Publicação: “Público”

Data: 27 de Dezembro de 1992

 

 

Torneio de Preparação

1992

 

 

 

 

TORNEIO DE PREPARAÇÃO

 

SOLUÇÃO DA PROVA Nº 6

 

UM CASO A RECORDAR

Autor: M. Constantino

 

Os primeiros factos que chamaram a minha atenção foram:

1 – a) O tiro no rosto como a disfarçar a identidade;

b) Os pingos de sangue nos dois sapatos;

c) Os dentes níveos;

d) A pele excessivamente pálida;

e) A chamada ao criado de “Ich”;

f) Ver-se “diante de um espelho”.

Decidira desde logo que o morto não era o alemão. Ninguém que masque tabaco tem os dentes níveos. A partir daqui deduzi que o morto era o Armando, um homem saído da prisão há poucos dias (razão da palidez), que para seu azar era tão parecido com o alemão que este lhe chamava “Ich” (eu) e se julgava perante um espelho.

Depois, ambos os sapatos tinham pingos de sangue – mas ninguém se descalça depois de morto e verificamos que um sapato foi atirado para junto da varanda, fora do alcance de qualquer salpico.

As impressões digitais deixadas na arma bem oleada e no cofre e não quaisquer outras, bem como o desaparecimento das folhas do passaporte onde eventualmente estaria uma impressão digital identificadora, dão-nos a certeza da premeditação do crime, quiçá para fugir a um chantagista incómodo (lembremos que o alemão era um oficial, muito possivelmente com culpas no cartório).

2 – A resposta à segunda questão é simples. Se a polícia tivesse desde o início tirado as impressões digitais do morto e procurasse identificá-las com os arquivos existentes, verificaria desde logo que o morto era o criado. O resto viria por arrastamento.

Creio que é o bastante, embora o problema dê “pano para mangas”.

© DANIEL FALCÃO