Autor Data 26 de Agosto de 2021 Secção Policiário [86] Publicação Sábado [904] |
HÁ COISAS DE QUE NEM TODOS SE LEMBRAM… Sete de Espadas Vejam
lá vocês que há dias, ao rebuscar em papéis velhos uma ideia que eu sei
existir dentro dos meus montões de sobrescritos com apontamentos vários
capazes de darem contos ou serem perdidos, por vezes ingloriamente, em
problemas policiários, encontrei numa folha amarelecida de um bloco com
linhas o seguinte esquisso: a)
A vítima e o outro… b)
O outro é um conhecido escritor, em investigações para um novo livro, na
Biblioteca Municipal… c)
A vítima tem a meio da testa, muito lisa e algo rosada, nem parecendo já
cadáver, somente o conhecido orifício provocado pela penetração de uma bala… d)
O escritor é patrão da vítima… e)
A vítima, que deve ter tido morte instantânea, está caída de costas, a meio
do escritório… f)
O outro, segundo declarou, não quis dar aumento ao empregado quando, na noite
anterior, este lho pedira… g)
A biblioteca funciona todas as tardes, sempre com muita afluência de
leitores… h)
O outro disse que se ausentara às 15 horas do seu escritório, indo
diretamente à biblioteca… i)
A pistola, junto à mão direita da vítima, tinha somente as suas impressões
digitais… j)
Segundo o patrão, a vítima tinha-o provocado na biblioteca, armando barulho,
o que o levara a obrigá-lo a retirar-se… l)
O outro, interrogado, confirma que a pistola é sua e é guardada numa das
gavetas da ampla secretária… m)
A vítima fora encontrada pelo patrão quando este regressara da biblioteca,
pelas 17 horas… n)
A morte, segundo o médico presente, talvez viesse entre as 16 e às 17 horas… o)
Em casa do outro, não havia mais ninguém… p)
A vítima, tal como o patrão, viviam na vivenda, mas tomavam as refeições,
separados, no Restaurante Carvalhos… q)
A bibliotecária, mais tarde interrogada, não se recordava de o escritor lá
ter estado nesse dia… r)
O outro, interrogado sobre isso, declarou que é natural, porquanto como já
não preenche ficha, vai logo direito, e no maior silêncio, ao lugar das
consultas… s)
Ninguém se recorda de ter visto nesse dia alguém estranho na biblioteca, nem
a secretária do escritor… Estes
são todos os apontamentos esquissados na velha folha amarelecida… Relidos
atentamente, achei que nem valia a pena estar a perder mais tempo com
“floreados de retórica”, porquanto estava ali tudo para um problema… Por
isso, e com aqueles dados, eu posso perguntar: 01
– Acha que foi crime? 02 – Diga o porquê da sua afirmação. |
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© DANIEL FALCÃO |
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