Publicação: “Público” Data: 29 de Novembro de 1992 Torneio de Preparação 1992 |
TORNEIO
DE PREPARAÇÃO PROVA Nº 5 O INSPECTOR FIDALGO DÁ UM CURSO… Autor: Inspector Fidalgo O Agripino era da espécie de pessoa que sempre
procura e quase nunca encontra. Quando tomou a decisão de abraçar a carreira
policial, não houve quem o criticasse ou se risse, porque tudo era tão
natural como o Agripino que nada parecia impossível. Foi nos testes finais que mais deu nas vistas,
quando, numa prova prática, deu solução brilhante ao desafio proposto pelo
Insp. Fidalgo, o monitor do curso e que rezava assim: Primavera. O ar calmo e quente fazia lembrar tudo
o que de bom e belo a natureza tinha para oferecer. Os pássaros, as abelhas e
as flores brincavam em conjunto, numa sinfonia a que não faltavam as
borboletas com o seu encanto. Tudo parecia perfeito e nada indicava que no
mundo também houvesse horrores, fome, crime e miséria. Também na perfeição pensava o Sousa, um homem
calmo e simples a quem a vida sorria e que, como todos os dias, abriu a
varanda e respirou fundo, desfrutando com visível satisfação a pureza do
momento, ele que tinha ali o seu refúgio, sem telefone nem correspondência,
que essa recebia-a no escritório. Uma hora depois estava morto, sentado ao
volante do carro, no interior da garagem privativa que ocupava o rés-do-chão
da sua casa e que tinha uma ligação interior com as restantes dependências,
por meio de umas escadas em caracol. Morto com um tiro que deixou marcas na têmpora
direita, sob a forma de um buraco mais ou menos regular, e no maxilar
esquerdo, completamente destroçado. O projéctil furara a porta do lado
esquerdo e não havia qualquer sinal dele no lado contrário. O rumo da bala
perdera-se e ainda não fora possível detectar o seu paradeiro. Não cheirava excessivamente a pólvora, dentro da
viatura, facto a que não devia ser alheia a abertura do vidro do lado
direito, até sensivelmente metade. A cabeça do Sousa pendia para a frente,
beneficiando do apoio que o corpo encontrou no cinto de segurança, já
colocado. Sangue havia por todo o lado. E mais houve ainda,
quando um agente, distraído e pouco diligente, se feriu ao raspar a mão, pela
porta da viatura, cortando-se nos bordos da perfuração do projéctil. A arma
da morte estava lá, sobre o assento (mesmo ao lado do comando que accionaria
a porta da garagem), do lado direito, por baixo da mão do Sousa. A solução do Agripino não despertou risos, nem
sequer sorrisos. Talvez tivesse descoberto a sua vocação… Quer o amigo concorrente tentar a sua vocação e
elaborar um relatório circunstanciado do que lhe sugere este caso? Como
ajuda, refira se acha que houve crime ou suicídio e justifique a sua escolha. |
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DANIEL FALCÃO |
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