Autor Data 4 de Setembro de 2016 Secção Policiário [1309] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2016 Prova nº 8 (Parte I) Publicação Público |
O ASSALTO Vivianne Luna Alborico procurou um olhar
conhecido no meio da multidão que se ia aglomerando para assistir ao
desenrolar dos acontecimentos, mas não viu nenhum. O
café onde foi detido pela polícia, tinha sido alvo
de um ataque por parte de homens armados e tudo acabou em tragédia, com dois
clientes e um empregado feridos a tiro e dois assaltantes abatidos e mortos
no local. Toda
a operação decorreu em cerca de 20 minutos e quando tudo parecia ter
acalmado, o Alborico assomou à porta do
estabelecimento, vindo da casa de banho, com um ar entre o alarmado e o
surpreendido, sendo de pronto detido pela polícia, como suposto membro do
grupo assaltante. A
história conta-se facilmente: No café, àquela hora, estavam vários clientes a
tomar o pequeno-almoço, com a azáfama normal daquela hora matinal, quando
entraram de rompante homens armados, segundo algumas versões dois, noutras
versões três, que mandaram deitar os presentes no chão, aparentemente
iniciando um assalto. Para
azar dos assaltantes, na rua fronteira ia a passar uma viatura repleta de
polícias de intervenção que regressavam de uma acção
e que se aperceberam do que estava a ocorrer e decidiram de imediato pôr
cobro à situação. Com os seus conhecimentos e preparação para estas
intervenções e aproveitando a completa surpresa causada por tamanha rapidez,
neutralizaram dois assaltantes, que no entanto reagiram a tiro disparando
para onde estavam virados, pelo que acabaram abatidos pela polícia com tiros
certeiros. Os disparos produzidos pelos assaltantes, com ricochetes pelo
meio, atingiram clientes e um empregado, mas sem grandes consequências, pelo
menos numa avaliação superficial. Restou
o Alborico, que jurava a pés juntos que não tinha
nada a ver com os assaltantes, mas a verdade é que apareceu no café, vindo
das instalações sanitárias, já depois de tudo ter acabado. No
interrogatório imediato, declarou: –
Não sei nada do que se passou. Entrei no café às 8.20, mais ou menos e fui à
casa de banho. Quando lá estava tocou o meu telemóvel e verifiquei que era o
operador de um serviço que ando a contactar, para fazer um contrato comigo e
negociarmos as condições, Ele fazia propostas, eu aceitava ou recusava e
fomos negociando, porque eu sei que algumas pessoas conhecidas têm melhores
condições do que eu… Como eu precisava de silêncio e calma para ouvir bem o
que me diziam, deixei-me estar na casa de banho, mesmo até ao fim do operador
me ler as condições todas da minha subscrição e eu dizer que aceitava. Foi
assim. Estava todo satisfeito pelo que consegui, quando abri a porta da casa
de banho e atravessei o corredor de acesso ao café. Assim que abri a porta
que dá para o café, fiquei em choque por ver corpos no chão e pessoas
debruçadas sobre eles. Fui logo apanhado por um polícia, empurrado para o
chão e detido. Não sei nada do que se passou… Foi um atentado terrorista? –
Quem é que o conhece aqui? O dono, os empregados, algum cliente? –
Não sei, mas eu não costumo vir aqui. Como hoje não trabalho, resolvi vir dar
uma volta e como senti vontade de ir à casa de banho, entrei no café. Claro
que ia depois fazer despesa, beber um café ou comer um bolo, porque também não
gosto de quem usa as casas de banho e não faz despesa… –
Mas alguém o há-de conhecer, alguém o viu chegar,
alguém se cruzou consigo hoje, que possa atestar que não tem nada que ver com
os assaltantes, não? –
Não sei, não me lembro de ninguém, sabe, eu vinha em passeio, descontraído,
não andava à procura de nada nem de ninguém… –
Pois, tem aqui uma chamada telefónica feita por si com a duração de 24
minutos – consultou no telemóvel – para um número de um operador, mas como
deve perceber, isso pode ter sido só para despistar, só para ter um álibi… –
Mas não, não é verdade, eu fiz um contrato com eles, o que conto é verdade! Mais
tarde, finalmente localizado o operador que atendeu o Alborico,
ficou a saber-se que tinha havido um contacto de Alborico
para a central do operador e que esta lhe devolveu o contacto poucos minutos
após, tendo mantido chamada ininterrupta durante precisamente 24 minutos e
que ele acabara por subscrever o contrato. O interlocutor não detectou nada de estranho durante a comunicação e para
ele, tudo pareceu normal. O polícia investigador não
estava inteiramente convencido. Muitos anos de investigação deixavam-no
sempre muito céptico sobre tudo o que se afigurava
muito claro e transparente, como parecia ser o caso. Precisava de alguma
coisa mais substancial para além do depoimento do operador. Não que pensasse
que ele era conivente, não chegara ainda a esse ponto, mas enquanto houvesse
um por cento dessa possibilidade, ele não cedia… |
|
© DANIEL FALCÃO |
||
|
|