Autor Data 1 de Setembro de 1977 Secção Mistério... Policiário [129] Competição Torneio
“4 Estações 77” | Torneio C – Verão Prova nº 4 Publicação Mundo de Aventuras [205] |
NO HARÉM DAS VIRGENS… Xavier Benigno A
madrugada agora é diferente, não pelo facto de a beleza ter deixado de ser
jovial. A jucundidade é e sempre foi apanágio das coisas belas. A madrugada é
diferente porque houve uma transferência da alegria, pois que a mira de lucro
fez calar o cantar do galo. Sim, é isso o que se passa, pelo menos, naquele mini-aviário de poedeiras, sem calaza. Ali nunca se admitiu
a presença do macho. No
mini-aviário do Tomé esta madrugada foi diferente
ainda por outra razão. Confiava ele na honestidade, e daí, durante o tempo
ameno, a porta ondulada da antiga garagem ficava enrolada e o acesso aos seus
galináceos era de uma franqueza tal que desafiava toda a seriedade de intenções.
Depois
de acordar, Tomé obrigava-se a uma sequência de actos
habituais, e dentro deles destacava-se o da visita aos bichos, acompanhado de
Júlio, seu único filho. Viúvo, socorria-se dos préstimos
de um casal que habitava permanentemente em sua casa. Enquanto Bernardo se
encarregava, logo ao amanhecer, de distribuir a farinha e a água às galinhas,
a mulher ia dar a vianda ao restante vivo. E assim alternavam neste serviço. «Mondego»
não fazia excepção quer a estranhos, quer a
conhecidos, quanto a encher o ar com os seus latidos. A vista das pessoas que
o seu ouvido detectava ao longe, tomava a atitude
consoante elas fossem. Se de estranhos se tratasse atirava-se a eles, se não emudecia
e procurava um afago na nuca ou uma palavra amiga. Se houve noite em que ele ladrou
foi essa. Tomé já acostumado não ligava meia. Apenas notou o facto. Antes de
descerem em direcção ao recinto, o trambelho da
porta caía cuidadosamente no travão, impedindo que o cão os seguisse. Chegados
às proximidades da entrada do aviário, as tectrizes espalhavam-se pelo saibro
como premissas de algo de anormal. Lançando os olhos à bateria, deram pela
falta de meia dúzia de animais. –
Quem os teria furtado? – perguntava-se Tomé em voz
alta. –
Galinhas na segunda postura, é um crime matá-las – observou Júlio. – Agora
que elas estavam a dar em cheio. Tomé
mandou o filho chamar por Bernardo. Este veio passados dez minutos.
Interrompera a rega da horta. Não
quis acordar o patrão, quando dera pela falta das galinhas. Estavam roubadas
e nada adiantava avisá-lo mais cedo. E
os dias corriam sem que se descobrisse o ladrão. A produção dos ovos
continuava a ser excelente. Foi então que Tomé resolveu confidenciar ao filho
a sua certeza de que havia sido gente da casa que furtara as galinhas. Júlio
ouviu o pai e depois de reflectir expôs a sua
opinião. PERGUNTA-SE:
1
– Em que se baseou Tomé para afirmar que fora gente da casa que furtara as
galinhas? 2
– Qual teria sido a opinião do Júlio? |
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© DANIEL FALCÃO |
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