Autor Data 12 de Agosto de 2012 Secção Policiário [1097] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2012 Prova nº 7 (Parte II) Publicação Público |
O ENIGMA DA MORTE DO CONSTRUTOR Zé da Vila O
mundo é vasto e repleto de mistério. A
vida humana, cuja força e eficácia têm a capacidade de construir pontes
douradas entre objectivos e destruí-las com a mesma
eficácia, é, entretanto, incapaz de absorver aquela imensidão. O
enigma que envolveu a morte de Aguiar (nome fictício) é um caso ao acaso.
Formado em arquitectura e gestão, oficial do
exército com duas missões fora do país; entre uma e outra um aparente
inflamado casamento. No
regresso da segunda esperavam-no os braços de Olga: uma segunda lua-de-mel
perfeita, ou melhor, parecia perfeita… Aguiar
transformou-se; começou por longas ausências e silêncios, aos quais Olga
respondeu com apatia, porventura falta de confiança em si própria… Deixou
o exército e ligou-se à construção civil. Encontrado um lote de terreno
ajustado a projecto próprio, certo de que a fortuna
pertence aos homens dispostos a arriscar, arriscou e ganhou. Repetiu e
ganhou. Olga
era vaga lembrança de um divórcio, arrastando-se pelos tribunais. Lançou-se,
enfim, em grande. Um
complexo, bairro de luxo privado, com cinquenta moradias dispostas em “U”, no
centro do qual abundavam jardins floridos, piscinas, campos de jogos,
garagens integradas nas traseiras e parques de estacionamento numa grande
área vedada, com um único portão de acesso controlado permanentemente por
dois vigilantes. Na
primeira vivenda à entrada, instalara um escritório de direcção
e vendas. Uma
advogada, Clara Vargas, servia-lhe de secretária, conselheira jurídica e
amante… O
dinheiro entrava nos bancos em ritmo de êxito. Tinha,
entretanto, cerca de 20 moradias por vender, financiamentos, dívidas a
empreiteiros e fornecedores diversos quando a crise chegou… Dispensou
jardineiros, vigilantes e obras menores, insistindo junto dos bancos. Agora,
quando se apresentava aos balcões, os olhares dos gerentes desviavam-se.
Desaparecera o tapete vermelho que antes lhe era estendido! A
única coisa notável que conseguiu fazer limitara-se a um seguro de vida de
300 mil euros, a favor de Clara… Uma
tarde foi encontrado morto no escritório. Dois
guardas da GNR, que procediam a uma notificação,
haviam notado o carro, ainda quente, nas traseiras. O dono não estava à vista
nem respondia. Uma leve pressão na porta pôs à vista a tragédia. Compareceram
a Judiciária e o legista. Segundo este, a morte resultara de dois tiros: um
no ouvido direito, o outro, mais cima, que fizera espalhar um bocado do
cérebro. Disparos à queima-roupa, facto testemunhado pelos resquícios de
pólvora no rosto. Chamou a atenção para os dedos, indicador e superior da mão
direita, envolvidos numa grossa camada de adesivos, explicados por uma caixa
de lâminas caídas no lavatório da casa de banho, com vestígios de sangue e a
máquina de barbear, antiga, aberta… Não
chegara a barbear-se. Havia
vestígios de pólvora em ambas as mãos, facto não representativo, pois a
vítima, apurou-se, era um apreciador de armas, que disparava com as duas
mãos, ao estilo policial. Assinalado
o local das cápsulas caídas (uma terceira foi encontrada debaixo do corpo, o
que inferia que a vítima estaria de pé quando atingida e houvera um terceiro
disparo que alcançara o tecto) e da automática, bem
acondicionadas para remessa ao laboratório, recolheram outros indícios, tais
como rastos dos veículos junto à moradia e uma pegada de um sapato feminino
no degrau do escritório. Olga
e Clara foram interrogadas. Ambas negaram qualquer envolvimento na morte do
construtor, se bem que reconhecessem a presença (a pegada é de Clara) junto
da moradia na manhã fatídica. Olga, numa tentativa tardia de acordo, a
advogada por razões profissionais. Nenhuma chegou a ver Aguiar e nunca viram
a arma, afirmaram. Esta, testada no laboratório, era uma Beretta
M84, calibre 7,65 (arma proibida) para 13 munições, com adaptação de
cremalheira 93 R. Disparara as 3 cápsulas, contendo
o carregador 10 intactas. Nenhuma delas tem impressões digitais, se bem que a
arma, exteriormente as tivesse, da vítima… Desta
forma, continuam de pé todas as hipóteses, pelo que recorremos aos nossos
leitores, solucionistas-investigadores, que acompanharam a par e passo a
investigação narrada… A
– Houve acidente? B
– Tratou-se de suicídio? C
– Olga matou o marido? D
– Foi Clara quem matou o construtor? |
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© DANIEL FALCÃO |
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