Autor Data Julho de 2005 Publicação (em Secção) |
OITO À MESA Rip Kirby Era
um grupo de amigos de longa data que, habitualmente e desde havia muitos
anos, se reuniam mensalmente para um jantar que, de forma rotativa, se
realizava em casa de cada um deles. Naquela
noite, o convívio efectuava-se em casa de um dos
amigos que enviuvara havia três meses e, não fosse a forte trovoada que
pairava sobre a cidade, podia-se afirmar que tudo corria normalmente. Quando
já estavam na sobremesa, um tremendo trovão antecedido uma fracção de segundo por um relâmpago fez estremecer a sala
e calou momentaneamente todas as conversas. Simultaneamente
as lâmpadas apagaram-se e, durante algum tempo, a sala ficou imersa na
escuridão, apenas quebrada pela luz dos relâmpagos que a espaços iluminavam o
céu e a terra. Era uma daquelas tempestades de Verão que acontecem por vezes
e por isso todas as janelas estavam abertas. Todos
se mantiveram sentados à mesa e as conversas continuaram animadas, depois que
se refizeram do pequeno susto que o trovão provocara. Depois,
os trovões passaram a ser mais espaçados e, passados cerca de 25 minutos, a
iluminação eléctrica voltou. Mas, surpresa das
surpresas, um dos convivas estava tombado sobre a mesa, com a cabeça dentro
do prato da sobremesa. Primeiro,
todos pensaram que se tratasse de uma brincadeira mas, depois de alguns
apelos inúteis para que o referido conviva acabasse com a brincadeira,
concluíram que ele estava desmaiado. Quando se preparavam para chamar um
médico, um dos convivas, depois de examinar a pessoa inanimada, disse que não
valia a pena e que o melhor seria chamar a polícia, pois o amigo estava
morto. Haviam
passado cerca de 30 minutos, depois de ter sido tomada esta decisão, quando o
Inspector Eduardo Trindade chegou ao local
acompanhado pelo seu ajudante de sempre e amigo de infância o sargento
Silveira. Imediatamente
iniciaram as averiguações. A
mesa onde o jantar havia decorrido tinha cerca de 2m de comprimento por 1m de
largura, encontrava-se no centro de uma grande sala e estava rodeada por oito
cadeiras, sete das quais agora vazias, uma a cada cabeceira e as restantes
divididas igualmente por cada um dos lados laterais. Em
cada canto da sala, talvez para disfarçar o cheiro dos charutos, havia um
queimador de essências, de onde saíam ligeiras colunas de fumo. No
chão ensanguentado sob a mesa, num ponto que coincidia com o centro desta,
encontrava-se uma cápsula de bala e, não muito longe, junto dos pés do morto,
a pequena pistola que disparara o tiro fatal e uma luva de borracha. Ao
interrogatório feito pelo Inspector Eduardo
Trindade aos sete sobreviventes do trágico jantar, estes responderam de uma
maneira confusa e só com a paciência do sargento Silveira foi possível fazer
o relatório do qual extraímos os seguintes elementos que passo a apresentar. 1
– O morto vestia fato de cor bege, usava gravata verde e estava sentado à
direita do Vítor. 2
– O Óscar usa fato às riscas, camisa roxa e sentava-se em frente ao Januário. 3
– O Januário usa camisa lilás, está sentado entre o Vítor e o Alberto, que
veste um fato azul claro, e tem uma gravata vermelha. 4
– Na cabeceira da mesa, à direita de Alberto, esteve sentado o conviva de fato
castanho e camisa verde, que tem na sua frente o Francelino que veste um fato
verde Azeitona e usa camisa às riscas. 5
– O Paulo, que veste fato cinzento e camisa bege, senta-se numa lateral da
mesa e está diagonalmente oposto ao conviva do fato preto e camisa branca. 6
– O Etelvino que tem gravata amarela ficou sentado entre o Paulo e o Alberto. 7
– O conviva da camisa roxa sentou-se frente ao morto e entre o Paulo e o
Felisberto que usa camisa de xadrez. 8
– O convidado do fato azul-escuro e gravata de riscas, tendo à sua direita o
Francelino, está sentado no canto da mesa diagonalmente oposto àquele em que
se encontra o amigo da gravata vermelha e camisa amarela. 9
– O Vítor usa fato e gravata pretos e está sentado entre o Francelino e o
Januário. 10
– A autoria do disparo não pertenceu ao Etelvino, nem ao Francelino que usa
uma gravata branca. 11
– O conviva da gravata azul está sentado à esquerda do Óscar que usa gravata
com flores. 12
– Curiosamente, apenas o Alberto e o seu parceiro da esquerda eram
canhotos. Na
arma que, posteriormente se soube, pertencia ao morto e estava desaparecida
havia já alguns meses, não foram encontradas impressões digitais recentes. As
encontradas pertenciam ao seu proprietário. O
relatório da autópsia, abstraindo-nos dos termos técnicos, dizia mais ou
menos o seguinte: “A bala entrou no abdómen da vítima ligeiramente à direita,
formando a sua trajectória um ângulo de cerca de 35
graus, perfurou o estômago e ficou alojada no rim do lado esquerdo. A morte,
que teria ocorrido cerca de 20 minutos após o disparo, ficou a dever-se a
forte hemorragia. A vítima ficou inanimada após o tiro.” Pergunta-se: 1
– Quem foi a vítima, como estava vestida e em que lugar da mesa estava
sentada? 2
– Quem foi o autor do disparo, como estava vestido e onde estava sentado? 3
– Quem é o dono da casa, como se veste e onde se sentou? 4
– Quem são, como se vestem e onde estão os outros convidados? 5
– Como e quando teria sido praticado o crime? 6
– Justifique a sua resposta à pergunta anterior. |
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© DANIEL FALCÃO |
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