Autor

Rip Kirby

 

Data

1 de Setembro de 2013

 

Secção

Policiário [1152]

 

Competição

Campeonato Nacional e Taça de Portugal – 2013

Prova nº 8 (Parte I)

 

Publicação

Público

 

 

O ÚLTIMO CASO DO INSPECTOR TRINDADE

Rip Kirby

 

O Insp. Trindade atendeu o telemóvel. Escutou, respondeu. Mandem a brigada, já lá vou, desligou dizendo para mim: acabou o recreio, mataram o Meneguci.

Vicktório Meneguci veio para Portugal em 1960. Em Itália era desenhador, no nosso país enveredou pela moda. Opção acertada, não muitos anos após já existiam os ateliês “Império da Moda”, onde a elite se acotovelava. O ateliê ocupa um quarteirão, forma um cubo de faces revestidas de espelhos. A meio das arestas há uma larga porta recolhida da face do edifício, formando nichos. Numa das paredes de cada nicho, há janelas para o exterior e interior, localizando-se aí o gabinete dos vigilantes. Na outra há cabines telefónicas para uso dos clientes. No interior a partir das portas, formados por vitrinas, partiam largos corredores, cortados por outros, que se estendiam até à porta oposta.

A crescente fortuna levaram-no a chamar para Portugal Giovanni, seu sobrinho e herdeiro para, no futuro, o substituir na direção do negócio. Um letreiro indicava; “SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS”. Trindade empurrou a porta e entramos num gabinete, uma jovem indicou-nos onde estava o sargento. Entramos na Sala de Espera. Silveira, e um individuo, de aspeto requintado, conversavam. Silveira dirigiu-se nos dizendo: “Todas as portas escadas e elevadores estão vigiados”. Muito bem respondeu o Insp. e lançando um olhar ao janota fez um sinal que o sargento entendeu e apresentou-os.

Giovanni teria 1,75m o rosto bem barbeado tinha um tom azulado. Trajava com requinte.

Frente à porta por onde entramos havia outras duas, envidraçadas em cujos vidros, gravados o nome de Vicktório na porta da esquerda. Na outra o nome de Giovanni. Silveira levou-nos ao gabinete de Vicktório.

O Insp. olhou o corpo que se encontrava estendido no chão. Um cinto de seda azul, fortemente amarrado no pescoço, rosto arroxeado, olhos esbugalhados e a língua exageradamente saindo da boca eram os sinais de qual a morte.

O Insp. dirigiu-se a uma porta frente àquela por onde entráramos. Dava para um corredor que comunicava com o exterior. Ali havia um vigilante da empresa e um agente da PJ. Era a entrada do pessoal superior. Outra porta semelhante à de Vicktório dá acesso ao gabinete de Giovanni. Voltamos para o gabinete da vítima, o corpo já tinha sido levado. Na parede da direita, vindo da sala de espera, há uma porta. Silveira apontou-a: Há ali um corredor ao fundo do qual há outra porta que dá para o gabinete de Giovanni. De cada lado desse corredor há um banheiro e um quarto de vestir. Esta porta estava fechada com chave que estava na mesa da vítima. A porta do lado oposto está fechada pelo lado do corredor.

O chão do banheiro de Vicktório está molhado e no lixo há lenços de papel, manchados de vermelho. O guarda-roupa de Giovanni está repleto de fatos. No chão junto deste está uma toalha de banho usada. As únicas impressões digitais encontradas foram as da vítima.

O médico legista afirma que a morte ocorrera, aproximadamente, uma hora antes do alarme.

Silveira passou umas folhas a Trindade: O resultado dos interrogatórios que Trindade foi lendo e passando-as para mim. Giovanni encontrou o corpo, quando chegou ao escritório às 11 horas, informação confirmada pelo vigilante, e encontrou o tio naquele estado. Telefonou para a polícia. O mesmo vigilante afirmou que o patrão havia entrado às 10h.

Clarisse, a secretária chegou às 9 horas, confirmado no cartão de ponto. Pouco depois chegou uma jovem pedindo uma entrevista com Vicktório. Trazia um cartão de Giovanni mandou-a para a sala de espera. Esta declaração foi confirmada pelo porteiro do lado Sul que viu entrar a jovem tendo acrescentado que ela mal se equilibrava nos saltos dos sapatos. O patrão costumava chegar às 10 e nessa altura tocava uma campainha, o que não aconteceu nesse dia, para ela lhe ir dar conta do serviço. A jovem visitante era mais alta do que o normal em mulheres e envergava um vestido azul. Sem ser feia tinha umas feições grosseiras e nem o pó que lhe cobria o rosto disfarçava o tom escuro da pele. Às 11h02m foi chamada pelo porteiro da porta nascente para atender uma chamada nos telefones para serviço dos clientes. As chamadas para ali não eram transferidas para o escritório. Não estava ninguém no outro lado. O porteiro confirmou estas declarações e afirmou que a chamada era de um homem. Às 11h04m o porteiro do lado poente atendeu uma chamada de um homem que não se identificou. A ligação era péssima, havia muito barulho, não entendeu o que ele dizia. Todos os porteiros negaram ter visto a mulher de Azul sair do edifício e esta não foi encontrada no seu interior. Giovanni negou ter dado o seu cartão a qualquer mulher, mas os peritos concluíram que a letra era a dele. Neste cartão que havia ficado com Clarisse foram encontradas apenas as impressões desta e de Giovanni. Não muito longe do ateliê encontraram um vestido novo, azul, da marca Meneguci e uns sapatos.

Quem ajuda o Insp. Trindade no último caso da sua carreira?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO