Autor Data 2 de Novembro de 2016 Secção Publicação Audiência GP Grande Porto |
BILL, O PESCADOR Pena Cova A ação decorre algures num
longínquo país tropical, num local que os folhetos turísticos distribuídos em
profusão por quase todos os países ricos da Europa ocidental e por terras do
Tio Sam descrevem como: “Um rio imenso, de águas
profundas, amenas e cálidas. Centenas de metros separam as duas margens. Uma
densa, húmida e verde vegetação, que se espraia água adentro, cobre
completamente a margem esquerda. A margem direita é servida por uma extensa
praia de areia fina e por um pequeno cais de recreio”. É neste lugar quase
paradisíaco que nas últimas três semanas um poderoso magnata americano, “Bill
qualquer coisa”, se dedica todas as tardes ao seu passatempo favorito: a
pesca. Quando ele chega para a sua pescaria de todos os dias, normalmente
tanto os turistas como os indígenas estão estrategicamente recolhidos, à
sombra das esplanadas dos cafés e dos restaurantes da vila. Esta tarde, Bill vem
tranquilo, sereno, bem-disposto e alegre, como sempre, trauteando uma canção.
Ele não ouve absolutamente nada para além dos sons que o rio emana e do
mágico cantar dos pássaros. Nem um simples barco a motor, a remos, ou
qualquer outro tipo de embarcação, nada! Repetindo o seu ritual de todos os
dias, Bill prepara calmamente as canas e senta-se de frente para a outra
margem do rio à espera que o peixe morda o isco. O silêncio é quase absoluto.
Ele apenas consegue ouvir o borbulhar das ondas e o som da passarada. De repente, cai para o
lado. Uma bala no peito. Só não morre por muita sorte. O tiro, de carabina, é
ouvido em quase toda a vila. A população residente e os
forasteiros aparecem cerca de quinze minutos depois e nada veem. Bill também
nada viu porque nada podia ver. Soube-se depois que a bala
que o atingiu foi disparada de uma distância não superior a cinquenta metros.
Pergunta-se: Como foi
cometido o crime e por que razão não viu Bill o criminoso? |
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© DANIEL FALCÃO |
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