Autor

Peter Pan

 

Data

7 de Julho de 1977

 

Secção

Mistério... Policiário [121]

 

Competição

Torneio “4 Estações 77 | Torneio C – Verão

Prova nº 1

 

Publicação

Mundo de Aventuras [197]

 

 

O ÚLTIMO CONCERTO

Peter Pan

 

A luxuosa sala de concertos encontrava-se repleta de público. Aquela massa compacta de gente esperava ansiosamente pelo maestro e pelo concertista. Depois de alguns momentos de impaciência, entra o maestro trajando a sua habitual casaca de grilo, seguido pelo solista e logo uma chuva de aplausos desabou sobre eles. Michael Gurirov, depois de agradecer os prévios aplausos e de sentar-se ao piano, concentra-se na peça que vai executar (o Concerto n.o 1 para piano e orquestra, de Peter Tchaikovsky, em si bemol menor).

Cá fora, entretanto, nos bastidores, alguém conspirava… E de que maneira! A morte do grande artista que, agora ao piano se preparava para tocar a obra daquele concerto, estava prestes a ser consumada, devido ao plano de um cérebro homicida… Embora ninguém o sentisse, a morte pairava no ar quando o maestro deu o sinal para que se iniciasse o concerto…

 A música era bela e o auditório seguia-a embebido num êxtase profundo. A orquestra, o maestro e o solista, pareciam reunir-se num só, como um quebra-cabeças depois de resolvido…

A meio do concerto, e quando se tocava o segundo andamento, o concertista ao atingir a 8.a nota na mão direita daquele andamento, provoca o inesperado: a explosão do piano e a sua consequente morte num pulverizar horrendo…

 Gera-se a confusão e o terror. A máscara do pânico era patente nos rostos daquelas pessoas. Para além da morte do pianista e de alguns feridos na orquestra, nada mais havia a lamentar do que os estragos materiais. As ambulâncias acorriam ao local, tocando com alarme as sereias pelos locais por onde passavam. E com elas, a Polícia, claro, para proceder às investigações do atentado.

Depois de ter mandado evacuar a sala, um senhor de bloco de apontamentos, de olhar arguto e a que nós chamamos de inspector, dirigiu-se para o local da explosão. Polovsky (era como se chamava o inspector), encontrou então aí três pessoas que trocavam impressões e em breve compreendeu porque é que essas pessoas não tinham saído com a multidão do anfiteatro…

Uma dessas personagens, era o senhor Lomebym, subdirector do teatro; outra delas, era um dos componentes da orquestra (fagote na mesma) e a terceira personagem era o sr. Robic, ilustre técnico de afinação de pianos. Polovsky falou com eles e estes disseram-lhe:

Sr. Robic – Nunca vi nada como isto, é assombroso! Antes de se iniciar o concerto, estive a dar uns retoques na afinação do piano durante um certo tempo e não vi nem ouvi nada de suspeito que justificasse tão abominável crime. É certo que fui lá somente para afinar o piano e não para encontrar qualquer bomba que lá se encontrasse. No entanto… – parou um pouco, com a testa enrugada em imperceptíveis reflexões, paro depois prosseguir – sim, agora me lembro! Quando estava a dar os «retoques» no piano e ao tocar inadvertidamente numa nota, pareceu-me que esta tinha um som estranhamente cheio. Como já faltava pouco tempo para o concerto começar e como me pareceu que isso não poderia afectar de modo algum o bom funcionamento do instrumento, não liguei importância. Se isto ajudar em alguma coisa…

Sr. Lomebym – O director que se encontra no estrangeiro, tem de ser quanto antes informado do que se passou. Parecia tudo correr pelo melhor. Tínhamos uma grande orquestra e um grande pianista. Quanto ao que disse aqui o sr. Robic, acho que ele tem razão em referir aquele bemol, porque poderá ser uma pista… Penso que, e voltando ao que estava o dizer, o director deve ter isto no seguro, mas de qualquer modo não paga de maneira nenhuma a morte do grande artista – as palavras que pronunciou a seguir foram de uma solenidade pesarosa: – O animal racional chamado homem tornou-se criminoso! A sua natureza tornou-se contrária a si mesma! O nome de Homem também! É por isso que sucedem coisas assim hoje em dia…

O elemento da orquestra – Que tristeza, inspector! Morreu aqui um dos melhores pianistas do mundo. Tenho vários camaradas da orquestra feridos, sem gravidade, felizmente, pelo que consegui apurar. Eu próprio tive sorte em sair ileso da explosão. Este crime não pode ficar impune! Tudo isto é um atentado à sociedade. Este crime terá uma grande repercussão tanto nacional como internacional. Portanto, peço-lhe que resolva o caso o mais depressa possível.

Depois desta breve conversa, o inspector continuou a pesquisar por ali, sem no entanto ter apurado algo de interesse.

Devo dizer, em nota à margem, que meses depois, o caso foi encerrado pois o criminoso, surpreendentemente, entregou-se às autoridades. Com certeza que o desespero e a tensão de poder vir a ser descoberto, e os remorsos pelo crime cometido, influiram em ter-se entregado. Ainda hoje, o criminoso, em sua cela, ouve às vezes um piano a tocar aquele concerto de Tchaikovsky, que vai ter de ouvir durante muito tempo…

 

PERGUNTA-SE:

1 – Quem foi este criminoso? Justifique adequadamente a sua resposta.

2 – Qual foi a nota «mortal» que o pianista tocou?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO