Autor Data 24 de Abril de 1960 Secção Na Pista do Culpado [43] Competição Problema nº 3 Publicação Ordem Nova |
O LABIRINTO INFERNAL Insp. Silvar Sidónio era temente a Deus.
Mas nem por isso perdera o seu belo espírito de aventura. Leal como poucos, estava noivo quando Licínio lhe veio com a história do
tesouro no esconderijo mourisco. – Qual tesouro qual quê? – descrera, a princípio. Mas o camarada com tão sedutoras
tintas pintou o caso, que o conseguiu convencer. Sidónio conhecia muito bem
o local. Incontáveis vezes se pusera sobre a pedra que faz de tecto à enorme bocarra, pelas tardinhas, contemplando a
sua sombra de criança, esguia e enorme, que ultrapassava a própria largura do
rio. Era precisamente para este que a abertura dava, sendo a única entrada
para a grande caverna. Ficava a cerca de 50 metros do leito do rio, numa
linha mais ou menos vertical. Para além deste estendia-se uma enorme
planície. Ora, numa tarde dum
estranho domingo, Sidónio e Licínio saíram secretamente do povoado, munidos
de cordas e até de picaretas. Chegaram à caverna. Sidónio, como era mais
ágil, foi o preferido para enfrentar o abismo e introduzir-se na misteriosa
gruta a examinar. Saltou, pendurou-se, encontrou apoio e ei-lo, sorridente, a
pedir a ponta da corda para se guiar, quando saísse. Pediu depois o archote,
acendeu-o e entrou. Percorreu uma enorme mina. Nada encontrou. Apagou-se o
archote, e decidiu sair. Teve uma sensação desagradável ao notar uma estranha
lassidão na corda. Puxou e ela obedeceu. Então, como louco, pôs-se a segui-la
e encontrou a outra ponta. Desorientado, gritou: –
Licínio! Licínio! Inúmeras vozes repetiram o
seu chamamento. E o som duma gargalhada diabólica chegou aos seus ouvidos,
vinda duma direcção imprevisível. Sem qualquer possibilidade
de orientação, atirou-se para a frente e deu com o muro. Recuou, caiu,
levantou-se e, como doido, prosseguiu. Deu com o fim, voltou para trás,
encontrou a passagem obstruída. Desistiu. Estava perdido num labirinto
infernal e desconhecido. Arrasado, sentou-se. E orou. Depois adormeceu,
lamentando não se haver confessado nesse dia. Acordou muitas vezes com pesadelos.
Quanto tempo se terá passado? Horas? Dias? Sempre a mesma escuridão... Já
sentia fome, desiludido, quando lhe surgiu uma hipótese: “E um milagre?” Sim,
porque só um milagre o poderia ainda salvar. Esperançado, abriu os olhos
e…oh! Luz Divina! O milagre deu-se!... Encontrou uma maneira de sair dali… E saiu, ia, porém, tentar
escalar sobre o abismo, à força de pulso, a distância que o separava da rocha
firme, quando uma enorme pancada na cabeça o fez perder o equilíbrio, e
precipitar-se no rio, soltando um grito. A guarda rural, nesse mesmo
dia, veio a tomar conhecimento da ocorrência, a pedido de Licínio. Este
contou-lhes que, no dia anterior, Sidónio se introduziu na caverna e nunca
mais regressara. Angustiado, ele, Licínio, partira pra a aldeia, já de noite,
nada contando, na esperança de que, com o tempo, Sidónio conseguisse
encontrar a saída. Nem foi capaz de dormir. E, pela madrugada, ainda brilhava
a estrela da manhã, já ele estava junto da caverna, numa espera angustiada.
Ora, passados uns cinco minutos de lá estar, ouviu um ruido, depois um grito
horrível e viu um corpo precipitar-se, na semi-escuridão,
para o rio. Contornou a elevação e atirou-se à água. Sidónio estava morto. Não havia testemunhas
oculares, além dele, e alguns populares disseram que Licínio tinha aparecido
cerca das oito horas, todo molhado e desorientado, na povoação. Ele
confirmou, declarando que tivera um trabalhão para retirar o corpo do
profundo poço. Sucede que o Insp. Silvar, em gozo de férias, resolveu passar o mês de
Agosto naquela terriola. O sol já queimava, quando lhe chegou aos ouvidos
aquela história. Partiu com mos guardas e assistiu às declarações de Licínio.
E sentiu u7m vazio, sem saber porquê. Passeou a matutar, relembrando, linha
por linha, as palavras do companheiro do infortunado Sidónio. E foi ao
comtemplar a sua sombra por sobre as águas, como tanta vez fizera Sidónio,
que descobriu a grande mentira. Correu para um dos agentes
e exclamou: – Senhor guarda, prenda
este homem, porque ele mentiu. Na verdade… PERGUNTA-SE: – Qual a explicação que o Insp. Silvar deu ao agente, como base contra Licínio? |
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© DANIEL FALCÃO |
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