Autor Data 20 de Maio de 1988 Secção O Detective [48] Competição 2ª Supertaça Policiária -
Cidade de Almada Problema nº 2 Publicação Jornal de Almada |
TEMPO DE HOMICÍDIO Virmancaroli Ao
meio dia de Terça-Feira, 27 de Dezembro de 1983, Virgílio recebeu ordem de
«voar» para o Hotel BALOCA, que ficava situado no lado oeste de Elvas, onde
45 minutos antes, uma das empregadas da limpeza tinha encontrado o cadáver
mutilado de uma mulher, a hóspede Isabel Cercas. A
caminho do Hotel BALOCA, nessa Terça-Feira fria de Dezembro, Virgílio pensava
na sua pouca sorte e, tinha dúvidas se ele seria capaz de resolver um caso
qualquer. O Hotel, um edifício de cantaria, de seis andares, era um antigo
prédio de apartamentos, convertido em pequenas habitações de um e dois
quartos; antes de entrar no hall, Virgílio
esquadrinhou a fachada do edifício, para ver se descobria rostos nas janelas.
Geralmente, as vizinhas bisbilhoteiras passam a vida nas janelas e, por
vezes, observam algo que mais tarde pode ser útil para as investigações mas,
no Hotel BALOCA, as janelas não tinham ninguém. Um
jovem policial fardado a rigor estava sentado numa cadeira de madeira à porta
do quarto 7-A; acabara de ver o cadáver mais barbaramente mutilado de toda a
sua carreira e ficara muito impressionado! Virgílio entrou no quarto, rezando
intimamente para que não rivessem mexido em nada. Acreditava firmemente na
importância de observar a cena do crime em seu estado original e não confiava
nas descrições de outros, por mais detalhadas e técnicas que fossem. Desta
vez, chegara tarde demais. O corpo tinha sido fotografado e a sua posição levemente
alterada. Virgílio dissimulou a irritação e começou o exame. Os peritos de
Medicina Legal tentavam precisar a hora da morte. Virgílio observava o corpo
da vítima; certas zonas da pele já tinham um tom cinzento-escuro; no ventre
viam-se já algumas manchas esverdeadas, o rosto estava intumescido e cheio de
equimoses e todo o corpo estava completamente relaxado em complemento do
cheiro nauseante libertado pelo corpo da vítima. O assassino queria algo mais
que provocar a morte; a mulher havia sido torturada. Pedaços de pano, talvez
usados como mordaça enchiam-lhe a boca. Tinha sido apunhalada várias vezes na
garganta e no tronco com uma tesoura; além disso, fora queimada com cigarros
e violada com um pedaço de pau de vassoura. Todas
as suas economias que se soube haver, foram retiradas de uma caixa de cartão,
dessas utilizadas para transportar chapéus. Virgílio
perante tais factos ficou na expectativa, pois o sadismo demonstrado pelo
assassino não combinava com o roubo; seguidamente dirigiu-se ao hall servindo-se ali do telefone, para falar com a
perícia, cujo pessoal deveria recolher impressões digitais, amostras de
sangue, verificar a existência de indícios de sémen e recolher alguns
objectos para análise de laboratório, tais como um par de luvas negras de
homem encontrado no quarto da vítima. Virgílio
requisitou o dactiloscopista mais experiente e outro fotógrafo, de modo a
poder conduzir pessoalmente a tomada de fotos a cores. No
Hotel BALOCA, os policiais fizeram uma lista do pessoal (empregados), bem
como dos ocupantes dos quartos do andar onde Isabel habitava. Às
cinco da tarde, voltaram a reunir-se. Nenhum dos interrogados até aquele
momento se lembrava de ter visto Isabel desde a última Sexta-Feira, portanto
quatro dias antes da descoberta do corpo. Virgílio, porém, encontrara no
quarto da vítima um vespertino de Sábado. Alguém o tinha levado para lá, se
não a própria Isabel, então o possível assassino, e a existência do jornal
parecia situar o momento do crime. Posteriormente
mais três indivíduos foram chamados a depor, pois esses eram dos que mais
relação tinham com a vítima. Virgílio recebera já o resultado sumário dos
exames laboratoriais, onde se confirmou não haver impressões digitais em
nenhum dos objectos analisados, a não ser na caixa de cartão onde se supõe
que o assassino mexera sem as luvas, já que as mesmas se provou serem suas; a
não utilização das luvas para tal efeito leva a supor que o assassino agiu
ciente que as suas impressões não ficariam impressas no cartão ou então queria
sentir o dinheiro na mão, para dali se afastar dado que este seria o último
reduto do assassino na sua permanência ali. Entretanto Virgílio mandara
analisar a caixa novamente e, preparava-se para receber os três depoentes. O
primeiro a ser interrogado, fora um indivíduo de nome Joaquim Morcela, que
afirmou já não ver Isabel desde Sexta-Feira de manhã, pois às 14H00 desse
mesmo dia tomara o comboio em Elvas com destino a Lisboa, onde passaria uns
dias com familiares vens ali residentes. Posteriormente tais afirmações
viriam a confirmar-se na íntegra. O
segundo a depor chamava-se Leonel Guerreiro e encontrava-se hospedado no
mesmo hotel de Isabel Cercas, no quarto 5-F, no terceiro andar do edifício, e
afirmara ter jantado na Segunda-Feira com Isabel, indo depois os dois a um
cinema da localidade ver um filme por sinal bom e já em exibição há duas
semanas. Leonel diz que terminado o filme saíram os dois e se separaram pouco
depois, não a tendo visto mais. O
terceiro e último a depor estava também hospedado no mesmo Hotel no quarto
2-A, portanto, perto do quarto de Isabel, chamava-se Joaquim Oliveira e
afirmou ter estado com Isabel no Sábado, almoçando juntos nesse mesmo dia e
que não mais a viu, o que estranhou imenso. Pergunta-se:
1)
– Acha possível descobrir o assassino, sem interrogatório? Justifique. 2)
– Algum dos interrogados será o criminoso? 3)
– Fundamente em pormenor as suas respostas. |
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© DANIEL FALCÃO |
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