DIA UM (…) BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2018 BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2019 BORDA
D'ÁGUA DO CONTO CURTO - 2020 |
DIA UM O primeiro dia
de cada mês representa, para Januário Janvier, um
dia único e imprescindível. Janvier é um jovem
distinto que fará em breve 25 anos – tantos quanto o milénio. Nascera em
França por mero acidente, ou talvez não, já que os pais e os avós eram
franceses. O bisavô paterno, de quem Januário herdara o nome, teria emigrado
de uma desconhecida aldeia beirã para os arredores de Paris, logo após o
final da II Guerra Mundial e por lá ficou. Janvier começara o primeiro dia deste ano com um frugal
pequeno-almoço matinal. Era pouco dado a festejos de passagem de ano e
preferia a tranquilidade do seu lar e o conforto do sofá de marca. Depois,
resistia até ao limite do suportável. Sabia que iria executar uma tarefa que
lhe traria a satisfação máxima. “Adiar um pouco a recompensa para aumentar o
grau de prazer” era o seu lema. Conservador e tradicional por natureza, abria o invólucro transparente da agenda em papel e
iniciava um ritual que mantinha, sem falhas, desde os 15 anos de idade. As
folhas imaculadas da agenda aguardavam, expectantes, a tinta da caneta de Janvier. Este, começava então a
anotar cuidadosa e sistematicamente, no dia 1 de todos os meses de 2025, cada
assassínio que tencionava cometer. Alinhava os detalhes do crime, numa cifra
que só ele conhecia. Até agora nunca tinha deixado de cumprir as marcações da
agenda. Era um serial killer
perfeito. Fontes: Blogue Repórter de
Ocasião, 17 de Agosto de 2025 Borda
D’Água do Conto Curto, Edições Fora da Lei, Ano de 2025 |
© DANIEL FALCÃO |
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