Autor Data 22 de Março de 2009 Secção Policiário [922] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2008/2009 Prova nº 6 Publicação Público |
CRIME AO FIM DA TARDE Paulo O
alerta foi recebido às 18h23. Às 18h28 chegou a PSP. Dez minutos depois a
Judiciária. Prédio
novo. Rés-do-chão e dois andares. No rés-do-chão duas lojas, só com porta
para a rua. Primeiro andar, ao qual se acedia por escadas, com cinco portas
para o corredor. Indo das escadas, à esquerda, o gabinete de um economista,
Rui Pio. A seguir o advogado Saul Rei. Do outro lado surgia um gabinete de
contabilidade onde trabalhavam José Pais, Adão Rito e Eva Paz. Depois o
consultório do médico Ari Leal. No topo do corredor uma porta onde dois
solicitadores tinham o seu escritório: Cid Leal e Luís Vaz. Cid Leal era a
vítima. No
andar de cima, igual configuração. Apenas havia um gabinete ocupado. O
consultório do dentista Gil Paz. Os restantes ainda por alugar. Portas
de madeira. Um pequeno óculo permitia ver quem tocava à campainha. O
inspector Ivo observou os dois andares a partir do
corredor. Depois entrou no gabinete dos solicitadores. Entrava-se
num vestíbulo com duas cadeiras e uma mesa. No chão, duas cápsulas de projéctil. De cada um dos lados, uma porta envidraçada, a
da esquerda partida, que deixava ver o interior de dois gabinetes parecidos:
uma secretária, uma estante com livros, um quadro, uma cadeira atrás da
secretária e duas à frente. No gabinete da direita a secretária estava
encostada à parede lateral. No da esquerda ficava frente à porta. Em cada
secretária havia o monitor de um computador. Ao lado uma pequena mesa onde estava
uma impressora. Cada
gabinete tinha uma janela fechada. No da direita via-se uma pequena estátua
de pedra, partida, sob a secretária. O da esquerda tinha um cadáver na
cadeira atrás da secretária. No chão desse gabinete havia vidros. Na
sua rotina, Ivo quis saber pelas pessoas o que se passara. Depois veria em
pormenor a cena do crime. Luís
Vaz disse que estava no seu gabinete. Ouviu um som que agora definiria como
um disparo feito com silenciador, ouviu vidros a partir, levantou-se
rapidamente e viu as costas de um homem que apontava a arma para o seu sócio.
Viu-o disparar outra vez. Não lhe viu a cara pois ele rodou rápido para a
porta de saída, abriu-a e fugiu a correr. Só então saiu do espanto e do seu
gabinete. Viu o sócio sangrando da testa, percebeu que, em consequência do
tiro que o atingira, estaria morto e telefonou para o 112. A sua experiência
em leis fê-lo manter a calma. Não entrara no outro gabinete para não apagar
vestígios. Por
volta das 17h15 o seu sócio tinha recebido um indivíduo muito exaltado.
Dizia-se familiar de alguém que sofrera uma penhora executada pelo seu sócio.
Viera protestar. Acudira alertado pela discussão. Ajudara a acalmar o
visitante. Quando voltara ao seu gabinete, os dois tinham ficado a fumar
calmamente um cigarro, conversando. Estivera a trabalhar concentrado. Não se
apercebera se o visitante saíra ou se entrara mais alguém. Cada gabinete
tinha uma campainha, com o nome escrito por baixo, que apenas soava no local
próprio. Às
17h40 abrira a porta à empregada que fazia diariamente a limpeza dos
diferentes espaços do edifício. Como o seu sócio estava ocupado ela nem lá
entrara, limpando apenas o vestíbulo e o seu gabinete. Ivo
mandou que os seus subordinados procedessem a averiguações sobre a empregada
de limpeza e procurassem a arma, e foi fazer um primeiro interrogatório às
outras pessoas que se encontravam no prédio. Subiu
ao andar de cima. Inteirou-se que entre as 17h30 e a chegada da polícia
ninguém entrara ou saíra do consultório. Havia um paciente num tratamento que
se prolongara mais que o previsto, enquanto duas mulheres aguardavam na sala.
A recepcionista estivera sempre no gabinete médico
enquanto as duas senhoras aguardavam cá fora. Rui
Pio encontrava-se sozinho. Por volta das seis tinha sido feita a limpeza do
gabinete. Depois a porta ficara fechada. A boa qualidade desta isolava bem o
som e não ouvira qualquer ruído, sendo surpreendido pela polícia. Foi
com este locatário que Ivo soube que ninguém gostava da vítima e do sócio.
Clientela de ar suspeito. Mas não só. O próprio Luís Vaz ainda na véspera, insultara e humilhara a empregada de limpeza. Ele já
encabeçara uma tentativa de expulsar os solicitadores, o que criara um clima
de animosidade, mas matar um deles, fora estratégia em que não pensara. No
gabinete de contabilidade foi confirmada a situação de conflito que Rui Pio
referira. Ninguém saíra do gabinete na última hora. Abriram a porta à senhora
Lia, para fazer a limpeza. Como à saída ia com as mãos ocupadas, Eva
abrira-lhe a porta. Ficara a vê-la deitar o lixo no saco que ficara no
corredor e a dirigir-se apressada para as escadas. Eram quase seis e vinte.
Olhara para o relógio num gesto intuitivo ao ver a pressa da outra. Os
outros dois gabinetes estavam vazios naquela tarde. Entretanto
chegou a informação que a senhora Lia apanhara o autocarro das 6h25 como de
costume. Afirmou que depois de sair do gabinete de Rui Pio voltara ao fundo
do corredor para acabar a limpeza. Tocara numa das campainhas. Ninguém
atendera, e, como a porta só abria por dentro, desistira. Tinha pressa de
apanhar o autocarro. No caminho deixara o lixo no contentor. Hoje estava
pesado. O solicitador tinha-lhe mandado deitar no lixo metade de uma estátua
partida que já assim estava no gabinete havia tempo. Duas vizinhas atestaram
ter viajado com ela. De
novo na cena do crime, Ivo observou a testa da vítima. Uma ferida em estrela
com os tecidos circundantes esfacelados e a pele chamuscada em redor. Não viu
mais ferimentos. Na parede atrás havia um orifício com uma bala incrustada.
Na secretária duas folhas de papel, uma caneta e um cinzeiro limpo. No
caixote do lixo, dois papéis brancos amarrotados. Entretanto
chegou a notícia que a arma não fora encontrada no edifício nem nas pessoas.
Na loja de baixo tinham ouvido o som de vidros a partir-se em cima, cerca das
seis e vinte. A
câmara de vídeo da entrada mostrava um homem a sair às 18h02, Lia às 18h21
Ninguém entrara depois das 17h30. Da
PSP informaram que Cid telefonara às 18h02, um telefonema de 2 minutos, para
saber quem seria o agente que o acompanharia no dia seguinte na execução de
uma penhora. A
janela de Luís dava para a rua. Em frente a esquadra da PSP. Um agente sempre
à porta que nada notara de estranho. A janela de Cid dava para um terreno nas
traseiras. Cercado devido a obras. A arma também lá não estava. Fora muito
difícil aceder a esse espaço. O
caso parecia claro para o inspector Ivo. Quem
acha que cometeu o crime, como e quando? |
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© DANIEL FALCÃO |
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