Autor Data 21 de Outubro de 1976 Secção Competição Prova nº 2 Publicação Mundo de Aventuras [160] |
Solução de: UM PORMENOR QUE NÃO CONDIZ… Sevetse 1
– O criminoso foi o mordomo. Foi dele que o inspector desconfiou. 2
– Os óculos partidos foram o pormenor que a isso levaram. Os óculos
encontrados e os respectivos fragmentos são de lentes divergentes. Ora o sr.
Pereira não via muito bem ao longe, e por isso deveria usar lentes
convergentes. Portanto, foram os óculos do assassino que se partiram durante
a luta… Para evitar que fosse imediatamente descoberto, o mordomo, que era
míope e usava sempre óculos, viu-se na necessidade e com rasgo de génio criminoso,
de trocar os seus óculos pelos do sr. Pereira, que estavam inteiros. O
facto de o mordomo ter dito que ficou muito chocado com o acontecido… depois
de ter ficado cerca de cinco minutos ao telefone… deixa-nos de pé atrás… Depois
de ter dito, e apresentado as provas de culpabilidade do mordomo, vou dizer
porque não foi o sobrinho o culpado, achando eu que não seria necessário, mas… Se
o sr. Pereira via mal ao longe, ele teria de usar lentes convergentes… Se
tivesse sido o sobrinho o assassino, não vejo a razão da troca de óculos, nem
porquê… Logo, o assassino teria de usar óculos… e como Jorge não os usava,
estava automaticamente fora de suspeita. 3
– O mordomo, depois de ter assassinado o sr. Pereira, trocou os seus óculos
pelos óculos do morto, visto os seus se terem partido no acto do crime.
Seguidamente saiu pela janela e foi entrar pela porta das traseiras. Razão
por que chegou depois… Se
se quiser alegar que o mordomo não teria tido tempo suficiente para efectuar
o crime antes do sobrinho chegar, lembremo-nos que para isso chamei a atenção
dizendo que o mordomo era um homem alto e forte – que dominaria facilmente o
sr. Pereira. COMENTÁRIO por Zé Maria Vamos
analisar friamente o problema sem olhar para o que já se escreveu ou sem
reparar na possível solução que se tenha feito. Diz-se
no problema que o falecido via mal ao longe. Que
tipo de dificuldade de visão teria o homem? Diz
depois o autor na solução que teria de usar, forçosamente, lentes
convergentes. Partindo
da hipótese, também provável, que o morto era astigmático (doença
caracterizada pela impossibilidade de ter a noção da altura da imagem ao
longe), temos também um indivíduo que vê mal ao longe e usa exactamente um
outro tipo de lentes (cilíndricas). Verifiquemos
agora a acusação ao sobrinho: Não
sabendo o solucionista que tipo de defeito de visão ao certo o velho tinha
(temos de concluir, como fez o Vítor
Hugo e muito bem, que o sobrinho estava a mentir, dizendo que o tio
estava a ver a paisagem e, aparecendo depois as lentes divergentes a dizerem
o contrário). Estando
o sobrinho, em princípio, em dificuldades porque não se serviu, imediatamente,
de uma prova incontroversa, na qual acusava imediatamente o mordomo? Acaso
o sobrinho não conhecia os óculos do tio? E os do mordomo? Qual
a razão por que não disse logo que os óculos que estavam no chão eram os do
mordomo? Ou não o podendo afirmar por que razão não disse, pelo menos, que
não eram do tio? Poder-se-á
argumentar que há muitas armações iguais. Mas será esta mais uma coincidência?
Concluindo:
a) Acusação ao
mordomo: Este
na luta partiu os óculos e zás, agarrou nos da vítima, coloca-os na cara, não
tendo na altura qualquer problema de visão (embora sendo as lentes
contrárias) e temos o mordomo (porque será que são sempre eles) o assassino. No
problema nada nos diz que era de facto o assassino. b) Acusação ao
Jorge: Este
parece, em princípio, ilibado só porque não é mordomo, pois podendo-se
detectar divergências nas suas afirmações (afirma que o tio estava a ver a
paisagem e aparecem fragmentos de lentes divergentes, portanto contraditórias
– caso Vítor Hugo e Inspector Átomo), não são
consideradas. O
facto de Jorge não ter afirmado que os óculos que estavam no chão não
pertenciam ao tio, não quererá dizer que os considerou dele? Depois
disto e considerando que o problema poderá ser visto por dois ângulos
absolutamente diferentes, defendendo cada um a sua dama, eu alvitrava que
fossem consideradas certas, tanto as soluções que acusam o mordomo, como as
que acusam o Jorge, desde que devidamente justificadas. Nas
que tenho em meu poder e que pude verificar, estariam neste caso as do Vítor Hugo (acusação ao Jorge)
devidamente defendida e a de Mr. Erpis
(acusação ao mordomo) nas mesmas circunstâncias. Atendendo
a que se perderam quase todas as soluções e que não será possível fazer um
estudo das mesmas, para uma reclassificação, vou ao ponto de alvitrar e é
esta também a opinião do Jomape que
o problema seja anulado, sendo no entanto premiado o autor pelo seu labor. Dir-me-ão
que estou a defender um ponto de vista diferente. Não,
pois, quanto a mim, é mais fácil acusar o sobrinho, porque se encontram
contradições nas suas afirmações do que acusar o mordomo, só porque também
usava óculos. E,
para finalizar, veja-se «Este pormenor que não condiz»: O velho estava a ver
a paisagem (diz o sobrinho) e aparecem óculos de lentes divergentes partidos!
Não
estaria o sobrinho a mentir? |
© DANIEL FALCÃO |
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