Autor

Adaptação de original estrangeiro

 

Data

Agosto de 1948

 

Secção

É o leitor um bom detective?

 

Competição

Concurso do Problema Policial

Problema nº 2

 

Publicação

Altura – nº 15

 

 

 

O CASO CURRY

Adaptação de original estrangeiro

 

Eram cinco horas da tarde quando o inspector Drowns recebeu o telefonema. Tratava-se de ir a casa dum tal Curry que, ao parecer, se havia suicidado. O telefonema provinha do agente de serviço na área do sucesso, que, tendo encontrado indícios suspeitos, se apressava a informar disso o seu superior.

O inspector Drowns seguiu imediatamente para a casa indicada. Veio abrir--lhe a porta um criado velho, muito aflito e choroso.

- É da polícia?

O inspector declinou a sua identidade e entrou.

- Então que sucedeu? – perguntou ele ao criado.

- Foi o meu pobre amo que se matou. Os senhores estão lá em cima. Faz favor de subir.

- Quem são os senhores de que fala? – perguntou o polícia.

- São dois velhos amigos do patrão, que o vieram visitar ontem e que aqui passou a noite. Eram muito amigos, ao que parece, mas um deles, o senhor Ralph Mallinson, teve com ele uma grande discussão esta manhã.

- Não sabe porquê? - tornou a perguntar o inspector.

O homem ia responder quando apareceu ao alto da escada um rapaz novo, de aspecto agradável, que se dirigiu ao inspector:

- Queira subir, inspector, mas não me parece que tenha muito que fazer aqui. Infelizmente o meu padrinho suicidou-se, e tudo é caro como água. Parece que sofria dum mal incurável.

- Quem é este sujeito? - perguntou Drowns ao criado, demorando propositadamente a tirar o casaco.

- É o senhor Joe, filho do senhor Mallinson e afilhado do meu patrão. Parece que o meu amo queria modificar o testamento que tinha feito a seu favor, por ele ter casado contra sua vontade.

O inspector subiu vagarosamente a escada e dirigiu-se para o quarto onde estava o morto. O quarto ficava ao fundo de um corredor, com portas de um lado e do outro, e para lá chegar era necessário atravessar um pequeno hall.

No hall, sentado numa cadeira de braços e profundamente abatido, estava Ralph Mallinson. À chegada do polícia, levantou-se.

- Meu pobre Harry, pobre amigo! Sabia que o mal era incurável e não quis esperar pelo desfecho.

O inspector abriu a porta do quarto, onde o aguardava o agente e entrou fechando-a atrás de si.

Depois de ouvir um sucinto relato da boca do seu subordinado, Drowns pôs-se a examinar o cadáver. Estava sentado numa cadeira, ao pé da secretária, a cabeça pendente sobre o peito. Na região temporal direita, mostrava um pequeno orifício de onde saía um laivo de sangue, já coagulado, que se estendia na direcção do ouvido. A mão direita, que repousava sobre o braço da cadeira, segurava uma pistola calibre 6,35, com silenciador.

O inspector deu uma volta pela sala e notou que tudo estava em perfeita ordem. Deu algumas breves instruções ao agente e saiu para o hall.

Drowns reuniu os Mallinson, pai e filho, e o criado, e fez algumas perguntas.

- Uma formalidade, apenas – informou delicadamente.

Soube que às quatro e meia, quando o criado ia levar o chá ao amo encontrou-o morto e na posição em que actualmente estava. Sem avisar os Mallinson, saiu para a rua e chamou o guarda que entrou imediatamente e não permitiu que ninguém entrasse no quarto. Também soube que Mallinson fora chamado por Curry para lhe dar conhecimento de algumas disposições testamentárias que se propunha fazer e que afectavam o filho; este acompanhou o pai, mas o padrinho negou-se a recebê-lo, permitindo, contudo, que ficasse na casa até ao dia seguinte.

- Já cá tinham estado anteriormente? – perguntou o inspector, dirigindo-se aos Mallinson.

- Eu, sim, por várias vezes – informou o pai, - mas meu filho era a primeira vez que vinha a casa do padrinho; sempre que precisava dele ou o padrinho o mandava chamar, era no escritório deste que se encontravam.

- Porque veio desta vez?

- Compreende, senhor inspector… era necessário deitar água na fervura. Além disto, Curry estava muito doente e o rapaz tinha obrigação de cá vir.

- Bem, meus senhores, não os maço mais. Podem retirar o cadáver da cadeira e deitá-lo no leito; posso ajudá-los enquanto estou aqui.

Dirigiram-se todos para o quarto, excepto o criado, que foi mandado pelo inspector esperar no hall.    

O quarto estava completamente às escuras, quando o inspector abriu a porta dar passagem aos Mallison.

- Então Myke essa luz? Porque fechou as janelas?

Myke, o agente, não respondeu, mas ouviram-no ressonar.

Drowns procurou o interruptor na parede, à esquerda da porta mas Joe Mallinson estendeu prontamente o braço para a direita abrindo a luz.

Myke, que estava acocorado a um canto a dormir beatificamente, acordou estremunhado e apressou-se a abrir as janelas.

- Desculpe, inspector, mas tenho andado tão fatigado que resolvi aproveitar enquanto esperava.

Drowns limitou-se a um encolher de ombros.

Depois de levarem o corpo de Curry para o leito, saíram todos para o hall e o inspector deu uma voz de prisão.

 

Pergunta-se:

A QUEM PRENDEU O INSPECTOR, E PORQUE RAZÃO O FEZ?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO