Autor Data Março de 1977 Secção Enigma Policiário [12] Competição Volta
a Portugal em Problemas Policiais 9ª Etapa (Setúbal – Sesimbra – Barreiro – Almada – Lisboa) Publicação Passatempo [34] |
MORTE POR ENVENENAMENTO Investigador Bazooka Ao «Sete de
Espadas» com um forte abraço Nevava em
Malmoe. O Inverno nesse ano tinha sido bastante duro e fustigava a cidade
sueca, porto marítimo ligado a Copenhaga por «ferry-boat» e pelo «Expresso»
do Norte que liga a Dinamarca à Suécia, de uma forma violenta que era pouco
comum ver. As condições
sociais em Portugal, fizeram com que muitos filhos da nossa terra emigrassem,
e é assim que vamos encontrar a família Marques no número dos que procurando
melhores condições de vida, se radicaram noutro país, neste caso a Suécia. Os
Marques tinham um bom nível de vida, mercê do muito trabalho, do muito suor
dispendido pelo casal para construir o seu lar. Eram pais de
três rapazes. Paulo, de 18 anos, José, de 15 e André de 12, todos eles
estudantes de escolas onde não falavam a língua portuguesa, embora todos eles
a falando correctamente, por imposição dos pais e por amor ao sangue e à
raça. Nessa noite
tinha vindo a casa dos Marques o casal Aguiar, emigrantes também e grandes
amigos daqueles. Sempre que podiam, reuniam-se para comer o bacalhau com
batatas, ou o cozido à portuguesa. Ao serão ouviam uma ou outra história, contada
pelo avô Silva Marques, pai do senhor Marques, do vasto rol das memórias do
velhote trazidas da pátria, das lezírias do Ribatejo. E foi assim
que devido ao temporal, os Aguiar Teixeira tiveram que dormir em casa dos
Marques, visto que moravam em Lund, outra cidade do litoral, a cerca de 25
quilómetros, bastante mais pequena que Malmoe. Foi então que
tudo aconteceu. Cerca da
meia-noite, quando praticamente todas as luzes se encontravam apagadas,
ouviu-se um grito que soou mais forte que o barulho do vento e da neve a cair
lá fora, seguido de umas palavras abafadas e aflitivas. Todas as luzes da
casa se acenderam e o Sr. Marques e o Paulo chegaram simultaneamente à sala
de estar onde depararam com um macabro espectáculo. À porta, a
tremer e transida de medo, estava a senhora Marques, faces comprimidas, dedos
crispados. Mais à frente, junto de um maple, estava o avô Silva Marques,
rosto no chão, expressão vazia, olhos sem vida e sem a alegria que lhe era
tão característica. A seu lado um copo caído e restos da bebida espalhados
pela alcatifa, A verdade era bem crua… estava morto! Entretanto
tinha chegado à sala o sr. Aguiar Teixeira e esposa que mal viu o estranho
quadro revirou os olhos, contorceu os lábios, e com um baque caiu no chão,
sem que praticamente ninguém se lembrasse de a levantar, a não ser o pequeno
André que entretanto tinha acordado o José e viera ver o sucedido. Quanto ao sr.
Aguiar Teixeira, apenas balbuciou: – Está morto?... Não pode ser… Lá fora o
vento continuava a assobiar, alheio ao calor das lareiras, e ao frio moral
que reinava no 1.º andar onde moravam os Marques. No dia
seguinte, o Inspector Rodrigues, que tinha ido à Suécia colaborar com as
autoridades locais num caso de droga no qual entravam delinquentes dos dois
países, deslocou-se a Malmoe para se inteirar do caso, visto que era amigo do
Senhor Marques. Após um relatório preliminar foi dado a conhecer que o avô
Silva Marques fora envenenado com estricnina, que estava dissolvida na bebida
que o copo continha. O Inspector
compilou as seguintes declarações: Sr. Marques: – Preparava-me para apagar a
luz quando ouvi o grito de minha mulher que entretanto se deslocara à casa de
banho. Corri para a sala de estar e cheguei ao mesmo tempo que Paulo. Sr.a Marques: – Fui à casa
de banho e quando passei pela sala vi as luzes apagadas. Pensei que o meu
sogro já se tivesse ido deitar. Fui a última a deixar a sala e quando o
deixei ficou a ler o jornal. Quando voltei da casa de banho lembrei-me de ir
correr a persiana, acendi a luz e dei com aquele espectáculo. Sr. Aguiar Teixeira: – Fui à
cozinha beber um copo de água, ouvi o grito, o barulho, e em seguida fui ao
quarto de hóspedes ter com a minha mulher, só depois indo ter com eles à sala
de estar. Sr.a Aguiar Teixeira: – O meu
marido acompanhou-me à sala de estar e em seguida desmaiei. Paulo Marques: – Ouvi os gritos, acendi a luz,
corri para a sala de estar e cheguei simultâneamente com o meu pai. José Marques: – Estava a dormir, afirmou,
pelo que de nada se apercebera. André Marques: – Ia à sala de estar buscar o
livro que lá tinha deixado ficar, ouvi passos…, vi a luz acender e
simultaneamente a minha mãe gritou e disse: «Socorro!... está envenenado!...
Socorro!» Com o susto corri para o quarto e acordei o José. O Inspector
Rodrigues voltou a Portugal no dia seguinte e a polícia sueca nada mais
descobriu. Hoje, 30 anos
passados, Paulo Marques recorda tudo isso. Os seus pais já morreram, os
Aguiar Teixeira também. Os seus irmãos vivem ainda na Suécia… ainda em
Malmoe. Só ele regressou à sua terra, à Chamusca… De repente
Paulo Marques levanta-se e diz alto: – Se há 30
anos me tivesse lembrado disto, caramba!... Não há dúvida… Deus lhe perdoe
ter morto o meu avô… PERGUNTA-SE:
Quem assassinou o avô? – Exponha o
raciocínio em que fundamenta tal acusação. |
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© DANIEL FALCÃO |
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