Publicação: “O Almeirinense” Data: 15 de Junho de 2006 Torneio Primavera
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TORNEIO PRIMAVERA PROBLEMA Nº 2 UM ROUBO NA SEXTA-FEIRA Autor: Zé da Vila Tratava-se de um longo
memorando e não, propriamente, de uma exposição minuciosa, o documento que
acabara de ler sobre prioridades investigativas da Judite. Se não fosse o
facto de o considerar informal, não desprovido de uma pitada de humor,
tê-lo-ia arquivado com uma gargalhada sonora, bem ao seu jeito – o que não
era invulgar para um indivíduo que, em quaisquer circunstâncias, mesmo de
apuro, era o espelho do optimismo. Ao fechar o arquivo, G.B. deu-se conta de
um invulgar silêncio, num Departamento em que a nota saliente era o rumor:
conversas, perguntas e respostas, telefonemas… Afinal, era sexta-feira, o
expediente fechara há mais de duas horas e a permuta de turnos estava
efectuada, deixando o mínimo de efectivos para assegurar a regularidade nos
homicídios, no roubo e noutras secções. Começou a vestir o
casaco, já a pensar no ar puro de uma boa pescaria, quando a ordem chegou:
"G.B., entra em acção! A caminho de casa, passa pela rua X e vê o que se
passa com Y. Não temos pessoal disponível!" Nem vinte minutos
depois, parava na vivenda ajardinada de Reinaldo Lopes. Um carro da P.S.P.,
com dois agentes, aguardava. Juntou-se ao secretário particular de R.L. e ao
jardineiro; subiram. Na ampla sala-escritório, entre duas secretárias, frente
a frente, encontrava-se um cofre aberto e alguns papéis no chão. Ao centro da
sala, numa mesa leve e redonda, assente sobre um caro tapete, sobressaía um
vaso com bem tratadas begónias. Atada à mesa, uma forte corda atravessava o
aposento até à janela aberta… Dinis, o
secretário, explicou: – Esta tarde fui levantar 200.000€ ao Banco, que
entreguei ao Sr. Lopes. Depois de contar o dinheiro, encarregou-me de fazer
os recibos dos salários dos empregados da fábrica e colocar a respectiva
importância em envelopes individuais, já que ele ia ter um fïm-de-semana
prolongado e queria que os pagamentos fossem feitos na segunda-feira, de
manhã. Distribuí o dinheiro em lotes, quando me pareceu ouvir um ruído lá em
baixo. Desci e, porque nada de estranho tenha encontrado, voltei, a tempo de
ver um homem agarrado à corda e a descer pela janela… – Eu também vi,
interrompeu o jardineiro. Ainda o vi agarrado à corda. Corri atrás dele, mas
desapareceu. O secretário voltou a tomar a palavra para lamentar o
desaparecimento do dinheiro levantado e ainda alguns trocos que estavam no
cofre, que o patrão deixara aberto. Tranquilamente, o
inspector G.B. limpou os óculos e observou, ainda mais serenamente: – Bem, preferem
entregar já o dinheiro ou esperam para serem submetidos a um interrogatório
legal? Pergunta-se: Que
levou G.B. a suspeitar dos empregados? |
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©
DANIEL FALCÃO |
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