Autor Data 20 de Maio de 2021 Secção Policiário [72] Competição Torneio do Centenário do Sete
de Espadas Prova nº 3 – A Publicação Sábado [890] |
Solução de: VINHO, CIÚMES E MORTE Rigor Mortis Enquanto
conduzia de regresso, o inspetor Pedro Malcato
alinhou os seus raciocínios: “À
partida, suspeitos são quatro, mas as evidências apontam para um culpado
apenas. Sei quem é e porque tem de ser ele, mas há que encontrar provas
materiais irrefutáveis… Talvez alguma impressão digital na faca, ou resíduos
de sangue nas roupas.” “É
muito improvável que tenha sido a Sónia a matar a Clara. Não apenas pela
amizade de 20 e tal anos que as unia, mas também porque ela não tinha razões para
tal, nem ganhava nada por o ter feito.” “A
Anabela? A garota tem manifestamente uma atitude de revolta e de sobranceria,
mas é contra todos os adultos que a mantêm aprisionada naquela quinta, não dirigida
propriamente à mãe. De qualquer modo, matá-la não era grande solução para se
libertar… Se a Polícia descobrisse que tinha sido a assassina, perderia todo
o direito a herdar a quinta. Até suspeitas de ter sido a assassina fariam
desvalorizar em muito a propriedade… De resto, nem sequer teve a oportunidade
de cometer o crime. Os tais Rui e Beto irão
facilmente comprovar que ela terá estado com eles até depois das cinco horas,
e o António e o Aniceto já disseram que ela só chegou a casa às cinco e meia,
quando o magricela estava a telefonar para a Polícia.” “Muitas
coisas apontam para o António… Disputava a Clara com o Aniceto, talvez
receasse que o facto de este ser mais novo levasse a dona da quinta a optar por
ele. Os ciúmes são muitas vezes um aguilhão terrível! Tinha as chaves do
armário onde a faca estava guardada e ficou bem atrapalhado quando perguntei
quem as tinha! Poderá ter matado a Clara ao regressar do portão, antes de o
Aniceto ter entrado na adega… Difícil… Não! A Sónia viu-o dirigir-se a pé
para o portão da quinta, às cinco horas. Mesmo que não tivesse levado mais do
que um quarto de hora a ir e voltar do portão, teria só três ou quatro
minutos para ir até ao fundo da adega, apanhar a faca no armário, dirigir-se
à Clara e matá-la. Ela notaria os movimentos dele, necessariamente bruscos e rápidos,
talvez mesmo precipitados, e teria provavelmente assumido alguma atitude
defensiva…” “O
Aniceto estava igualmente a sentir o terrível aguilhão do ciúme… E foi o
único que verdadeiramente teve a oportunidade para cometer o crime, nos 15 ou
20 minutos entre a chegada do António a casa e o seu regresso do portão. E há
um facto indesmentível – o Aniceto mentiu nas suas declarações! Ele não podia
ter estado a regar as plantas depois da chegada do António a casa… O jeep tinha parado com as rodas da
frente a esmagar a mangueira, a água teria deixado de jorrar ou, no mínimo, o
fluxo teria baixado tanto que ele se teria dirigido à torneira para ver o que
se tinha passado!” “O
Aniceto estava de facto a regar as flores, roído de ciúme ao ver a Clara
entrar na adega. Ouviu chegar o jeep
ao outro lado da casa e, conhecedor de que o António ia sempre até ao portão
buscar o correio, entrou imediatamente na adega, sabendo que a Clara estaria
a vistoriar as cubas e o armário onde estavam as facas estaria aberto, como
habitualmente…” “Lá
que foi assim, foi! Resta prová-lo materialmente…” |
© DANIEL FALCÃO |
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