Autor Data Janeiro de 1978 Secção Enigma Policiário [22] Competição I
Grande Torneio de Divulgação 6º Problema Publicação Passatempo [44] |
NUM CORREDOR COM 20 METROS ou BISBILHOTICES NA RESIDENCIAL DAS
AVENIDAS Sete de Espadas Os problemas para
os «Novos» ou «Iniciados», devem ser suaves, maneirinhos, acessíveis, com um
fiozinho de trama ou mesmo de história, mas dirigidos directamente ao fim a
atingir dentro do nosso querido passatempo – o policiário dedutivo… das
«cinzentas!». Foi a pensar
nisso que eu, ao aceitar o convite do prezado amigo e companheiro de outras
jornadas, Insp. Aranha, para «me
encarregar» de um problema para os «Novos» ou «Iniciados», fui à procura dos
meus velhos papéis e encontrei o «esqueleto» deste que hoje vos proponho… Numa folha
amarelecida havia, ao alto, a seguinte legenda «Num corredor com 20 metros» por cima de uma outra já riscada que
dizia «Bisbilhotices na Residencial das
Avenidas». Do meio para baixo daquela folha velhinha podia ver-se uma
série de rabiscos e números que faziam uma intrincada tecitura… Havia, também,
algumas linhas escritas… Quando se tem
que escrever um problema, já repararam que «Ela raramente aparece?... («Ela»,
aqui, referia-se à imaginação, claro!). E no entanto o
caso não é assim tão difícil, pelo menos aparentemente. Imaginem as
gentis leitoras e os prezados amigos, uma residencial nas chamadas «Avenidas
Novas de Lisboa», situada numa dessas vivendas dos anos 20 onde, no primeiro
andar, no topo de uma larga e ampla escadaria bem lançada, depois de um
patamar, se entrava num largo e comprido corredor alcatifado num tom verde
azeitona, em cujas paredes cremes se viam algumas gravuras iluminadas no
momento por quatro «apliques» e por um candeeiro de tecto com duas lâmpadas
de largos quebra-luz roxo, de franjinhas… Para esse
corredor davam todas as portas dos quartos e todas essas portas abrindo para
a direita… Ao fundo do
corredor abria-se na parede um cone com uma abertura interior de 75
centímetros de raio, fechado no exterior por uma janela de vidro avermelhado,
guarnecida de uma grade de ferro trabalhado… Ao canto,
próximo da porta do quarto doze, um desses jarrões enormes de louça vidrada,
onde se depositavam os chapéus de chuva molhados… Por cima do
óculo, a toda a largura da parede, um espelho ligeiramente inclinado. Creio
que estão a ver o que era, e quase como era, a «Residencial das Avenidas». Claro que
todos os quartos estavam ocupados, sendo numerados, pela esquerda de 1 a 13 e
os do lado direito de 2 a 12. No momento do
grito – e isto estava escrito nas declarações que a todos tinham sido pedidas
pelo inspector – o hóspede do quarto dez, funcionário da «repartição de
finanças» instalada no bairro, principiava a subir o último lance da escada
interior, quase escada de caracol…, situada ao fundo, à direita do corredor,
e vira pelo espelho a porta do quarto nove a fechar-se suavemente. Depois
desviara a vista por causa do degrau que à tarde tinha sido retirado para ser
substituido e… a partir daqui era o que todos sabiam. Os ocupantes
dos quartos doze, oito, quatro, três e cinco, estavam reunidos no quarto um,
festejando o aniversário do ocupante, professor de educação física. A viúva do
Brigadeiro Saavedra, ocupante do quarto onze, fora quem gritara ao acordar
repentinamente e ver um embuçado, de mascarilha, a estender a mão para o
valioso colar colocado numa concha sobre a cómoda. Ambos tinham desaparecido
num abrir e fechar de olhos, como que volatilizados. Depois, e quase logo de
seguida, segundo lhe parecera, a primeira pessoa a entrar ali fora o ocupante
do quarto treze, logo seguido pelo ocupante do quarto dez que declararam nada
mais ter visto de anormal. O colar, de
facto tinha «voado»… e do
«mascarilha» nada se apurara. No entanto, e para descanso dos leitores se
informa que, o primeiro fora mais tarde encontrado sob umas camisas dentro de
uma das gavetas da cómoda do ocupante do quarto doze… que nada soubera
explicar, até porque estava no aniversário.
A ocupante do
quarto nove declarara que tinha acabado de chegar, que mal tivera tempo de
encostar a porta do quarto e dirigir-se à escrivaninha para daí estender a
mão e descer a gelosia, quando ouvira o grito da senhora do lado. Como não
gosta de se meter na vida dos outros, deixara-se ficar no quarto, ciente que
a senhora seria imediatamente assistida. Era sempre assim, mal se dava um
grito em qualquer lado. O ocupante do
quarto treze, um ourives que desprezava as superstições, declarara que, ao
ouvir passos no corredor, tinha espreitado pela sua porta, que ligeiramente
abrira numa simples greta, e vira pelo espelho do fundo do corredor a
ocupante do quarto nove a entrar e a fechar mansamente a sua porta. O ocupante do
quarto que não fora encontrado na altura… mas por coincidência a «steno», que
ocupava o quarto seis, declarara, garantido com segurança, que o vira pela
sua porta que por casualidade entreabrira um ou dois minutos antes do grito,
sair do onze, caminhando para a direita, para o fundo do corredor,
silenciosamente, tanto quanto lhe parecera, mas a passos largos. O ocupante do
quarto dois, despachante da Alfândega, apesar dos ruídos de alegria ouvidos
no quarto um, do grito e do posterior rebuliço, continuava a dormir
paulatinamente, quando lhe entraram no quarto. Mais tarde,
veio a saber-se que o Rodrigo, Solicitador, e ocupante do quarto sete, era
quem administrava os bens da viúva do Brigadeiro Saavedra. Fora ao quarto da
senhora D. Letícia buscar umas acções da «Companhia das Águas», necessárias
para a manhã seguinte – o que a viúva confirmara! – e dissera ter visto o
colar no seu lugar habitual… mas não se afligir, porquanto, o colar estava
devidamente seguro! No dia
seguinte, o inspector encarregado do caso, sem quaisquer outros elementos da
«Técnica» que tinha fotografado e recolhido as impressões digitais, começou a
arquitectar uma teoria e envolver dois suspeitos e… a um por ter querido
imitar um célebre «ladrão elegante de
mascarilha negra e echarpe de seda branca» qual «rato de hotel» e a outro por possível e provável conivência…
mandou-os buscar! Naquela folha
de papel amarelecido nada mais constava… mas o caso não se tornava assim tão
difícil, porquanto… Pois!... Pois! 1ª – Será
capaz de indicar os que foram dois suspeitos? 2ª – Diga o
«como» e o «porquê» dessa sua indicação. |
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© DANIEL FALCÃO |
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