Publicação: “Público” Data: 7 de Junho de 2009 Campeonato Nacional
2008-09 Taça de Portugal 2008-09
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2008-09 PROVA Nº 8 O INSPECTOR FIDALGO E A
MORTE PELA NET Autor: Inspector Fidalgo Jorge Figger é um dos rostos mais
conhecidos nos mundos complexos da Finança e do chamado jet-set. Rico até mais não, acumula a
particularidade de ter passado por um processo educacional de excelência, nos
melhores colégios a nível mundial, sendo apontado como um dos maiores
exemplos de cumprimento das regras da boa educação e dos protocolos, mesmo os
mais rigorosos. De uma simpatia a toda a prova, não lhe é conhecido um único deslize,
quer no relacionamento com outros vultos da chamada aristocracia, quer nas
relações com empregados ou com o mais comum dos mortais. Por outro lado, a sua assumida paixão pela asa-delta, de que
é exímio praticante, fá-lo acumular uma enorme quantidade de aparelhos e
equipamentos, que agora estão em exposição pública num armazém da cidade do
Porto, o que aumenta a sua popularidade junto da malta mais radical. Infelizmente para Jorge, uma violenta tempestade abateu-se
sobre a zona e o seu voo acabou na Ilha do Pico, sendo todo o tráfego
proibido, logo a seguir… Na cidade da Horta, a escassos quilómetros dali, sem nada
saber da tentativa de surpresa, Maria da Graça estava em casa, sentada ao
computador, em cavaqueira informática com amigos. Subitamente, ergueu-se e saiu do campo de visão, regressando
pouco depois, enquanto um vulto alto, cerca de 1 metro e 90, envergando uma
espécie de fato-macaco de cor avermelhada, apareceu na imagem, de costas,
rumando ao fundo da sala, onde era visível uma porta que, uma vez aberta,
revelou ser uma casa de banho. O vulto levantou a tampa da sanita e, sempre
de costas para a porta, demorou algum tempo a urinar. Depois, vê-se a accionar o autoclismo e a virar-se para o seu lado
direito, debruçando-se ligeiramente sobre um lavatório onde lavou as mãos,
esfregando-as de seguida contra o fato, para as enxugar, antes de avançar em direcção à moça que continuou a dedilhar o teclado até se
abater sobre ela um objecto parecido com um pé de
cabra e ela desaparecer do ecrã. Uma segunda arremetida do objecto, desta feita sobre o computador, fez terminar a
transmissão. – De onde apareceu isto? – Foi aquele moço, ali ao fundo. Estava a comunicar com a rapariga,
que estava nos Açores, na Horta, quando gravou estas imagens… Até a rádio já
fala disso, parece que mete um tipo da “alta”, tudo se encaixa como uma luva! – Sim, senhor. – Porque não veio logo? – Senhor inspector, só há pouco vi
as imagens. Estava a comunicar com a Graça, mas tive de me ausentar, fui à
casa de banho e depois aproveitei para ir comer alguma coisa. Quando cheguei,
já não havia imagem, julguei que ela se tivesse ido embora e não pensei mais
nisso. Ao ouvir nas notícias da rádio que se tratava da namorada de um
conhecido multimilionário, percebi que era ela e fui ao computador recuperar
a gravação que costumo fazer sempre que me afasto do computador. E vi isto. – Deixe ver se percebi. O senhor grava as imagens quando tem
que se afastar, mas não grava quando está lá, é isso? – Sim, senhor inspector. – E som, não tem? – Não, só texto e imagem. – E não teve curiosidade em ir ver se ela tinha mesmo ido
embora da comunicação? – Não, senhor inspector, é usual que as comunicações vão abaixo quando há
temporais lá. E a Graça referiu que havia forte temporal. Não estranhei nada. – Conheceu-a onde? – Foi minha colega na faculdade e, quando regressou a casa,
ficámos amigos e vemo-nos na Net. – Fui no meu avião aos Açores e tivemos que aterrar no Pico,
com muito mau tempo. Ainda no aeroporto tentei ligar à Graça, mas ninguém me
atendeu. Ela não deixa o telemóvel gravar mensagens. Depois, consegui alugar
lá um carro e fui dar uma volta, passar o tempo, ver se melhoravam as
condições climatéricas. Antes, telefonei a um amigo da Horta, o Vasco, com
quem tinha combinado fazer esta surpresa à Graça e ele atendeu-me. Mostrou-se
muito decepcionado e pareceu-me nervoso, mas
ouviam-se os trovões em fundo e a tempestade estava terrível. Talvez fosse
por isso… Depois, a tempestade abrandou bastante mas só me deixaram rumar a
Lisboa. Não consegui nenhum contacto com a Graça e só soube da notícia pela
rádio. Estou arrasado! – Esse seu amigo… – O Vasco! É o meu melhor amigo. Foi através dele que
conheci a Graça, que era sua vizinha. É um amante da asa-delta, tal como eu e
esteve muitas vezes comigo em competições e eventos. A última vez que o vi
foi na inauguração da exposição de todos os meus aparelhos, no Porto, quando
tive o acidente. – Já viu as imagens que temos? – Sim, estou profundamente chocado… – Vimos fotos suas, em competição, e estava com aquele fato.
Exactamente aquele! – Aquele é o meu fato? Não pode ser, esse está na exposição
do Porto, ou pelo menos devia estar! – E dos Açores chegou-nos a informação de que uma das suas
asas-deltas foi encontrada escondida a cerca de 100 metros da casa da sua
namorada… – Não é possível! Peço-lhe imensa desculpa, mas isso é
impossível! Todo o material está exposto! – Pois o seu capacete e o fato estão lá, na Horta, também! – … – O seu amigo Vasco tem uma compleição igual à sua e está
desaparecido. Não sabemos dele, ninguém o viu desde ontem à noite. Sabemos
também que a asa-delta, o fato e o capacete desapareceram da exposição logo
no seu início, mas nada foi participado à polícia… |
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DANIEL FALCÃO |
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