Autor

Inspetor Boavida

 

Data

8 de Abril de 2021

 

Secção

Policiário [66]

 

Competição

Torneio do Centenário do Sete de Espadas

Prova nº 3 – B

 

Publicação

Sábado [884]

 

 

CRIME NA VIVENDA DOS ALVES

Inspetor Boavida

 

Abel e Belinda Alves mandaram construir uma piscina na sua vivenda, após o regresso de Paris, cidade onde os pais de ambos estiveram exilados até à Revolução dos Cravos, eram eles ainda crianças, e decidiram convidar dois casais amigos para a sua inauguração no Dia da Liberdade. Passaram uma agradável tarde de convívio, entre mergulhos e alegre cavaqueira, muitas bebidas e sonoras gargalhadas. O fim de tarde foi preenchido por um churrasco que durou até às tantas, onde o vinho jorrou a rodos, até que o cansaço os levou para a cama, em três quartos distintos. Na manhã seguinte, quando o anfitrião desceu para tomar o pequeno-almoço, encontrou Catarina Bastos no chão da cozinha, morta com uma facada. Em pânico, Abel Alves ligou de imediato para a polícia.

Com a sua “promoção” a chefe, o conteúdo funcional de Pinguinhas deixou de compreender atividade no terreno. Há quase 11 anos, desde que acabaram com o posto de subchefe, que passava praticamente todo o tempo de serviço a desempenhar funções de comando no posto onde foi colocado, no Restelo. E deixou assim de executar tarefas de caráter operacional, nomeadamente nos domínios do patrulhamento, da ordem e da segurança públicas, da prevenção e investigação criminal, que foram a razão do seu alistamento na PSP. Com saudades desses tempos, o Pinguinhas não resistiu em assumir ele próprio a deslocação à vivenda dos Alves quando a chamada foi recebida na esquadra.

Antes da chegada do piquete da PJ, que se encarregaria do caso, Pinguinhas decidiu agir por conta própria. E junto à entrada da cozinha onde impedia que alguém se acercasse do cadáver e pudesse contaminar o local do crime, foi fazendo algumas perguntas, de forma isolada, a todas as pessoas presentes. Abel contou que acordou por volta das 9h30, com uma forte dor de cabeça, pelo que resolveu tomar um banho de imersão de água morna, tendo-se levantado às escuras para não incomodar a esposa que ainda dormia. Após o banho, que terá durado pouco mais de meia hora, desceu até à cozinha com o pensamento num prato de cereais e deu com o corpo de Catarina sem vida.

Belinda Alves afirmou que foi acordada com a campainha da porta, passava pouco das 9h30 e ainda estava meio zonza das bebidas da noite anterior. Disse que ouviu água a correr na casa de banho e percebeu que o marido se preparava para tomar banho. Por isso, terá vestido um robe à pressa e desceu. Explicou depois que a caixa de correio estava danificada, pelo que o carteiro tocava sempre à porta quando havia correspondência para ela ou para o marido. Disse que voltou então para o seu quarto e quando se preparava para o habitual banho matinal ouviu subitamente uns gritos alucinantes do marido no piso inferior. Correu escadas abaixo e quando chegou à cozinha já lá estava o casal Costa.

Daniel Costa disse que estava na piscina desde as 8h, a aproveitar os primeiros raios de sol da manhã, e que foi surpreendido pelos gritos de Abel quando este se deparou com o corpo de Catarina já sem vida. Disse que tem por hábito levantar-se muito cedo e que tanto ele como a mulher são amantes de sol, pelo que desceram juntos diretamente para a piscina sem passar pelos lados da cozinha. Confessou que durante o tempo em que estiveram na piscina conversaram sobre os momentos vividos na noite anterior, que foi de excessos, de muitos copos e algumas drogas leves, manifestações de ternura e carinho e recordações dos amores do passado, das pequenas loucuras e paixões da juventude.

Esmeralda Costa corroborou quase tudo o que disse o seu marido, com uma pequena diferença. Ela saiu do quarto juntamente com o marido, mas voltou atrás por instantes para pegar um protetor solar. Quando chegou à piscina, já Daniel preparava as duas espreguiçadeiras onde ambos se estenderam ao sol. Estiveram assim, à conversa, durante longos minutos, e, quando se preparavam para o primeiro mergulho na piscina, eram 10h, ouviram os gritos de Abel. Ao chegarem à cozinha depararam com o corpo de Catarina estendido no chão, numa poça de sangue e o marido de Belinda estava em estado de choque, refugiando-se nos braços da mulher quando esta chegou.

Felício Bastos chorava e tremia que nem varas verdes, repetindo vezes sem conta o quanto amava a sua mulher. A sua querida Catarina – dizia ele – não merecia uma morte assim e muito menos tão cedo, ela que era uma mulher cheia de energia e vitalidade, amiga do seu amigo, incapaz de fazer mal a uma mosca. Sentia-se culpado porque foi ele que convenceu a mulher a passar aqueles dias com o casal Alves, porque ela preferia fazer uma visita aos pais. Segundo ele, Catarina era muito madrugadora, ao contrário do marido que gostava de dormir até tarde. E foram também os gritos de Abel que o acordaram.

Com a chegada da equipa de investigadores da Polícia Judiciária, o chefe Pinguinhas deu por concluída a sua missão, depois de cumprimentar o inspetor Mesquita e sussurrar ao seu ouvido a quem se devia a autoria do crime em causa, justificando a razão da sua conclusão. E partiu com o sentido do dever cumprido para o seu posto de trabalho, onde o esperavam as mesmas rotinas de todos os dias. De quem desconfiava ele?

 

A – Abel Alves;

B – Belinda Alves;

C – Felício Bastos;

D – Daniel e Esmeralda Costa.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO