Autor Data Junho de 1976 Secção Competição 3º Problema Publicação Passatempo [25] |
MISTÉRIO EM BERLIM Vítor Hugo …
Fora uma semana de intenso trabalho com reuniões diárias intervaladas de
refeições rápidas. Depois no hotel redigir extensos relatórios, pois a
memória vai falhando, e meia dúzia de horas de sono reparador, para novo dia de negociações. Não
admira pois que ao assinar o protocolo do contrato na sexta-feira corresse ao
hotel e pegasse na mala direito à Frederickstrasse Bahnoff para apanhar o combóio
para Berlim Ocidental. Era
sempre com admiração e respeito que me deslocava à República Democrática
Alemã. O que este povo sofreu na carne e no espírito por uma guerra imposta
por um megalómano. Berlim foi completamente destruida,
não ficando pedra sobre pedra e só um povo que sabe o que quer pode
reconstruir não só uma cidade mas um país novo. Nos mínimos pormenores se
nota a organização, o nível cívico que não nascem de geração expontânea mas são o fruto da educação e do respeito, da
disciplina e do sacrifício. Cogitações
político-filosóficas perpassavam pelo meu espírito enquanto as estações iam
ficando para trás; Lehrterstadt, Bellevue… até que
parei na Zoom Bahnoff. Peguei
num táxi e fui direito ao aeroporto internacional de Tegel,
para marcar a passagem para Dusseldorf no dia
seguinte. Feita a reserva procurei um hotel nas imediações o que consegui à
segunda tentativa. Como
acontece com todos os viajantes abri a mala, tirei o casaco e preparei-me
para tomar o banho reparador… E
aqui começaram os problemas… Ao correr o cortinado do banheiro constatei com
desagradável surpresa que tinha uma companhia macabra… Peguei
no telefone e, rapidamente, pedi ao recepcionista
para chamar a polícia, pois tinha um morto no quarto! Enquanto
esperava a vinda da polícia retirei o corpo da banheira, sem água, mas mesmo
assim não foi tarefa fácil, deitando-o de lado para que a faca causadora da
morte se não deslocasse. Com
cuidado fui tentando retirar quaisquer documentos dos bolsos, mas além dum
bilhete de metropolitano nada mais tinha em seu poder. Entretanto
bateram à porta e quando abri entraram um inspector
da polícia e o recepcionista. –
Espero que não tenha mexido na faca! – largou-me o inspector, pensando, decerto, na possível existência de
impressões digitais. –
Claro que não – retorqui, e abrindo a porta da casa de banho conduzi-o até
junto do corpo para que pudesse tomar conta da ocorrência. O
caso foi, efectivamente, pouco depois solucionado,
resultando dele, de resto, uma amizade entre ambos e visita obrigatória nas
posteriores viagens. E
posto isto, diga-nos, Amigo leitor: A
que conclusões o conduzem este caso? |
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© DANIEL FALCÃO |
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