Autor

Pa Pu Sheio

 

Data

9 de Junho de 2013

 

Secção

Policiário [1140]

 

Competição

Campeonato Nacional e Taça de Portugal – 2013

Prova nº 5 (Parte II)

 

Publicação

Público

 

 

CUCURRU!...

Pa Pu Sheio

 

– Então, agora é que são horas de vires almoçar?

– Estive em casa do padrinho a vê-lo tratar dos pombos e a aprender coisas sobre columbofilia.

– Ora, os pombos… são ratos com asas que andam por aí e ainda lhes dão de comer.

– Oh, pai! Isso foi conversa do Woody Allen no filme Memórias em relação aos pombos da cidade, mas os pombos do padrinho são pombos-correio.

– E que diferença é que isso faz?

– Faz toda a diferença. Os pombos-correio não andam por aí à solta. São criados pelos columbófilos com todos os cuidados de higiene para os manterem com saúde. Por isso, são desparasitados e vacinados, como outros animais domésticos. Além disso, têm o sentido de orientação muito mais desenvolvido e são muito mais atléticos e elegantes do que os “vulgariços”, pois foram selecionados pelo homem para a competição. Com saúde e bem treinados, os pombos-correio de algumas linhas genéticas são capazes de voar para o seu pombal de locais a mais de 900 km de distância, num só dia, a velocidades superiores a 65 km/h. 

– Mas só servem para entreter columbófilos.

– Não é bem assim. O pombo-correio tem prestado valiosos serviços, como aconteceu na II Guerra Mundial. Alguns pombos-correio foram considerados autênticos heróis pela importância das mensagens que levaram ao seu destino, voando sobre as forças inimigas. Ainda há pouco tempo veio no jornal a notícia de que, em Inglaterra, quando estavam a limpar a chaminé de uma casa, encontraram o esqueleto de um pombo-correio morto em serviço na II Guerra Mundial. O bichinho ainda tinha com ele o invólucro com a mensagem que transportava escrita num papel semelhante a uma mortalha de tabaco. O padrinho diz que quando esteve na tropa ainda havia um pombal militar no Regimento de Transmissões. Em Portugal, há até a chamada Lei de Proteção ao Pombo-Correio que lhe atribui o estatuto de interesse público.

– Ah, ele disse isso?

– Também me disse que me dava um casal de borrachos, se o pai me fizesse um pombal no quintal.

– É melhor não pensares nisso.

– Oh, pai! Eu gostei tanto daquele casal de pombinhos, com uma pena de cor lilás, tão aveludada, eram tão bonitinhos!

– Já disse que não!

– Mas, oh pai, aqueles borrachinhos podem vir a ser grandes campeões. O padrinho disse-me que são filhos do seu melhor casal de azuis, os seus filhos têm tão elevada qualidade que ele até lhe chama o seu casal de ouro. E, já vê, um casal de borrachos filhos de campeões, em Portugal, já pode custar mais de 1000 euros.   

– O teu padrinho é um grande campeão e sabe muito de columbofilia, mas às vezes exagera.

– Ah, pois! E o que é que o pai sabe disso?

– O suficiente para te dizer que nem tudo é como ele te disse.

– Oh, pai! Não me diga que:

 

A – Não existiram pombais militares e que o pombo-correio não prestou grandes serviços durante a II Guerra Mundial;

B – Os pombos-correios não podem fazer uma média de mais de 65 km à hora, numa prova de 900 km;

C – Não há casais de pombos-correio que, em Portugal, podem atingir o preço de mais de mil euros;

D – Os borrachos que o padrinho disse que me dava não são filhos do seu casal de ouro!

 

– Ah, isso não sei. Em vez de estudares, passas tanto tempo ao computador, procura na net, que logo descobres.

– Está bem, “kota”…

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO