Autor

Pedro Manuel Calvete

 

Data

22 de Abril de 2021

 

Secção

Policiário [68]

 

Competição

Torneio do Centenário do Sete de Espadas

Prova nº 2 – A

 

Publicação

Sábado [886]

 

 

Solução de:

UM CASO ANTIGO

Pedro Manuel Calvete

 

(Como se recordam, o problema terminara com a ordem de prisão dada pelo inspetor Macedo à suposta testemunha do crime. O relato dos eventos continuava assim:)

O agente da GNR não hesitou: o Manuel Vinagre, mais surpreendido do que outra coisa, foi expeditamente algemado; e o guarda solicitou de imediato pelo telemóvel o regresso do jipe da corporação “para – como disse num tom algo triunfante – conduzir ao quartel o presumível autor do crime”. Não tardaram muito os seus colegas a aparecer para cumprir a incumbência, já que – como o inspetor fez questão de lhe lembrar – as ordens dele se mantinham: ficar a vigiar a cena do crime.

Mal os colegas levaram o detido, o agente não se conteve:

– Desculpe, senhor inspetor, mas porque acha que foi ele?

O inspetor esperava a pergunta. Já sabia que, sem ser abelhudo, o jovem não era do tipo de reservar opiniões – certamente que também não curiosidades.

– Tínhamos um corpo, mas não arma do crime, nem homicida. Se o que o homem tinha dito fosse verdade, ele teria visto a fuga do assassino, e com ele, a arma… como o rasto de sangue a caminho do terreiro parecia indicar. Mas o crime foi cometido com aquela foice – o inspetor apontava para a fotografia que ampliara no ecrã do seu telemóvel – e, portanto, se saiu deste celeiro, e saiu com certeza para pintalgar o chão lá fora, voltou a entrar. Um sujeito imaginativo esse Vinagre…

O agente da GNR debruçou-se sobre o telemóvel, esperando certamente ver alguns vestígios de sangue. O inspetor Macedo interrompeu-o:

– Nós não vemos, mas as varejeiras sim. É uma das histórias que nos contam em Criminologia, vem do primeiro manual para médicos legistas – feito no século XIII, na China, imagine. Se procurar na Internet encontra uma história como esta – é qualquer coisa como “Cases of injustice rectified”. Deve ter sido a primeira vez que as varejeiras revelaram a arma do crime. Não deixe ninguém aproximar-se das foices: vou pedir à equipa forense que venha recolher a prova principal.

© DANIEL FALCÃO