Autor

Juve

 

Data

Novembro de 1977

 

Secção

Enigma Policiário [20]

 

Competição

I Grande Torneio de Divulgação

3º Problema

 

Publicação

Passatempo [42]

 

 

NÃO VALE A PENA MATAR

Juve

 

A voz do velho João Rafael, explodiu violentamente, ao replicar: – Decididamente, não! Já te tinha avisado que nunca mais te adiantaria um cêntimo. Estou farto da tua vida dissoluta e das dívidas que contrais e que eu vou satisfazendo com o meu dinheiro. Mas agora acabou. E rua…

Jorge Antero, olhou o seu tio com comiseração e ódio. Um lampejo sinistro perpassou-lhe no olhar fulgurante.

A ideia que trazia em mente voltou a acudir-lhe, desta vez com mais intensidade. Estava resolvido a matar o velho, e dar ao caso um aspecto de suicídio. Nunca o seu já bem elaborado plano lhe parecera tão bom como agora. Seria o crime perfeito e a consequente posse da herança que lhe caberia.

 

Olhou o corpo tombado do ancião. Colocou-lhe a arma na mão direita, e relanceou o olhar pelo aposento. Tudo em ordem como esperava.

Afinal – pensou – o caso foi bem mais fácil do que supuz

Compôs a cabeça da vítima, alinhou alguns utensílios que estavam fora de ordem e só depois resolveu continuar o traçado do seu preconcebido plano.

Tirou uma folha do bloco de cartas e escreveu numa letra redonda, disfarçada, o seguinte:

«Caro Senhor: É a última vez que o aviso. Se amanhã não me mandar a quantia de 100.000$00, irei à Polícia denunciá-lo».

Leu com satisfação o que tinha escrito e colocou a folha ao lado esquerdo da vítima, sobre a secretária. Com todos os cuidados ia retirar-se, quando, repentinamente, bradou em voz alta:

– Que estupidez ia cometer. Deixar aqui o bloco donde tirei a folha. O melhor é levá-lo pois seria uma pista para os investigadores.

Apoderou-se do bloco, olhou detidamente pela última vez a encenação e achou-a perfeita. Saiu.

 

O Inspector tomara conta da ocorrência. O caso apresentava-se bicudo, mas o investigador adorava os casos difíceis. Desde o início que Jorge Antero se puzera à sua disposição, fornecendo-lhe todos os elementos possíveis para a descoberta do culpado.

Ao Inspector dissera que não descansaria enquanto não visse castigado o assassino, no caso de haver crime. A uma pergunta do Inspector se fazia uma ideia de quem seria «X», respondera que fora ele quem realmente na véspera recebera pessoalmente a carta das mãos duma pessoa, que agora tinha a certeza vinha disfarçada, e a entregara a seu tio. Este não abriu à sua frente e fora quando descobrira o corpo que tomara conhecimento do seu conteúdo. Supunha pelo que inferiu da leitura, tratar-se de algum chantagista, que estando na posse de alguma falta de seu tio o assediasse com pedidos de dinheiro. Estava convencido até que motivado por isso seu parente se suicidara.

O Inspector, que desde o primeiro momento suspeitava do sobrinho da vítima, esclareceu o caso. E quando deu a explicação que destruia todo o plano arquitectado pelo culpado, ouviu-o murmurar:

– Não vale a pena matar…

 

Pergunta-se: Qual o erro, ou erros, cometidos por Jorge Antero?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO