Autor Data Março de 1978 Secção Enigma Policiário [24] Publicação Passatempo [46] |
DRAMA NO CIRCO Rei Artur O Inspector Ricardo ia, enfim, deliciar-se com o seu espectáculo favorito. Raras vezes o nosso distinto
investigador se resolvia a sair de casa com o fim de se divertir, mas naquela
noite, sua mulher conseguira convencê-lo sem grande custo a ir ao circo, pois
ele, certo da presença dos famosos trapezistas «Os Joeys
Voadores», não teve dúvidas em aceder ao pedido formulado. No centro da
altíssima abóbada, seguros por fortes cadeias, pendiam bem espaçados três
reluzentes trapézios, 2 maiores e outro, no meio, mais curto e mais estreito.
As palmas ressoaram fortes e quentes saudando com alegria a entrada dos três
magos voadores, os quais subindo rapidamente pelas escadinhas de corda se
colocaram nos respectivos baloiços, a fim de
iniciarem o espectáculo que todas as noites emocionava
os assistentes, mercê dos seus perigosos e rápidos volteios através do espaço
vazio e sem rede. As luzes que
brilhavam apagaram-se dando lugar aos focos luminosos dos três projectores. O velho inspector
recostou-se melhor no estofo da cadeira e observou a saída de Mary, que
estava junto de Carlton, em direcção
ao trapézio do meio onde se suspendeu no espaço com os dedos bem fincados no
pequeno travessão de metal. O seu corpo
esbelto baloiçava-se no espaço, livre, com o trapézio sobre si. E logo rápido
como uma flecha Carlton passara para o lado de Harris, e este imediatamente ocupou o lugar contrário
revolteando-se no espaço. Mary, sem mudar de posição, fazendo balanço, seguiu
em direcção a Carlton que
a segurou e a dirigiu, depois de rápida flexão, para o companheiro que a
recebeu e a projectou em veloz sincronização para o
suporte do meio, onde ela se manteve, como anteriormente, em excepcional suspensão, esperando as mãos do seu parceiro.
Carlton e Harris, entretanto,
cruzaram o espaço e trocaram de posição, realizando em seguida nova troca de
lugares. E foi quando a linha Mary seguiu em direcção
ao seu comparsa que a tragédia se consumou!… Este
depois de a receber tentou um balanço, mas… Foi
precisamente nessa altura que os espectadores gritaram um «Jesus!» horrorizados. A linda voadora
estatelara-se no chão, exangue e sem vida. Horas depois os dois trapezistas,
em câmara ardente, velavam o corpo daquela que fora sua companheira e os
ajudara a conquistar a fama e a riqueza. O Inspector Ricardo, mercê da sua qualidade oficial,
mantivera-se junto dos infelizes trapezistas, a fim de averiguar algo que
pudesse justificar aquela morte desastrosa e, por isso, na primeira altura,
fez algumas perguntas. Carlton, desanimado, só
conseguiu murmurar, cabisbaixo, que Mary certamente perturbada o largara e
que não tivera possibilidades de a segurar. Acrescentou,
respondendo a outra pergunta, que não conhecia razões que a pudessem levar ao
suicídio. Harris nada pôde adiantar. Declarou que,
quando a sua companheira caíra, se encontrava em volteio aéreo e que por isso
não tivera oportunidade de lhe observar o semblante, não podendo, por
consequência, adiantar nada sobre o caso. Já em casa, o Inspector Ricardo, entre o pedaço de uma loira torrada e
um trago de leite bem quente, anotou no seu caderno de apontamentos: UM DELES
MENTIU! |
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© DANIEL FALCÃO |
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