Autor Data 11 de Julho de 1992 Secção Policiário [11] Publicação Público |
MORTE NO ESCRITÓRIO Luís Pessoa O inspector Barros estava à
beira de um ataque de nervos. – Será possível? –
interrogou-se desesperadamente. – Será possível que tenha acontecido isto nas
minhas barbas? É de mais! Afonso Cabral era um
industrial bem sucedido, rico, amigo do inspector, a quem convidara para
passar uns dias na sua mansão, e agora aparecera morto com um tiro na fronte. A morte dera-se no
escritório, ao que tudo indicava, situado no rés-do-chão, e resumia-se com
facilidade. Às 10 da manhã, quando o
inspector estava a fazer a barba no seu quarto, ouviu um tiro ao fundo do
corredor, para onde se deslocou de imediato, encontrando-se a meio caminho
com o mordomo que acorria, igualmente, ao escritório. A porta estava fechada e
foi necessário arrombá-la para que o inspector visse o seu amigo estendido
junto da secretária, com uma ferida na fronte direita, de onde ainda brotava
sangue que empapava a alcatifa, e segurando a caneta com força na mão
esquerda. Junto à sua mão direita estava a pistola automática que parecia ter
utilizado. Ao fundo do compartimento, à direita, a janela batia ligeiramente,
impelida pela brisa que soprava lá fora e no ar sentia-se o cheiro adocicado
do tabaco que ardia no cachimbo colocado sobre o cinzeiro, no canto da
secretária. Naquele momento chegou o
filho único da vítima, o Henrique, que assomou à porta, lançou um grito,
precipitando-se para o cadáver do pai, no que foi impedido pelo inspector. Mais calmos, todos
prestaram as suas declarações. Mordomo: “Estava na sala a
tratar de tudo para o pequeno-almoço quando ouvi um estrondo que me pareceu
um tiro e vim logo a correr, até o encontrar no corredor. Não sei nada do que
se passou… Não, ainda não tinha ido ao escritório, onde quase nunca entro
porque o senhor não queria que devassassem a sua intimidade, fechando-se à
chave…” Filho: “Meu Deus, que sei
eu? Nada! Estava no jardim quando ouvi o tiro e vim a correr. Nunca pensei
que o meu pai se suicidasse, mas as coisas não lhe estavam a correr muito bem
ultimamente. Sabe… Questões de dinheiro!... Não, não vi ninguém a passar por
mim lá fora, nem ninguém a rondar a casa ou a janela… Para quê? Se ele se
suicidou… Uma tragédia!” Uma busca pormenorizada ao
escritório não revelou qualquer outro sinal relevante, nem sinais de alguém
lá ter penetrado, pelo que o inspector já tinha uma boa ideia sobre o que se
passara e estava apto a elaborar o relatório… E você? Houve um crime ou
suicídio? Justifique a sua afirmação. |
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© DANIEL FALCÃO |
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