Autor

Xavier Benigno

 

Data

8 de Junho de 1978

 

Secção

Mistério... Policiário [169]

 

Competição

Torneio “Sete de Espadas"

Problema nº 11

 

Publicação

Mundo de Aventuras [245]

 

 

A ARMADILHA

Xavier Benigno

Ao SETE DE ESPADAS com muita amizade

Mário Reis adormecera e acordara com a mesma ideia que o fizera sonhar durante aquela noite de Outubro com polícias e ladrões.

Ao chegar à escola, já os alunos mais madrugadores, como de costume aproveitavam os tão preciosos minutos de recreio que medeiam entre o abandono da chávena almoçadeira, a saída apressada de suas casas e o convite de entrada para a aula, correndo atrás de uma bola, ou, ao pilha, atrás uns dos outros. À medida que se aproximava da porta, e enquanto ouvia a habitual saudação: «Bons dias, senhor professor!», retribuindo-a, não tirava os olhos da janela da sala, de que intencionalmente se esquecera de fechar, no dia anterior.

– Ó senhor professor, venha cá ver! – chamou um, de entre os primeiros alunos que haviam franqueado o acesso à sala.

No chão, junto à janela, jazia uma boa dúzia de sacas plásticas, contendo canetas de ponta de feltro.

Logo no espírito dos miúdos se desenhou uma perspetiva de assalto à escola.

– Não peguem nelas – ordenou o professor. E continuou – Ide para o vosso lugar. Todos sentados.

Abeirando-se da secretária, com o melhor ar de disfarçada naturalidade, abriu a gaveta, e ao retirar de lá o livro de registo de assiduidade dos seus pupilos, verificou que a caixa metálica onde guardara algumas moedas provenientes de donativos para obra de beneficência se encontrava aberta e… vazia.

Fez a chamada, sem comentários. Três faltosos: um deles, engripado há uma semana; dos outros dois, irmãos, desconhecia por enquanto o motivo da ausência.

E a aula principiou. Iria começar também uma determinada investigação, mas não sobre os conhecimentos dos alunos.

Era o segundo assalto que a escola sofria desde que ele viera para ali leccionar. Para já, sem que o notassem, o objecto do seu interesse residia nas mãos dos alunos. Vagueou pela sala. Exercícios de aplicação de matéria dada ocupavam aquelas mentes infantis. Vaivém compassado, unicamente se ouvia o som dos tacões no soalho, até que…

– «Já te apanhei!» – pensou muito para si, e em voz alta: – Vitorino, onde estiveste e que fizeste, ontem, depois de sair da escola?

O garoto estranhou a pergunta assim feita de chofre, e levou ainda algum tempo até articular palavra.

– Eu, senhor professor?

– Sim, tu. Não és o Vitorino? Parece que aqui não há mais alguém com esse nome! Diz lá. Responde ao que se te pergunta.

– Fui com o minha mãe apanhar nozes.

– E depois?

– Vim para casa… e minha mãe mandou-me tirar as cascas às nozes com ela.

– E com mais ninguém?

– O César e o Alfredo também estiveram a descascar nozes.

– Não sabes porque faltaram hoje?

– A mãe do César e do Alfredo disse-me para dizer ao senhor professor que eles iam à feira com ela.

– Então, porque não deste o recado?

– Esqueci-me.

– Senta-te! – E entre dentes suspirou: – «Coincidência! É extraordinária a coincidência!»

 

QUESTIONÁRIO:

1 – A que coincidência se referia Mário Reis? E porquê?

2 – Se não fora a coincidência, quem teria assaltado escola? Porquê?

3 – Com um pouco de imaginação, reconstitua o assalto.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO