Autor Data 4 de Maio de 2014 Secção Policiário [1187] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2014 Prova nº 4 (Parte I) Publicação Público |
AFINAL ELE NEM ESTAVA LÁ… Rip Kirby Valente
Tenrinho, senhor de apreciável fortuna, era conhecido por Major. Começara a
carreira como soldado, mas o estudo dera-lhe a possibilidade de chegar a
Major. Passou à reserva nesse posto. Fizera a carreira na E.P. de Artilharia como
amanuense, excepto em duas comissões em Angola. A
primeira como 2º sargento numa Com.ª de Art.ª no
Norte da província no início da guerra. A segunda também em Angola, Luanda,
como chefe dos serviços de manutenção de armamento. Dizia-se, que foi durante
estas comissões que ele ganhara a sua fortuna. Na primeira comprando produtos
por preços muito abaixo dos apresentados nos serviços da companhia e usando
pesos falsificados. Na segunda era mais grave. Dizia-se que vendia armamento
aos grupos guerrilheiros. Se era verdade, ignora-se, o caso nunca foi investigado, por
vezes foram apreendidas armas, nas mãos
de negros, cujos números constavam nos cadastrados do exército
português e que nunca tinham sido distribuídas a qualquer militar. Mas
esta história não nos interessa, ela apenas tem a função de nos introduzir
nos meandros da história que vamos contar. Tinha
o Major, predilecção por miniaturas de peças de artilharia
com as quais costumava saudar os seus visitantes com algumas salvas. Num dia
9 de Junho, a casa do Major estava repleta de convidados, que começaram a
chegar logo pela manhã, reunindo-se no jardim da frente da moradia, para o
almoço do dia seguinte, comemorativo do dia de Portugal. Entre
os convidados, do dono da casa, estavam militares, civis amigos do Major e
alguns familiares. Nesse dia, véspera do grande evento,
iria acontecer um repasto para preparar os estômagos para o banquete do dia
seguinte. Como de costume o
Major não quis dar início à festa sem as usuais salvas pelas
suas miniaturas. Estas encontravam-se sobre a mesa de trabalho do Major, no
seu gabinete, viradas para um dos topos da sala onde havia sido colocado um
alvo. Os convidados estavam no lado oposto da sala. Para
proceder aos disparos era aquecida uma agulha num bico de gás, e
posteriormente introduziada no respectivo
orifício provocando a explosão da pólvora lá colocada. Entre
os convidados encontrava-se Armando Roboredo, sobrinho do Major que morava na
mesma casa, filho de uma irmã deste e de um capitão do exercito morto em
Angola, em condições estranhas, quando da segunda comissão do Major.
Apaixonado pelo aeromodelismo, e alegando não estar interessado em tiroteios, foi
para o jardim onde colocou no ar o
modelo de um Fiat da FAP. As
salvas começaram e quando faltava apenas disparar uma peça, o telefone tocou.
O
Major deixou a ponta de aço a aquecer e sentando-se à secretária levantou o oscultador para atender. Mal ele executou este gesto um
reflexo iluminou e simultaneamente um estrondo fez tremer toda a sala. Os convidados, ficaram paralisados pelo terror e também pela nuvem de
fumo que escureceu todo o ambiente. Quando a fumaça se dissipou e os ânimos ficaram mais calmos os
convidados viram o Major debruçado
sobre a secretária sem se mover. Chamem
um médico! alvitrou alguém. Não é preciso, respondeu outro,
sou médico, é melhor chamar a polícia, o Major está morto. Chegada
a polícia assegurou-se de que nada havia sido mexido e iniciaram os
interrogatórios tentando encontrar algum suspeito para a autoria do crime. Não
havia dúvida de que se tratava de um homicídio. Os
agentes procediam aos interrogatórios preliminares e o Inspector
observou a mesa onde tudo ocorrera. O tampo mostrava-se muito danificado, do telefone restava o oscultador que se mantinha na mão da vítima. A miniatura da peça, fundida
em bronze ficara reduzida a pó. Sobre a mesa viam-se ainda alguns bocados de
fios electricos possivelmente pertencentes ao
telefone. Foram
constituídos 3 suspeitos. Jerónimo de Albuquerque, capitão do exército na reserva;
Fernando Mergulhão 1º sargento que não terminara o curso da Escola Central de
Sargentos; e Alberto Xavier, Major já aprovado, havia dois anos, para ser
promovido a Tenente Coronel mas cujo despacho não saía dos gabinetes. Dos
interrogatórios nada de útil se apurou, foi provado que nenhum dos suspeitos
podia ter preparado aquela armadilha, mas corriam uns murmúrios sobre os
motivos que cada um dos suspeitos teria para desejar a morte do Major, Jerónimo
de Albuquerque fora passado à reserva compulsivamente por ter colocado em
dúvida a honestidade do Major o que não conseguiu provar. Fernando Mergulhão
não terminou com aproveitamento o Curso da Esc. Cent. de
Sarg. por ter sido
reprovado numa disciplina ministrada pele Major. Finalmente dizia-se que a
promoção de Alberto Xavier estava a ser atrasada por influência do
Major. Passara
uma hora desde que a tragédia acontecera quando Armando Roboredo entrou na
sala perguntando o que se passava ali. Como resposta perguntaram-lhe onde
tinha estado. No Jardim fazendo voar o seu Fiat. Voltara porque se acabara o combustível.
Também das declarações de Armando nada se apurou, os empregados diziam que
Armando culpava o tio pela morte do pai, mas isto, possivelmente, não passava
de mexericos. O jovem dava-se bem com o tio. O
que teria acontecido aqui? Justifique. |
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© DANIEL FALCÃO |
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