Autor Data 10 de Dezembro de 2023 Secção Publicação Blogue A Página dos Enigmas |
O MISTÉRIO DA CASA DE PENHORES Paulo Em
tempos, abundaram pelas cidades deste país. Atualmente, escondidas sobre o
eufemismo de “Prestamista” e “Empréstimos Rápidos”, continuam a existir
“Casas de Penhores”, alimentadas pela crise económica e pela necessidade de
se conseguir dinheiro rápido. Leva-se uma peça de ouro, prata, ou qualquer
outra joia ou objeto valioso, recebendo-se em troca um valor monetário, regra
geral muito abaixo da valia do objeto entregue, sempre na esperança, muitas
vezes vã, de mais tarde o resgatar. A
“J.P. Prestamista”, sedeada em Lisboa, tinha nos últimos anos visto aumentar
o seu volume de negócios. O proprietário, que durante alguns anos trabalhara
apenas com um funcionário, tinha sentido a necessidade de arranjar mais dois:
contratos de seis meses renováveis (mais um sinal da crise). Quando
Alberto Pereira, filho do fundador J.P., chegou naquela manhã ao
estabelecimento, após chamada telefónica de Carlos Ferreira, já a polícia lá
se encontrava. Tinha
ocorrido um assalto. A
porta do estabelecimento fora aberta por Luís Gomes, que entrava às oito e
meia preparando a abertura ao público, que ocorria às nove horas. Segundo
contava, quando se preparava para entrar, aproximaram-se dele, rapidamente,
dois indivíduos que, apontando-lhe uma arma, se tinham introduzido com ele no
estabelecimento, fechando a porta da rua. Amarraram-no
com as mãos atrás das costas, ataram-lhe os pés, amordaçaram-no, deixando-o
quase sufocado, e colocaram-no numa arrecadação que ficava ao fundo do
corredor. Antes, tinham-no obrigado a desligar todos os alarmes e as câmaras
de vigilância, assim como a dizer onde se guardavam os registos das mesmas.
Também o tinham obrigado a abrir as portas dos compartimentos onde eram
guardados os objetos penhorados. Depois, ficara encerrado no cubículo,
ouvindo mexer em gavetas e vitrinas, até que se fizera silêncio. Quando mais
tarde se apercebeu de novo ruído, pensou que seria o seu colega que chegara.
Chamou-o e depois foi libertado. Tinham então telefonado ao patrão e, por
ordem deste, à polícia. Na
zona de atendimento público havia uma porta, mantida sempre fechada por uma
mola. Dava para o interior, onde existia um corredor com duas portas nas
paredes laterais, uma para cada um dos lados, abertas, que permitiam o acesso
a compartimentos pequenos, onde se acumulavam os objetos penhorados: uns em
cofres, que não tinham sido arrombados, e outros em gavetas, de móveis altos
e estreitos, que tinham sido totalmente esvaziadas. O segredo dos cofres
apenas era conhecido por Alberto Pereira. Ao
fundo do corredor, ficava a arrecadação onde se guardava, essencialmente,
material de limpeza. Havia também um escadote, e existiam algumas lâmpadas
para substituição das que ficassem inutilizadas. Viam-se as cordas usadas
para amarrar Luís, assim como o pano da mordaça. Quer a mordaça, quer as
cordas, tinham evidentes vestígios de terem sido alvos de um objeto cortante. Segundo
Alberto Pereira, não tinham sido roubadas joias de grande valor ou as grandes
peças de ouro, que se encontravam nos cofres, não se podendo dizer o mesmo de
algumas das de prata, ou outro tipo de objetos menos valiosos que estavam nas
gavetas e vitrinas. As
câmaras de filmar tinham sido completamente destruídas, assim como todos os
seus registos, não sendo possível confirmar a que hora os ladrões tinham
abandonado o estabelecimento. Carlos
Ferreira, o funcionário que entrava às nove horas, afirmara ter achado
estranho não ver o colega na loja quando entrou, mas às vezes acontecia.
Abrira a porta que dava para o corredor, espreitara pelas portas, que
estranhamente se encontravam escancaradas, e vira as gavetas abertas, do chão
até ao teto. Imaginou logo que houvera um assalto. Voltara à zona de
atendimento, para telefonar ao patrão, quando ouvira o colega a chamá-lo da
arrecadação. Acorrera, tentara cortar as cordas, mas não conseguira. Ainda
tivera que voltar à zona de atendimento em busca de uma tesoura que lhe
permitisse cortar as cordas e a mordaça, que estavam com os nós muito
apertados. Só depois tinha telefonado. Havia
um outro funcionário, mais antigo, Guilherme Lopes, que apenas trabalharia a
partir da uma hora da tarde (o estabelecimento não encerrava à hora do
almoço) e que ainda se encontrava em casa. Quando
chegou, chamado pelo patrão, ficou mudo, sem palavras, sentindo-se mal. A
família confirmara que ele não saíra de casa até ser chamado por Alberto
Pereira. Ainda
nesse dia, os responsáveis pelo assalto foram detidos, presentes a um juiz,
tendo ficado a aguardar julgamento em prisão preventiva. Pede-se que os leitores expliquem
quais foram as pistas que permitiram à polícia resolver o caso tão
rapidamente. |
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© DANIEL FALCÃO |
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