Autor Data Dezembro de 1977 Secção Enigma Policiário [21] Competição I
Grande Torneio de Divulgação 5º Problema Publicação Passatempo [43] |
NOS MARES DA GROENLÂNDIA Detective Misterioso O pescador de
bacalhau António Peixinho, chegado da faina da pesca, apresentou-se na
Companhia de Seguros X, a fim de receber um seguro de vida deixado pelo seu
camarada Manuel Silva. A apólice que
nem parecia ter andado por mãos de pescadores, apresentava-se dobrada em
quatro, e onde todos os seus escritos se encontravam bem legíveis, foi
entregue na Companhia para as devidas formalidades. Porém, e como sempre
acontece, a Companhia quis saber pormenores do caso, tanto mais que este se
passara bem longe do país. Introduzido no
gabinete, onde por casualidade se encontrava o Insp.
Prata Rodrigues por ter ido visitar o seu amigo Matias, perito da Companhia,
o Peixinho começou a narrativa: «Eu e o Manel
éramos muito amigos pois fomos criados lado a lado em casa de meus pais que o
recolheram quando ele perdeu os seus e ficou só. Este ano,
antes de partirmos para a pesca, ele fez o seguro de vida em meu nome,
dizendo não ser ainda suficiente para testemunhar toda a gratidão por tudo
quanto por ele meus pais fizeram. Nos bancos de
pesca, sempre que era possível, pescávamos no mesmo local auxiliando-nos
mutuamente. Naquela manhã,
o frio era cortante, mas a pesca não podia parar. Assim lá fomos os dois cada
um no seu dóri em busca do bacalhau. Fundeámos e começamos a faina, mas a
determinada altura o Manel desequilibrou-se e caiu ao mar. Imediatamente fui
em seu auxílio, tendo-o içado para o meu dóri. Como se encontrasse gelado
devido ao forçado banho, tirei-lhe o casaco e a camisola de lã e friccionei-o
dando-lhe de beber aguardente que levava comigo, mas as frígidas águas
daquelas águas não perdoam. Do ferimento
que fizera na cabeça o sangue saía em borbulhões, sendo infrutífero tudo o
que fiz para o estancar. Adivinhando a aproximação do fim, o meu colega
pediu-me que lhe tirasse a carteira que se encontrava no bolso do casaco. Satisfeito o
seu pedido, tirou a apólice entregando-ma dizendo para eu receber o seguro
caso ele viesse a morrer. Remei com
quantas forças tinha para que o meu companheiro chegasse ao navio ainda com vida,
porém todos os meus esforços foram em vão, pois antes de lá termos chegado
ele dava o seu último suspiro…» Terminada a
sua história, o Peixinho deixou o gabinete. Assim que a
porta se fechou o perito, virando-se para o Inspector
Prata Rodrigues, exclamou: – Felizmente
que ainda há pessoas reconhecidas. Este Manuel Silva não quis morrer sem
liquidar aquilo que ele considerava uma dívida. Prata
Rodrigues, pousando na secretária do amigo a apólice entregue pelo Peixinho,
retorquiu: – De facto
assim é, porém a história que este homem acaba de impingir está longe de ser
verdadeira o que me leva a crer ter sido ele o assassino do amigo. Pergunta-se:
Perfilha da mesma opinião? Porquê? |
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© DANIEL FALCÃO |
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