próprios para o jogo. Quem se ria muito com as birras que em fazia para não
me calçar era o “Bonzinho” que, embora estivesse habituado às suas socas de
madeira, não tinha problemas nenhuns em calçar outro tipo de calçado. A mana
do “Copo de Leite” e este andavam em todo o tempo juntos e, quando nos
deslocávamos a qualquer lado ela levava sempre um farnel… Eu juntava-me aos
dois e íamos para qualquer lado petiscar. Ah, o “Copo de Leite” e o “Craque”
odiavam as botas de cabedal do atacante. O “Craque” não largava, nem por
nada, os seus chinelitos. O sr. Alberto, muito autoritário, quando os jogos
de futebol terminavam, pegava nos seus rapazes, os dois que assistiam e o que
jogava, metia-os na carroça enorme que possuia, puxada por dois burros, e iam
para casa. O “Chateadinho” nem sequer despia o seu equipamento. Ia sempre à
frente da carroça a mostrar-se a toda a gente. Por isso, o meu irmão, após
reunir todo o equipamento do grupo, no final de cada partida, incluindo a
bola, no dia seguinte, antes de o levar para a senhora Maria lavá-lo, lá
tinha que ir a casa do sapateiro buscar o equipamento do atacante. A bola era
guardada eternamente pelo “Segundo Mauzão”. A sra. Maria lavava os nossos
equipamentos sem cobrar dinheiro algum. Aliás, o mesmo sucedeu quando teve o
trabalho e a perícia de os coser. O
defesa-direito e os seus três irmãos, no final dos jogos, igualmente desapareciam
aproveitando a boleia no carro do primo Albertino. Albert, como lhe chamavam
os primos, já cumprira a tropa e era filho dum rico da cidade. Não apreciava
muito o futebol mas, com sacrifício, a pedido dos primos, lá se deslocava com
o seu carro a ir buscá-los. O meu irmão,
coitado, carregava sozinho com os equipamentos. Deslocava-se de aldeia em
aldeia no transporte público que passava pelas aldeias proveniente de Lagos.
Colocava sempre os equipamentos num grande saco de plástico. A bola nova
metia-a num saco de rede. Naquele jogo, o último que efectuamos juntos, tudo
se repetiu… O campo de futebol de 5 ficava num sítio isolado, no meio de árvores,
com estrada de asfalto perto, e como o jogo findara às 17 horas e o meu mano
só tinha camioneta às 18, depois de tudo arrumado, enquanto os assistentes iam
abandonando o campo, ele ia ficando só esperando pela camioneta… A
determinada altura sentiu necessidade de evacuar… Sem outra alternativa, deixou
os equipamentos e a bola junto à paragem e foi obrar por detrás de uma figueira!!
Era assim, em ocasiões como aquela!!! Nem sequer se preocupou com os
equipamentos… Não havia perigo, pensou. Estava só, a camioneta demorava oito
minutos para chegar, e a horas certas. Por isto não os vigiou… O descuido
foi-lhe fatal!… Ao regressar junto da paragem, notou a falta da bola!! E a
camioneta vinha já a chegar. Não tinha tempo para procurar o ladrão… Ainda
olhou em volta antes de embarcar e… nada! Só viu o campo de futebol e
árvores!… Mais tarde o
meu irmão narrou-me o ocorrido. De imediato, meditando, chegámos à conclusão
de quem tinha sido o ladrão… Não havia necessidade para o roubo mas aconteceu…
E assim se acabou tudo. Como o resto
se passou não interessa contar. Apenas pretendi recordar este episódio dos
meus tempos de criança para apresentar aos meus amigos Policiaristas, um
problema policiário de “Eliminatórias”!!! Deixo-vos,
pois, com duas perguntas: 1 – Quem
roubou a bola de futebol? Justifique. 2 – Indiquem para
cada um dos seis jogadores: A alcunha; o
tipo de calçado que usavam; a posição ou lugar a que jogavam na equipa; os
irmãos que tinham e explique como chegou a estas conclusões. |
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© DANIEL FALCÃO |
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