Autor

Zé Maria

 

Data

Maio de 1976

 

Secção

Enigma Policiário [2]

 

Competição

Torneio de Abertura

2º Problema

 

Publicação

Passatempo [24]

 

 

NO DIA DO ECLIPSE

Zé Maria

 

Na aldeia, no mais recôndito da serra, onde a instrução chegara miseravelmente, para não dizer que não chegara, aquele dia foi para alguns quase de festa, para outros, ainda ignorantes, de temores. Um eclipse quase total do sol motivara todas as divergências acontecidas na aldeia. Aqueles que sabiam alguma coisa bem queriam explicar aos mais ignorantes que era um fenómeno natural, enquanto que para outros o mesmo aparecia como sinal de tragédia.

Um pouco afastado da aldeia havia um casalote onde viviam três indivíduos: um solteiro, um viúvo e um outro divorciado.

Para estes o fenómeno também não passara despercebido, mas como se não davam bem, o assunto não fora discutido.

Nessa noite cálida, dum Abril cheirando a Verão, sinal de tragédia para os mais ignorantes, a mesma aconteceu naquele lugarejo afastado do centro da aldeia.

De manhã, no dia seguinte, uma pessoa visita assídua do divorciado, encontrou-o morto na varanda da sua casa.

O sangue já seco espalhara-se pelo cimento e o corpo encontrava-se com a cabeça quase decepada, dando ao quadro um aspecto altamente macabro.

Avisadas as autoridades, as suspeitas maiores recaíram, como era óbvio, nos vizinhos, tanto mais que se sabia de antemão que andavam de relações cortadas.

Passada busca minuciosa ao local do crime foi encontrada uma ponta de cigarro misturada como sangue e nada mais digno de nota. Passadas revistas às casas dos vizinhos, foi encontrada uma machada ainda com restos de sangue, que se verificou pertencer ao morto, no palheiro do viúvo.

Interrogado, este disse:

– Estive muito tempo sentado na soleira da minha porta, pois a noite estava quente; no valado, ao fundo, ouviam-se os rouxinóis e o luar tornava a noite bonita. Quanto à machada, disse não ser dele e não saber como lá aparecera.

Do solteiro, obtiveram-se as seguintes declarações:

– A noite estava quente e passei um bom bocado na rua, sentado numa banca, apreciando o céu estrelado. Vi o meu infeliz vizinho fumar um cigarro, também junto da varanda. Depois fui tratar do burro ao palheiro e deitei-me.

Quanto ao terceiro elemento, o que descobriu o cadáver, disse:

– Era meu hábito vir muitas vezes a casa do falecido. Depois da sua separação da mulher, as minhas visitas rarearam, porquanto ele pensava ser eu, com essa visitas, que levaram a mulher a tomar a atitude que os conduziu ao divórcio. Tal, porém, não foi verdade e, portanto, hoje, dado o fenómeno de ontem, vim cá para falarmos do caso. Infelizmente a minha visita foi para o encontrar morto.

O Inspector encarregado do caso, pensou e apontando um dos três, deu-lhe voz de prisão.

 

Pergunta-se: Quem foi o vizinho detido? Justifique a sua conclusão.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO