Autor Data 7 de Junho de 2015 Secção Policiário [1244] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2015 Prova nº 5 (Parte I) Publicação Público |
A CONFRARIA DOS GÉMEOS Zé Coxo Os
irmãos Costa Pereira são três dos mais influentes membros da Confraria dos
Gémeos, agremiação a cujos destinos presidem vai já para três anos na
qualidade de diretores únicos. Iguais como gotas de água, eles apenas se
distinguem por pequenos traços particulares. Jorge é neste momento facilmente
reconhecido pelo seu forte coxear, resultado de um muito recente acidente de
caça que causou grandes estragos na sua perna direita. José é desde quase
sempre identificado pela sua acentuada gaguez, fruto de um tremendo susto
sofrido quando criança. E Jacinto apresenta como traço distintivo uma
indisfarçável cicatriz junto do sobrolho esquerdo provocada por uma infeliz
brincadeira dos seus tempos de adolescente, no recreio da escola. É
dia de comemoração de mais um aniversário da Confraria dos Gémeos e o
detetive Fagundes dirigiu-se de urgência para o local, por solicitação de um
antigo colega da Polícia Judiciária que ocupa agora lugar destaque nesta
organização. Um dos irmãos Costa Pereira fora avistado numa cidade do sul do
país, a cerca de 400 quilómetros de distância, a cometer um hediondo crime. O
que, aliás, não surpreendeu ninguém na Polícia Judiciária, uma vez que há
muito se suspeitava que os três irmãos estavam associados a uma perigosa rede
de delinquentes que tem vindo a cometer diversas atrocidades criminosas de
norte a sul de Portugal, espalhando o terror por onde passam e deixando
marcas profundamente traumáticas entre as suas vítimas. Fagundes deambulava pelo salão de festas
da Confraria dos Gémeos quando um dos irmãos Costa Pereira chegou. Sempre
agarrado a uma elegante bengala, o gémeo foi estendendo a sua mão direita a
alguns dos presentes enquanto caminhava com aparente dificuldade rumo à sala
de reuniões, onde os elementos da direção da Confraria decidiriam a
atribuição do Prémio ‘O Gémeo do Ano’. Havia em cada rosto dos presentes
sinais de alguma ansiedade e expectativa, se bem que se murmurasse entre
dentes que aquela distinção já estava há muito destinada a um dos diretores.
Mesmo assim, notava-se uma réstia de esperança nos olhares de muitos dos
gémeos de que aquele galardão viesse a distinguir outro dos confrades e não
os do costume… Pouco
tempo volvido surgia no palco um dos gémeos Costa Pereira, apresentado como
presidente da direção da Confraria, para anunciar o veredito. A luz dos
projetores fez sobressair uma pequena cicatriz que, segundo algumas das
senhoras presentes, lhe dava um certo encanto. «E o vencedor é…». O resultado
já era o esperado por quase todos. A direção da Confraria distinguiu, pelo
terceiro ano consecutivo, um dos gémeos Costa Pereira. O seu discurso de
vitória foi divertidíssimo, arrancando grandes gargalhadas. O laureado subiu
rápido ao palco, mas levou bem perto de dois minutos para dizer simplesmente: «Oooo.briiiii.bri.bri.briii.ga.ga.gaaaa.do.do.doooo!». Fagundes
está intrigado. A testemunha que denunciara um dos gémeos como autor de um
crime cometido há pouco mais de meia hora era absolutamente credível e ela
garantia ter visto o gémeo coxo matar um abastado industrial a 400
quilómetros dali. «Mas como é isso possível?» – interroga-se o detective. |
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© DANIEL FALCÃO |
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