Autor Data 7 de Maio de 2020 Secção Policiário [18] Competição Torneio Sábado Policiário 2020 Prova nº 4 – Parte I Publicação Sábado [836] |
O INSPETOR FIDALGO E A MORTE DE SEBASTIÃO Inspetor Fidalgo O
Sebastião apareceu morto! Naquele local ermo e calmo, algures no interior do
Ribatejo, em zona onde muitas vezes os nevoeiros têm o seu reinado, um nome
como o dele prestava-se a brincadeiras a propósito da lenda que mostraria um
Sebastião a aparecer numa manhã de nevoeiro… Diziam-lhe
os amigos para ter o cuidado de nunca aparecer quando os nevoeiros tapassem a
planície, pois poderia acabar em rei… sem trono! Sebastião não era rei de
coisa nenhuma. Filho
de um modesto caseiro de uma propriedade abastada,
teve a sorte de vir ao mundo com dois palmos de cara e assim conquistar a
filha do senhor das terras, algo que não era, como é óbvio, muito bem
recebido por este. Daí
que estivesse proibido de aparecer na parte da casa dos senhores, o que não
impedia, ao que se dizia, alguns encontros furtivos. Naquela
manhã, Alarcão, proprietário e pai de Carolina, levantou-se cedo, cerca das 7
horas e, como declarou mais tarde à polícia, não viu nada, porque o nevoeiro
ali é mesmo cerrado e também não ouviu nada estranho, nem os cães deram
sinal, pelo que foi logo fazer aquilo que mais gostava, ou seja, tratar dos
seus cães, mas muito rapidamente porque ainda era muito cedo e o vento forte
e gelado cortava a cara. O
casarão ficava na parte da frente do terreno, ainda a considerável distância
da estrada e era vedado em todo o seu perímetro por muros altos. Na parte de
trás do terreno, fora dos muros, estava a casa do caseiro, onde vivia
Sebastião. Todo
o terreno estava isolado de outros, uma vez que havia pinhais em toda a
volta, exceto na frente, onde passava a estrada. Do lado direito, havia um
caminho que dava acesso à casa do caseiro, ao longo do muro compacto, de mais
de 100 metros, apenas interrompido, quase no seu extremo, por um portão que
era usado por todos os que da casa do caseiro iam ou vinham para a casa de
Alarcão. Foi por volta das 8 horas que a mãe do moço deu com ele sem vida,
quando o foi chamar para o pequeno-almoço. Os
pais de Sebastião não deram por nada, segundo declararam, o mesmo acontecendo
com os moradores da casa de Alarcão. Os vizinhos mais próximos, do outro lado
do pinhal, disseram que apenas ouviram os cães em grande algazarra, por volta
das 7 e meia, como sempre faziam, quando o seu dono regressava a casa depois
de alguma ausência e o vento estava de feição. O
padeiro da aldeia, que circulava por ali, como sempre fazia por volta daquela
hora, na faina de levar o pão de porta em porta, declarou que não deu nota de
nada e que só viu, ao olhar da estrada, o senhor Alarcão a caminhar em
direção a sua casa, vindo dos lados da casa do caseiro, ainda não eram 8
horas. A
polícia interrogou o padeiro durante algum tempo. Sabia-se que Sebastião
namorara com a filha dele durante muito tempo e que chegaram a ter data
marcada para o casamento, mas a chegada da filha de Alarcão fez cair por
terra todos os planos. Mas o interrogatório não revelou muito mais. A
filha do padeiro, por seu lado, declarou não saber nada sobre o assunto, já
que nessa madrugada e manhã estivera com a mãe a fazer o pão que o pai levava
a casa das pessoas, o que se confirmou. Alarcão
manteve a sua história e mostrou-se muito ofendido por alguém alimentar
sequer a suspeita de que ele seria capaz de fazer tal atrocidade ao moço,
mesmo querendo, como ele queria, que ele largasse a sua filha, de vez. O
Inspetor Fidalgo não precisou de muito tempo para descobrir que alguém não
dizia toda a verdade nesta história e que, apesar do Sebastião jamais poder
surgir do nevoeiro, esse alguém também não o poderia fazer durante muito,
muito tempo… Elabore
um relatório, sem se esquecer que não basta dizer só quem mente. É preciso
justificar, apresentando provas. |
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© DANIEL FALCÃO |
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