Autor

Xek-Brit

 

Data

23 de Outubro de 1980

 

Secção

Mistério... Policiário [287]

 

Competição

Torneio “4 Estações 80” | Mini C – Verão

Problema nº 8

 

Publicação

Mundo de Aventuras [367]

 

 

O CASO DO DENTE CARIADO

Xek-Brit

 

Sexta-feira. Era um dia quente de Junho, como quase todos os dias da semana que estava a acabar. Os termómetros nesse dia haviam acusado temperaturas superiores aos 30 graus centígrados.

Contudo, no Serviço de Bioquímica da Faculdade de Medicina, esse não era um dia normal, se é que se possa chamar normal a cada dia que se passa nesse Serviço.

Tinha havido uma morte! O morto era um dos assistentes da cadeira, o dr. Orlando Guerra, que apenas conseguira viver 32 anos; metade dos quais passara a estudar, para ser um «senhor doutor»… O infeliz acabou por pouco tempo usufruir desse fruto do seu estudo. O cabelo cor de areia e ralo, começava a esbranquecer e o seu rosto branco mostrava-se um pouco flácido (e agora ainda mais!...) onde duas rugas fundas em cada lado o faziam parecer estar constantemente de testa enrugada; tudo isto por certo, vestígios temporais de longas noites de estudo e investigação.

O pobre do doutor tivera a triste ideia de nesse dia, contra o seu costume, ficar durante a hora do almoço a terminar a revisão dos testes escritos que seriam apresentados aos alunos da cadeira logo no início da próxima semana.

O que por certo se passara, é que alguém, e esse alguém supõe-se ser um aluno, por certo pouco confiante nos seus conhecimentos, resolvera modificar o seu «método de estudo»… Contudo, tudo isto eram simples suposições.

Através dos depoimentos das 2 empregadas do Serviço, veio a saber-se que durante a hora do almoço elas haviam saído para almoçar tendo ficado no Serviço, além do dr. Orlando Guerra, três alunos e o dr. Álvaro da Conceição, colega do malogrado médico-assistente.

Portanto, durante a hora de almoço, encontravam--se no Serviço de Bioquímica unicamente 5 pessoas, distribuídas da seguinte maneira:

 

 

As salas 1, 2, 3 e 4 estão todas na ala destinada aos docentes.

Na sala 1 encontrava-se o dr. Álvaro da Conceição.

Na sala 2 encontrava-se o dr. Orlando Guerra.

As salas 3 e 4 encontravam-se desocupadas durante a hora do almoço.

A sala 5 é o laboratório onde esteve um dos alunos.

A sala 6 é uma sala de aulas que se encontrava desocupada durante a hora de almoço.

A sala 7 é a biblioteca do Serviço, onde se encontrava outro dos alunos.

A sala 8 é outra sala de aulas, ocupada pelo outro aluno.

Chamado a resolver o caso, o inspector Mário Zamith recolheu vários depoimentos.

Álvaro da Conceição era já mais idoso que o seu colega. Era um estereotipado: rosado, careca, gorducho, pequeno; sorriso largo e fácil nos lábios, óculos pretos de aros grossos, sinal também preto no queixo, parecendo no conjunto um pouco ridículo.

Embora mais idoso que o seu colega Orlando Guerra, desempenhava um papel de menor importância dentro do Serviço.

Durante a hora de almoço estivera a ler umas revistas inglesas da especialidade. Tendo terminado a leitura das mesmas, ia a sair do Serviço para ir almoçar, quando deparou com o corpo do seu colega sentado na cadeira mas com a cabeça e o tronca deitados sobre a papelada que se encontrava na secretária. «Adormeceu», pensara. Entrara na sala para o acordar quando reparou que o couro cabeludo da nuca se encontrava empapado de sangue. Não tocara no corpo e correra a pedir auxílio. Quando descobrira o corpo não se encontrava mais ninguém no Serviço.

António Pascalhinho é alto, ágil, tipo atleta, com ombros de levantador de pesos e movimentos de tigre, pronto a encolher-se e a saltar… Tem umas feições de estátua grega e um olhar que às vezes parece perdido no infinito para logo em seguida se tornar duro e penetrante. Veste com elegância e àvontade, a maior parte das vezes desportiva: camisola branca e «jeans»… A culminar tudo isto, é mau aluno, mas tem sempre umas respostas tão prontas e incisivas que nos mantém pendentes do seu engenho. Teve uma primeira frequência bastante má e precisa de tirar uma boa nota no próximo teste. Diz ter passado todo o tempo no laboratório fazendo uma experiência com nítridos, tendo conseguido obter HCN, que deitara numa proveta rotulada. Depois disso saíra sem fazer ruído, não tendo visto nem ouvido ninguém.

Dinis Teixeira era outro dos 3 estudantes. Tinha uma cara jovem, agradável, daquelas que mostram tudo o que pensam. A sua mente parecia estar longe dali. Vestia umas calças de bombazina amarela desbotada, meias brancas, sapatos de sola de borracha e urna camisa engomada, branca, com colarinho de marinheiro. Estava a estudar na biblioteca do Serviço, consultando uns livros de Fisiologia por causa do exame que estava próximo e no qual precisa de uma boa nota. Assim que se cansara de estudar saíra sem fazer barulho, não tendo ouvido nem visto ninguém.

Domingos Prata era o terceiro estudante. Era, pode assim dizer-se, um «estudante experimentado», contando já vários chumbos… É um indivíduo grande, de construção fora do habitual. Os ombros largos, encimados por enorme cabeça, magro e vigoroso. Veste camisa de xadrez e «jeans» e calça botas de «cow-boy» com protectores. Estivera a estudar para o exame no qual precisa de tirar uma boa nota. Fora estudar para o Serviço porque não arranjara lugar na Biblioteca principal e como queria estudar em silêncio, ficara numa das salas de aulas, não sendo a primeira vez que tal fazia. Apenas sabia que o Dinis se encontrava ao lado, na biblioteca, e pouco depois de o ter ouvido sair, também dera por findos os seus estudos e igualmente abandonara o Serviço para ir almoçar.

Intrigado e desconcertado, o inspector Mário Zamith por certo percorrera já todos os ladrilhos do extenso corredor do Serviço. Depois de ter entrado na ala destinada aos docentes, onde não encontrou nada que o pudesse ajudar no caso, dirigiu-se para as salas do outro lado do corredor.

No laboratório observou uma certa desarrumação. Fora do seu lugar encontrou um frasco de ácido sulfúrico diluído e outro contendo hexaciano-ferrato de potássio. Perto viam-se uma série de provetas que haviam sido utilizadas, estando uma rotulada HCN, mas perfeitamente vazia. Nem mesmo a janela aberta conseguia amenizar o enorme calor que se fazia sentir.

Em seguida dirigiu-se para a Biblioteca do Serviço. Nas estantes, livros, uns grossos, outros menos grossos, uns ingleses, outros franceses, outros mesmo portugueses, uns com lombada azul, outros verde, outros vermelha, mas todos versando química ou química da vida…

Nas salas de aulas nada de especial, tendo contudo parecido insólito para o inspector verificar que o quadro se apresentava preenchido de «axadrezados» do jogo do galo, e por cima das mesmas, folhas quadriculadas preenchidas com jogos de batalha naval. «E é isto que eles andam cá a estudar!», pensou para si o Inspector.

«Se em vez de andarem a brincar, me ajudassem nesta encrenca…».

Estão dispostos a dar-lhe uma ajudinha?

Então vamos lá…

 

1 – Quem é o assassino?

2 – Explique devidamente o seu raciocínio.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO