Autor Data 24 de Junho de 2012 Secção Policiário [1090] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2012 Prova nº 6 (Parte I) Publicação Público |
FALSÁRIOS INCOMPETENTES Verbatim Flávio
Alves deu mais uma olhadela para as quatro listas dos números das seis mil
notas de vinte euros apreendidas naquela manhã de Março de 2011. Verificara
que bastaria considerar pequenas amostras sequenciais de cada um dos quatro
grupos em que as notas estavam divididas para se tirarem importantes
conclusões. Apresentam-se, a seguir, amostras sequenciais dos quatro
conjuntos. M82738145002 M82738144993 M82738144984 M82738144975 ………………. U33376053505 U33376053496 U33376053487 U33376053478 ………………. V19232494609 V19232494591 V19232494582 V19232494573 ………………. X19584636493 X19584636502 X19584636511 X19584636529 Arsénio
Mendes, o dono da vivenda e do armazém anexo onde fora encontrado o dinheiro,
guardado em três caixas metálicas, defendeu-se como pôde: “Eu fazia lá ideia
que ali havia notas de banco! Aquilo para mim eram caixas de ferramenta. O sr. inspector
viu aí outras iguais ou parecidas que só têm material de canalizador e electricista. E o dinheiro com que pago aos homens, guardo-o no cofre…”. Justino
Pereira, conhecido pelo Tino Maluco, mal chegou de uma obra foi interceptado pelo agente Dias que, apontando para as
caixas das notas, entretanto fechadas, lhe perguntou de quem era aquilo.
“Julgo que é do sr. Mendes – respondeu o Tino.
Nunca lhes mexo, porque ele e o mestre Ernesto são muito esquisitos. Se lá
falta alguma coisa, posso jurar que não fui eu. Já há dois meses foi para aí
uma guerra por causa de um miúdo, que o sr. Mendes
até mandou embora, só por ter pegado numa caixa do mestre. Não me diga que,
hoje, sou eu o lixado…”. Mestre
Ernesto, tido como grande prático em canalizações, que fez temporadas de
trabalho em Espanha e até em França, sob contratos ilegais, explicou-se: “É
verdade, aquele dinheiro é meu. Aprendi muito nas minhas andanças e ganhei
algum, confesso, que fui pondo aí, pelos bancos. Mas sabe, sr. inspector,
isto agora está a apertar, querem saber de onde vem o bago de cada um, menos
o dos poderosos, e eu andei sempre meio clandestino. Fiquei com medo que me
fossem à massa que tanto me custou a ganhar. Por isso, na semana passada,
resolvi levantar tudo. E, quando se levantam quantidades assim maiores, vem o
dinheiro arrumado e em notas novinhas.” Instado
sobre o lugar onde resolveu guardar o pecúlio, mestre Ernesto não hesitou:
“Desconfio de uma pessoa que, com certeza, me viu levantar bastante dinheiro
e era capaz de me assaltar a casa. Por isso, à cautela, trouxe as notas para
aqui, para o armazém do Arsénio, sem dizer nada a ninguém, nem à minha mulher. Estou a ver que essa pessoa se apercebeu
da minha manobra de defesa e, por vingança, resolveu denunciar-me, como se eu
fosse um reles ladrão, tal como ele. Mas garanto-lhe, sr.
inspector, isto não é
dinheiro roubado, foi todo ganho com o suor do meu rosto.” Dirigindo-se
apenas ao agente Dias, o inspector Flávio Alves
comentou: “Houve aqui fraude da grossa. As notas passam facilmente como boas,
mas os falsários foram incompetentes num aspecto.
Pode ser que se safem, pois a justiça portuguesa ilibou, há tempos, um
comprovado corruptor por não ter corrompido a pessoa certa, isto é, por ter
sido incompetente.” Onde
é que os falsários foram incompetentes? Quem estará envolvido na distribuição
do dinheiro falsificado e porquê? |
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© DANIEL FALCÃO |
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