Autor Data 8 de Fevereiro de 2015 Secção Policiário [1227] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2015 Prova nº 1 (Parte II) Publicação Público |
UM CRIME NO ALENTEJO Rip Kirby Sete
horas da tarde de um dia qualquer de um qualquer mês de Dezembro no posto da GNR de uma vila qualquer do Alto Alentejo. O telefone
toca. A
um canto da secretária dois pires de café, como se fossem castiçais,
continham, apagadas, cada um uma vela de cera meio gasta. Na base das velas
via-se os restos da cera que havia derretido. Lá
fora, na rua, o temporal era medonho e o contínuo ribombar dos trovões
tornava difícil ao agente que atendeu a chamada entender o que do outro lado
da linha lhe era dito. Por fim lá conseguiu entender o recado e respondeu
laconicamente: vamos já mandar alguém para aí. Daí
a momentos o agente estava transmitindo ao segundo sargento que comandava o
posto o recado que recebera. Numa vivenda situada no final daquela mesma rua
havia acontecido uma morte com toda a aparência de crime. O
sargento convocou dois agentes para o acompanharem e dirigiu-se ao lugar
indicado onde chegou cerca de dez minutos mais tarde. Foi de imediato
encaminhado por uma serviçal a um quarto de dormir onde sobre a cama se via o
corpo de uma senhora já idosa deitada sobre o seu lado direito vendo-se na
têmpora esquerda um ferimento, chamuscado e com resíduos de pólvora,
provocado por um tiro. O
braço direito encontrava-se estendido numa diagonal de cerca de 45o em
relação ao corpo e na mão correspondente, embora de modo precário, segurava
um revólver. O
segundo sargento concluiu que se tratava de um crime o que foi confirmado
mais tarde, tal como o revólver também foi confirmado como sendo a arma do
crime. O
militar da GNR iniciou imediatamente as diligências tendo em vista deslindar
o caso, que talvez lhe viesse a valer uma promoção. Começou
por passar uma vista de olhos pelo quarto. Sobre
uma cómoda viam-se algumas imagens religiosas iluminadas por três ou quatro
velas quase completamente gastas, mas ainda acesas. Sobre uma das
mesas-de-cabeceira, para além de um candeeiro, estava um tabuleiro com um
bule de chá, uma chávena limpa sobre o respectivo
pires, um açucareiro, uma colher e um pires contendo uma torrada. Na
outra mesa-de-cabeceira havia igualmente um candeeiro, uma moldura com a foto
de um casal e um relógio electrónico, em cujo
mostrador os dígitos piscando indicavam 00:40. Numa
escrivaninha a um canto do quarto estava um telefone. Às
perguntas do sargento a serviçal respondeu: “Eram quase sete horas quando vim
trazer o chá à senhora. É costume vir às 17 horas, mas hoje não deu para
isso. Quando entrei estranhei ver a senhora deitada, mas só quando cheguei
perto dela é que vi que estava morta. Pousei o tabuleiro do chá sobre a
mesa-de-cabeceira e telefonei para a guarda mesmo daqui do quarto, depois
desci e fui comunicar o caso aos meninos.” Os meninos são os três sobrinhos
da senhora. O
sargento desceu para o rés-do-chão e foi interrogar os sobrinhos da vítima. Leonardo
respondeu: “Desde as 16 horas, quando a tempestade se iniciou, que estive na
varanda observando o fantástico espectáculo que é
uma tempestade como a de hoje. Só saí da varanda quando a Fulgência me disse
que a tia tinha morrido e que já havia telefonado para a GNR. Ainda estive
para subir, mas depois pensei que já não ia adiantar nada, além de que
descuidadamente poderia deixar algum vestígio que me comprometesse, pelo que
fiquei aqui na sala onde já estava o Paulo.” Paulo,
que envergava um grosso roupão, disse: “Eu ausentei-me logo a seguir ao
almoço e só cheguei a casa perto das 17h. Nessa ocasião já chovia a bom
chover. Tomei um banho quente vesti o pijama e este roupão e vim sentar-me na
sala esperando que a Fulgência trouxesse o chá. Creio que adormeci, pois não
me lembro de nada a não ser de Leonardo abanando-me e dizer-me que a tia
tinha morrido. Ia correr para o quarto dela, mas ele não me deixou.” O
Vítor afirmou: “Após o almoço fui para o meu quarto onde permaneci toda a
tarde, fazendo um trabalho no computador. Só quando a Fulgência me disse que
a tia estava morta é que desci. Antes, porém, fui ao quarto dela para me
certificar de que a Fulgência não estava equivocada depois juntei-me aos meus
primos.” Antes
de se retirar o sargento pediu a Fulgência que o levasse a ver os quartos dos
rapazes. Todos
os quartos se encontravam impecavelmente arrumados. Apenas o quarto de banho
de Paulo tinha o chão molhado e a um canto, dentro de uma cesta, algumas
peças de roupa molhada. O
quarto de Vítor tinha o mobiliário exactamente
igual ao dos primos com apenas uma pequena diferença. A um canto havia uma
secretária sobre a qual se via um moderno computador de secretária que se
encontrava desligado. Como
todas as evidências indicam que estamos perante um crime quem dá uma ajuda ao
segundo sargento para ganhar a sua promoção dizendo que o criminoso foi: A
– O Paulo B
– A Fulgência C
– O Vítor D
– O Leonardo |
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© DANIEL FALCÃO |
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