Autor Data Dezembro de 1976 Secção Competição Volta
a Portugal em Problemas Policiais 5ª Etapa (Guimarães – Chaves – Bragança – Mirandela – Vila Real – Lamego –
Viseu) Publicação Passatempo [31] |
OS CINCO E O LIVRO Inspector Moisés Formavam uma
estranha comunidade: todos deficientes, acabavam,
contudo, por se tornar úteis uns aos outros; melhor: imprescindíveis! Havia um cego,
outro que só andava em cadeira de rodas, um terceiro era mudo (paralisia da
laringe), outro surdo (otoesclerose), e o quinto
media apenas cerca de 0,90 metros de altura. Reformados
(embora não se pudessem considerar todos velhos), sem família, ali viviam os
restos dos seus dias, procurando na leitura, nas intermináveis conversas, nos
passeios ao longo da quinta, na música, nos serões da T'V e da rádio ou nos
mais variados jogos, ocupar os seus tempos agora sempre livres – ironia que o
destino a rodos reservara; enquanto tiveram toneladas de energia, faltara o
tempo; agora, então, sobejava o tempo e, para alguns, já era bem escassa a
energia… Mas, contemos
a nossa história. Quando o meu
amigo, Eduardo de Castro, foi visitar aquela casa, de que tanto ouvira falar,
recebeu-o à entrada um dos locatários, que lhe disse: «O senhor, que tanto
gosta de mistérios, vem mesmo a calhar, pois desapareceu um livro de muito
valor da nossa Biblioteca e não há maneira de sabermos como isso sucedeu, nem
quem o fez». Ao
dirigirem-se à Biblioteca, passaram por uma sala, onde outro hóspede, de fato
um pouco coçado (e em que se notava, sobretudo, certa sujidade nos ombros do
casaco) rodeado de vária aparelhagem de som – gira-discos, gravadores,
microfones, etc. – de olhar fixo e gestos mecânicos mas precisos, trabalhava
atentamente, «gravando o programa interno, para esta tarde», segundo disse. O cicerone do
meu amigo, dirigiu-lhe a palavra: «Estão cá todos?» E ele
respondeu: «Penso que não; O Emir foi ao correio, como é costume.» A cadeira de
rodas continuou a indicar o caminho a Eduardo de Castro, até que chegaram,
enfim, à Biblioteca. O responsável
por ela escreveu ao meu amigo o que se passava: «Só eu e o meu ajudante é que
temos chaves desta sala. Mais: à altura da estante de onde desapareceu o
livro, só é possível chegar com a ajuda do escadote, que, por acaso, passou
toda a noite no meu quarto, pois precisei de substituir a lâmpada do tecto, ontem, e não quiz fazer
barulho a trazê-lo de novo para aqui.» Eduardo de
Castro observou que as estantes tinham algum pó e que, no local de onde fora
retirado o livro, havia várias impressões digitais, pelo que pediu a presença
de todos, ali, afim de as poder comparar. Edmar saiu e,
passados instantes, regressou na companhia de Edgar. As impressões
digitais encontradas eram de dois tipos diferentes: umas, iguais às de
Edmaro, mas as outras não correspondiam a ninguém conhecido… O meu amigo
escreveu, então, umas linhas de papel que entregou ao ajudante do
Bibliotecário. Este leu o papel e falou assim: «Ontem à noite, antes de me ir
deitar, vim a esta sala, com o Edmaro, e posso garantir que o livro ainda ali
estava. A minha chave esteve sempre comigo, na mesinha de cabeceira, de onde
a tirei hoje, bem cedo, quando aqui voltei disposto a limpar o pó e a dar uma
arrumadela a tudo. Foi nessa altura que dei pela falta do livro». O
Bibliotecário confirmou, acenando com à cabeça, em gesto afirmativo… Eduardo de
Castro quis, então, visitar os quartos, que percorreu e inspeccionou
de alto a baixo. Aliás, sem resultado. Do tal livro
nem sombra. Não havia dúvida que não estava naquela casa. Ficou, no entanto,
a saber que o Edgar dormia com o Edmur e o Emir, enquanto
que os outros dois ficavam noutro quarto, ao lado. O meu amigo
ficou por instantes pensativo, depois de ter dado por findas as
investigações. Finalmente, murmurou: «Realmente, o livro foi roubado e posso
até afirmar que nem foi ninguém estranho a esta casa quem o tirou. O assunto
está resolvido!». Nesse preciso
momento, chegou o Edmir com o correio mas, desta vez, nem a sua chegada (que
sempre causava alguma excitação entre todos «para saber se veio alguma coisa
para mim») foi o bastante para quebrar o interesse de que todos estavam possuidos. E foi já na presença dos cinco deficientes que
Eduardo de Castro desenvolveu então a sua ideia e desvendou o mistério do
livro desaparecido – que, aliás, comprovou imediatamente. PEDE-SE: 1º – A
indicação das deficiências e das actividades
correspondentes a cada um dos cinco nomes citados no texto (as actividades podem resumir-se assim: cicerone, operador de
som, correio, bibliotecário e ajudante de bibliotecário); 2º – A
justificação de como chegou a esse resultado; 3º – A
indicação de quem roubou o livro, e 4º – A
justificação da afirmação feita sobre a alínea anterior, com a explicação de
como pensa que tudo se tenha passado. |
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© DANIEL FALCÃO |
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