Publicação: “O Almeirinense” Data: 1 de Junho de 2006 Torneio Primavera
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TORNEIO PRIMAVERA PROBLEMA Nº 1 ATROPELAMENTO MORTAL Autor: Zé da Vila O Inspector
Gustavo, o G.B. da "Judite" (minha senhora, o seu digno esposo é exemplar;
esta "Judite" é uma respeitável instituição) é um investigador
culto, sagaz, que a P.J. admira e não dispensa. Apesar das células cinzentas
trabalharem a meio tempo, a sonhar, simultaneamente, com Ferraris, a restante
metade sobeja para intervir e deslindar os complicados casos, por vezes
esfíngicos, da sua profissão. Na última semana,
numa das suas mais do que escassas folgas, aproveitou para visitar um colega,
convalescente e furioso por ter sido ferido numa perna com uma bala que, em
regra, destina aos situados do lado oposto da barreira da justiça. Alguém
comentara que a saída da capital se destinara, em boa verdade, a experimentar
a nova "bomba" de quatro rodas e um roncar de avião em subida… um
Alfa 159! Invejas, claro! Quando retornava,
mal andara cerca de dez minutos, a tempestade desabou. Chuva a cântaros que o
obrigava a conduzir com prudência, servindo-se de toda a perícia;
limpa-pára-brisas a trabalhar a toda a velocidade, olhos postos na estrada à sua
frente. Subitamente, ainda que conduzindo devagar, teve de travar a fundo,
para não chocar com um veículo de alta cilindrada que lhe surgiu,
atravessado, bloqueando a estrada. O motor trabalhava, em cadência. Para evitar surpresas, G.B. passou a pistola para o bolso e saiu do
carro. Segundos depois, encontrava-se todo molhado. Em frente do carro, parado a alguns metros de
distância, deparou com o corpo de um ciclista, caído sobre o asfalto. A
bicicleta estava praticamente destruída pelo pára-choques do carro parado,
amachucado e com vestígios de tinta da cor da bicicleta destroçada. O pulso
do sinistrado não tinha reacção… uma vida que se fora! Abriu a porta do carro
onde um indivíduo se encontrava, desmaiado, sobre o volante, com um golpe na
testa. O ar frio e a chuva fizeram o homem recuperar. – Foi o súbito
aguaceiro que me cegou, declarou. Vi o ciclista demasiado tarde. Travei e derrapei… lamento! Sou
Vasco Campos. G.B. pediu uma
ambulância para o ciclista, ainda que inútil para o salvamento da sua vida. Depois das
medições e apontamentos, ajudou o condutor a entrar no carro da G.N.R. que
acompanhara a ambulância, recomendando: – Vejam se o Sr. Vasco bebeu de mais. Ia demasiado depressa! Não foi a
falta de visibilidade a razão do acidente. Podem ir. Eu tiro o carro
sinistrado, que continua a trabalhar, para a berma e sinalizo-o. Posto isto, entrou no carro do acidente, pôs o limpa-pára-brisas a
trabalhar e conduziu-o para a berma da estrada, sinalizando, depois, a sua
presença… Entrou no 159, encharcado e lastimando o seu estado, ao sentar-se
sobre os estofos novos… Pergunta-se: Que levou G.B. a denunciar o automobilista? |
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DANIEL FALCÃO |
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