Autor

Sete de Espadas

 

Data

Setembro de 1948

 

Secção

É o leitor um bom detective?

 

Competição

Concurso do Problema Policial

Problema nº 3

 

Publicação

Altura – nº 18

 

 

 

 

 

 

 

Solução de:

TRÊS ARMAS DISPARARAM…

Sete de Espadas

 

Digitalizar001001Sendo fraco desenhador, só vos posso oferecer o seguinte esquema, que no entanto tem o essencial.

Sabendo que todas as armas dispararam e que todos os carros mostram vestígios de balas, vamos em primeiro lugar, dispô-los, tal como se deveriam encontrar, no momento do crime

Assim, respondemos à vossa pergunta.

Posto isto, tracemos as trajectórias.

 

- Já estão!

- E agora, expliquemos a intenção de «cada um dos possíveis criminosos».

1.º - Rouhen – recebeu um telefonema anónimo dizendo-lhe que a «sua dama» saía da «Taverna Negra», com Phillip, a caminho de Bordeaux. Louco de ciúmes – desprezando os bons avisos que já por mais de uma vez lhe tinham enviado, mostrando as intenções daquela «bela espia» - ruma para a «Taverna Negra», e arma a cena da curva – sabendo de antemão que Phillip, sempre solícito, sairia do seu lugar para prestar auxílio. O momento fora bem escolhido para se desfazer dele... Com a espera, o fresco da noite e a trovoada, influíram no seu espírito. A vontade amoleceu e um outro sentimento tomou vulto… e ele ficou, sim, mas com um objectivo bem diferente… De facto não havia dúvida. Agora, friamente, reconheceu o interesse de Divonne, acerca dos seus planos – como eram, como não eram, como tinham decorrido as experiências, e por brincadeira se eles estavam no cofre do seu escritório… Como fora louco em acreditar que era amor, aquele sentimento…

 

E quando o tiro partiu, destinava-se à loira do Embaixador…

2.º - O Embaixador; - por sua vez, sabendo do encontro da sua mulher com o romancista, resolveu segui-los, para «saber certas coisas…» Quase ao chegar à curva, o carro da frente parou. Ele, que trazia os faróis apagados, aproximou-se… e sem o esperar, deparou-se-lhe uma oportunidade única. Um tiro, e depois ver-se-ia…

- Errou o coração, passando centímetros à esquerda, a raspar no braço e enfiando a bala no banco de trás do carro de Rouhen – a inclinação da perfuração e do impacto, só pode ter sido a bala da sua arma.

- Julgou ouvir mais tiros e resolveu-se a acender os faróis do seu carro… Phillip estava estendido de bruços, mas o carro da frente fugia – estava salva a honra…

 

3.º - Divonne: - Vamos cá perceber a mentalidade das mulheres! – Já desesperada com aquele flirt – e que tudo arriscava e nada ganhava – resolve ficar com o tempo livre para se dedicar a Rouhen e aos seus planos… Por outro lado começava a ter medo do escritor, que tinha descoberto «muitas coisas» com o seu espírito observador…

Debruça-se na porta, cujo vidro desceu e, friamente, ao ruído da tempestade, dispara sobre ele, matando-o à traição. Provocando esta morte, salva-se… Porque foi também nesse momento que Rouhen disparou a sua arma, cuja bala penetrou pelo pára-brisas a 38 cm da porta e saiu pelo espaço onde devia estar o vidro que foi baixado – e a raspar a loura cabeleira de Divonne…

Quanto aos outros furos no pára-brisas dos carros de Rouhen e do embaixador, está provado que estes não se afligiam com isso – o essencial, era disparar no momento oportuno…  

© DANIEL FALCÃO