Autor

Sevetse

 

Data

21 de Outubro de 1976

 

Secção

Mistério... Policiário [84]

 

Competição

Interregno...

Prova nº 2

 

Publicação

Mundo de Aventuras [160]

 

 

Solução de:

UM PORMENOR QUE NÃO CONDIZ…

Sevetse

 

1 – O criminoso foi o mordomo. Foi dele que o inspector desconfiou.

2 – Os óculos partidos foram o pormenor que a isso levaram. Os óculos encontrados e os respectivos fragmentos são de lentes divergentes. Ora o sr. Pereira não via muito bem ao longe, e por isso deveria usar lentes convergentes. Portanto, foram os óculos do assassino que se partiram durante a luta… Para evitar que fosse imediatamente descoberto, o mordomo, que era míope e usava sempre óculos, viu-se na necessidade e com rasgo de génio criminoso, de trocar os seus óculos pelos do sr. Pereira, que estavam inteiros.

O facto de o mordomo ter dito que ficou muito chocado com o acontecido… depois de ter ficado cerca de cinco minutos ao telefone… deixa-nos de pé atrás…

Depois de ter dito, e apresentado as provas de culpabilidade do mordomo, vou dizer porque não foi o sobrinho o culpado, achando eu que não seria necessário, mas…

Se o sr. Pereira via mal ao longe, ele teria de usar lentes convergentes… Se tivesse sido o sobrinho o assassino, não vejo a razão da troca de óculos, nem porquê… Logo, o assassino teria de usar óculos… e como Jorge não os usava, estava automaticamente fora de suspeita.

3 – O mordomo, depois de ter assassinado o sr. Pereira, trocou os seus óculos pelos óculos do morto, visto os seus se terem partido no acto do crime. Seguidamente saiu pela janela e foi entrar pela porta das traseiras. Razão por que chegou depois…

Se se quiser alegar que o mordomo não teria tido tempo suficiente para efectuar o crime antes do sobrinho chegar, lembremo-nos que para isso chamei a atenção dizendo que o mordomo era um homem alto e forte – que dominaria facilmente o sr. Pereira.

 

 

COMENTÁRIO por Zé Maria

 

Vamos analisar friamente o problema sem olhar para o que já se escreveu ou sem reparar na possível solução que se tenha feito.

Diz-se no problema que o falecido via mal ao longe.

Que tipo de dificuldade de visão teria o homem?

Diz depois o autor na solução que teria de usar, forçosamente, lentes convergentes.

Partindo da hipótese, também provável, que o morto era astigmático (doença caracterizada pela impossibilidade de ter a noção da altura da imagem ao longe), temos também um indivíduo que vê mal ao longe e usa exactamente um outro tipo de lentes (cilíndricas).

Verifiquemos agora a acusação ao sobrinho:

Não sabendo o solucionista que tipo de defeito de visão ao certo o velho tinha (temos de concluir, como fez o Vítor Hugo e muito bem, que o sobrinho estava a mentir, dizendo que o tio estava a ver a paisagem e, aparecendo depois as lentes divergentes a dizerem o contrário).

Estando o sobrinho, em princípio, em dificuldades porque não se serviu, imediatamente, de uma prova incontroversa, na qual acusava imediatamente o mordomo?

Acaso o sobrinho não conhecia os óculos do tio? E os do mordomo?

Qual a razão por que não disse logo que os óculos que estavam no chão eram os do mordomo? Ou não o podendo afirmar por que razão não disse, pelo menos, que não eram do tio?

Poder-se-á argumentar que há muitas armações iguais. Mas será esta mais uma coincidência?

Concluindo:

a) Acusação ao mordomo:

Este na luta partiu os óculos e zás, agarrou nos da vítima, coloca-os na cara, não tendo na altura qualquer problema de visão (embora sendo as lentes contrárias) e temos o mordomo (porque será que são sempre eles) o assassino.

No problema nada nos diz que era de facto o assassino.

b) Acusação ao Jorge:

Este parece, em princípio, ilibado só porque não é mordomo, pois podendo-se detectar divergências nas suas afirmações (afirma que o tio estava a ver a paisagem e aparecem fragmentos de lentes divergentes, portanto contraditórias – caso Vítor Hugo e Inspector Átomo), não são consideradas.

O facto de Jorge não ter afirmado que os óculos que estavam no chão não pertenciam ao tio, não quererá dizer que os considerou dele?

Depois disto e considerando que o problema poderá ser visto por dois ângulos absolutamente diferentes, defendendo cada um a sua dama, eu alvitrava que fossem consideradas certas, tanto as soluções que acusam o mordomo, como as que acusam o Jorge, desde que devidamente justificadas.

Nas que tenho em meu poder e que pude verificar, estariam neste caso as do Vítor Hugo (acusação ao Jorge) devidamente defendida e a de Mr. Erpis (acusação ao mordomo) nas mesmas circunstâncias.

Atendendo a que se perderam quase todas as soluções e que não será possível fazer um estudo das mesmas, para uma reclassificação, vou ao ponto de alvitrar e é esta também a opinião do Jomape que o problema seja anulado, sendo no entanto premiado o autor pelo seu labor.

Dir-me-ão que estou a defender um ponto de vista diferente.

Não, pois, quanto a mim, é mais fácil acusar o sobrinho, porque se encontram contradições nas suas afirmações do que acusar o mordomo, só porque também usava óculos.

E, para finalizar, veja-se «Este pormenor que não condiz»: O velho estava a ver a paisagem (diz o sobrinho) e aparecem óculos de lentes divergentes partidos!

Não estaria o sobrinho a mentir?

© DANIEL FALCÃO