Autor

Inspetor Fidalgo

 

Data

2 de Abril de 2020

 

Secção

Policiário [13]

 

Competição

Torneio Sábado Policiário 2020

Prova nº 3 – Parte I

 

Publicação

Sábado [831]

 

 

O “ENGANO” DO INSPETOR FIDALGO

Inspetor Fidalgo

 

Uma das capacidades do Inspetor Fidalgo é a sua memória fotográfica infalível! Pelo menos disso se gabava e muitas vezes o confirmou, para gáudio e alguma inveja dos seus colegas. Por isso, sempre que havia algum acontecimento mais delicado para a segurança, era “mobilizado” para o aeroporto, onde percorria com o olhar arguto as filas dos que pretendiam entrar no país. De modo infalível, mandava retirar das filas aqueles que já tinham tido questões e criado problemas!

Naquela tarde, no entanto, as suas capacidades não pareciam estar em alta, quando mandou sair de uma das filas um homem baixo mas forte, de tez morena, com fortes traços de ser indiano. Fidalgo reconheceu-o de imediato, por uns anos antes ter causado desacatos numa receção de pessoas importantes.

Na altura, recordava-se, o cidadão indiano foi mesmo detido e expulso do país, com proibição de regresso. Mas agora ali estava, contrariando a sentença proferida…

– Mister, já sabe que não pode entrar em Portugal, não é verdade?

– Como diz? Não posso, porquê? Se tenho tudo em ordem…

A resposta em bom português não surpreendeu Fidalgo, que já estava à espera disso.

– Sabe bem porquê. Há uns anos foi detido por ter confrontado um líder político sobre um caso qualquer passado na Índia e foi proibido de regressar!

– Ora essa, não é verdade! É a primeira vez que venho a Portugal, nunca aqui estive! Sou natural da Índia, mas estou há muitos anos em Moçambique, na cidade da Beira, onde moro e venho cá pela primeira vez. Falo bem português porque em Moçambique é o que se fala, sabia? Tenho passaporte, estou legal e não percebo nada do que diz sobre eu ter já estado aqui, não é verdade!

– Pois, pois, faça o favor de vir para esta sala, para esclarecermos tudo…

Mais de uma hora depois, o imbróglio mantinha-se. Fidalgo reforçava que conhecia o indivíduo e este reafirmava que não era verdade. Nomes para cá, nomes para lá, passaporte para um lado, passaporte para outro e nada! Cada qual não saía da sua, até que o chefe teve de intervir e depois de fazer os testes possíveis, interrogatório mais aprofundado, confirmação de reservas e outras coisas, sem poder consultar a sistema informático inoperacional, acabou por pedir desculpa ao passageiro, permitindo-lhe a entrada.

Para Fidalgo, foi uma espécie de murro no estômago, ele que ostentava uma auréola de infalível, foi ali mesmo desautorizado, para mais na presença de um grupo de “maçaricos”, que olhavam para ele como olhariam um dinossauro!

– Mas, chefe, ele é mesmo…

– Chega, Fidalgo! Temos de ser rigorosos, não podemos atropelar os direitos de quem chega para nos visitar. Não há provas, temos de aceitar!

Mas

– Não há mais mas nem meio mas, ficamos por aqui. Toca a trabalhar, meus senhores…

O Fidalgo não ficou nada satisfeito, no fundo acabou por ser derrotado pela sua memória visual que nunca o abandonara, até então. Nem quis ficar a assistir à entrada do cidadão indiano morador em Moçambique, que percorreu todo o caminho em amena conversa com o chefe, que procurava assegurar-se que não apresentaria qualquer queixa, pedindo-lhe desculpas pelo ocorrido. No parque das viaturas de aluguer assistiu à assinatura dos papéis da viatura que reservara a partir de Moçambique e logo depois à sua partida, rápida e expedita, rumo a Sintra, onde se situava o hotel.

Uff! Ainda bem que não vai haver queixa… O Fidalgo ia arranjando uma boa trapalhada…

Será que o desabafo do chefe tem razão de ser? O Inspetor Fidalgo estava mesmo enganado? Justifique todas as suas afirmações.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO