Dezembro de 1979 – Abril/Maio de 1987

 

 

 

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XYZ-MAGAZINE

HISTÓRIA DO CONTO POLICIÁRIO E DE FICÇÃO E ANTECIPAÇÃO CIENTÍFICA

XYZ-POLICIÁRIO

Por L.P. (Algés)

I CAMPEONATO NACIONAL DE PROBLEMAS POLICIÁRIOS

ETAPA DE SANTARÉM

(Problema Nº 2)

«XEQUE-MATE»

A nossa história começa numa varanda de uma linda vivenda onde se encontram o nosso inspector, de nome Ribeiro e o seu ajudante Mateus a jogar o mais maravilhoso de todos os jogos: o xadrez.

Subitamente, irrompendo o clima de concentração que ali se achava, toca o mais aborrecido dos aparelhos domésticos: o telefone.

– Está!? Sim… é ele mesmo! O quê?! Morto?! Sim… vamos imediatamente para aí.

– Mateus, temos trabalho. O Fortunato Gusmão foi assassinado!

– Ora bolas! Lá se vai o meu xeque-mate. Estes tipos nunca mais aprendem a escolher o dia mais propício em que querem ser assassinados. Logo hoje, num dia tão bonito!… Porque é que não mor-reu ontem, quando estava a chover a cântaros?! Nem morrer sabem!…

– Deixa-te de palermices e despacha-te! – ordena o inspector Ribeiro, dando mais uma fumaça no seu exótico cachimbo.

Minutos depois já os dois indivíduos se encontram defronte da enorme e sumptuosa mansão do milionário Fortunato Gusmão. Não tinham sido os primeiros a chegar lá, pois junto ao jardim que a mansão possui, já se encontram dezenas de curiosos que se dividiam, ora perguntando qual teria sido o assassino, ora admirando o luxuoso «Mercedes Benz» 300 D, que se encontra estacionado junto à garagem. Tentando passar despercebidos, os dois polícias sobem os trinta e tantos degraus da escada que os leva à porta da mansão…

– Estás a ver, Mateus?! – pergunta o inspector, apontando para os degraus que se encontram sujos de pegadas de lama. – Talvez sejam as do assassino. Pergunta ao polícia se ainda ninguém subiu estas escadas depois do crime!

Como a porta se encontrava aberta, o inspector aproveitou para ir adiantando trabalho. Encontra-se numa grande sala, luxuosamente decorada. Dando uma vista de olhos ao local, Ribeiro não teve dificuldade em verificar que aquela magnífica sala tinha sido o palco do assassínio do milionário. De facto, facilmente se descobriria que a vítima se encontrava sentada num sofá, com a cabeça deitada para a sua frente, pendulante, quase tocando os joelhos. Defronte situa-se uma pequena mesa com tampo de mármore, onde está colocado um rico jogo de xadrez, cujas peças, verdadeiros objectos de arte, nos indicavam que alguém, recentemente, estivera a jogar.

– Um bom xeque-mate! – diz para consigo o inspector Ribeiro, admirando as posições das peças que o tinham ocasionado. – Bastante bom! Quem me dera saber dar destes xeques-mates. – De facto assim era. Era um «mate» de um mestre. As «brancas» com dois bispos e duas torres tinham encurralado o rei «negro», único sobrevivente de cor, no canto superior direito. As torres encontram-se nos cantos superior esquerdo e inferior direito, estando os bispos, um no canto superior esquerdo e o outro duas casas à frente na mesma coluna.

– Chefe! O polícia disse-me que foi ele o único a subir as escadas, além do sobrinho da vítima, de nós e evidentemente do criminoso… Ele afirmou que quando subiu as escadas as pegadas já lá se encontravam.

– Então as pegadas pertencem ao criminoso ou ao sobrinho da vítima.

– Outra coisa, chefe! O médico legista já me deu o relatório, embora incompleto, onde nos diz que a vítima morreu repentinamente com uma bala que lhe perfurou o cérebro, dirigida dos olhos para a nuca, saindo para o exterior…

– Então teremos de procurar a bala. Procura tu desse lado que eu procuro deste! – ordena o inspector Ribeiro, enquanto regista os últimos apontamentos sobre o jogo de xadrez.

Enquanto Ribeiro procura a bala assassina, vai registando apontamentos sobre a planta da sala. Assim, se penetrarmos nela pela porta de entrada, e tomando sempre como ponto de referência esta porta, nós veremos, mesmo em frente, na parede oposta, uma janela de cerca de três metros que dá para, uma espaçosa varanda, com mais ou menos um metro de largura. Do lado esquerdo situa-se um corredor que dá acesso aos restantes compartimentos da mansão, e do lado oposto fica uma enorme estante repleta de numerosos livros. Era assim, em traços muito gerais, a planta da grande sala que tinha sido palco do assassinato de Fortunato Gusmão.

Nesse momento entra na sala, vindo do corredor, o sobrinho da vítima, Orlando Moura, que segundo ele depois afirmara, estivera a tomar um duche para se recompor do choque que tivera.

– Desculpe esta invasão, mas a porta estava aberta e aproveitei para ir adiantando trabalho – afirma Ribeiro, que interrompe a sua inspecção.

– De nada. Esteja à sua vontade, por favor! – responde o sobrinho da vítima que se encontra visivelmente abatido.

– Como é que isto aconteceu? – pergunta o inspector, recostando-se num luxuoso sofá.

– Foi tudo muito rápido, inspector. Estivemos muito divertidos a jogar xadrez, e o meu tio ficou muito contente em ter vencido, coisa que não acontecia há muitas partidas. Aí está o jogo. Ainda ninguém lhe mexeu. Para ninguém nos incomodar, fechámos todas as portas e janelas, de maneira a que as pessoas pensassem que ninguém aqui se encontrava. Ah, sim! Já me esquecia. Aquela janela, que dá para as traseiras, foi o único acesso à casa que ficou aberto, para que entrasse algum ar fresco, pois está um calor sufocante. Depois do jogo fui até ao meu quarto buscar um livro de xadrez para o mostrar ao meu tio, pois era um livro recente e ele ainda não o conhecia. Foi então que aconteceu o terrível!… Estava eu no meu quarto quando ouvi um tiro, seguido, quase simultaneamente, de um agudo grito. Vim imediatamente ver o que tinha acontecido, e qual não foi o meu espanto, ao ver o meu tio naquele estado… Fui imediatamente àquela janela que dá para a varanda, pois era a única via à casa que se encontrava aberta, e ainda pude descortinar um vulto correndo pelo campo de areia, rumo à estrada, onde tomou um carro, previamente lá estacionado. Ainda se podem ver as pegadas deixadas pelo assassino no extenso areal das traseiras…

– Quem é que pensa ser o autor disto tudo? – pergunta Ribeiro enquanto se dirige para a varanda que dá para as traseiras, com o fim de poder ver as tais pegadas.

– Não faço a mínima ideia, inspector. Ele não tinha inimigos. Tinha bastantes pessoas que lhe deviam muito, mais daí a matá-lo! Duvido muito…

– Chefe! Encontrei a bala assassina!… – interrompeu Mateus, apontando para o local onde ela se encontra. Depois de ter atravessado o cérebro de Fortunato Gusmão, a bala cravou-se na parede, a cerca de um metro e meio do solo, situada ao lado esquerdo da janela que dá acesso à varanda, para quem se situasse junto à porta de entrada.

– Muito bem! Os rapazes da balística já têm trabalho. Agora nós vamos às traseiras verificar as pegadas e se possível tirar o molde – ordena o inspector, dando uma palmadinha de parabéns nas costas de Mateus.

Minutos depois já os três indivíduos se encontram no campo situado nas traseiras da mansão. Devido à chuva que tinha caído no dia anterior, o campo, leve e arenoso, ainda se encontrava um pouco molhado, o que permitia a nítida visão da planta das pegadas. A nitidez era tão perfeita que se viam perfeitamente todos os pormenores do sapato, bem como toda a sua planta. Os passos apresentavam pouco menos de três pés de comprimento e iam desde o sítio do salto que o assassino efectuara da varanda até a uma estrada asfaltada, numa extensão de mais ou menos cento e cinquenta metros. A parte dianteira, bem como o calcanhar, ou parte traseira, da pegada apresentava sinais de modo a deduzir-se que o calçado era de «sola de borracha». O assassino calçaria aquilo a que chamamos «sapatilhas», ou «ténis». Depois de tudo minuciosamente examinado, os três indivíduos voltam à mansão. É nesta viagem de volta que o inspector repara que Orlando Moura coxeia...

– Como é que isso aconteceu?

– Foi há dias que dei uma queda, quando passeava de cavalo, e magoei-me na rótula. Por umas semanas não poderei correr e andarei coxeando – respondeu Orlando, dando uma massagem no seu joelho.

Pouco depois, já os dois indivíduos se encontram em casa, dispostos a terminar o jogo de xadrez inacabado.

– Mais umas jogadas e está no papo. Vai ver o xeque-mate que lhe vou dar. Até vai delirar de inveja!…

– Cala-te e joga! O último a rir é o que ri melhor! Não é, Mateus?! – responde Ribeiro, enquanto retira, com esfuziante agrado, do tabuleiro, uma torre adversária.

– O quê? Ah, e esta?! – replica Mateus, «comendo» a dama adversária. Agora é que vai ser! Vai ficar descalço de inveja!

– É isso, Mateus! – grita Ribeiro, levantando-se bruscamente da cadeira. Anda, vamos daí! Vamos verificar se Orlando Moura tem razão!

– Outra vez! Lá se vai novamente o xeque-mate! Arranjas sempre uma artimanha para te livrares de perderes! Mas vamos lá, então. Primeiro a obrigação, depois a devoção! Mas espera aí! Foi ou não o Orlando Moura o assassino?

– Espera um momento, que eu já te digo. Deixa-me ir buscar o meu cachimbo…

Eu já não consigo esperar. Nem mais um segundo! Por isso pergunto aos queridos leitores do nosso «XYZ-Magazine» quem terá sido o criminoso (o vulto ou o Orlando Moura) e os porquês, com a reconstrução do crime, da resposta anterior. Se não lhe agradar este tipo de perguntas, redija um relatório sobre o crime. Em ambos os casos a pontuação máxima é de dez pontos, sendo três pontos para a revelação do verdadeiro assassino. Boa sorte!

Respostas para:

LUÍS MANUEL PESSOA

R. Conde Rio Maior, 18-5º, Dtº

Algés 1495

LISBOA

até ao último dia do mês seguinte ao da saída da revista. Neste caso, até ao dia 28 de Março. Não haverá prorrogações de prazos, sendo anuladas todas as soluções que não cheguem dentro do tempo estabelecido.

Os resultados apenas serão publicados, em princípio, na revista de Maio, sendo revelados ao vivo no «Convívio de Santarém» e atribuídos de imediato os prémios aos seus ganhadores, se estiverem presentes. Para todos os efeitos, antes do Convívio serão todos os premiados avisados do facto para estar presentes na distribuição, se o desejarem.

E pronto. Este é o segundo problema, «em forma», do «XYZ»-POLICIÁRIO, uma secção que precisa de todos os amantes e Amigos do Policiário para singrar e dar fruto. Precisamos de todos e com TODOS contamos.

Ainda há Torneios por patrocinar, concretamente, o Torneio de Junho (convívio em Agosto) e Torneio de Outubro (convívio em Dezembro).

Vejam o Regulamento publicado no número anterior.

NOTA: – Por o «XYZ» Nº 8 apenas ter sido distribuído a partir do dia 19 de Fevereiro, aceitam-se respostas ao Problema Nº 1, até ao dia 20 de Março, sem direito aos Prémios do mês e apenas com direito a figurar na Classificação Geral Final, e o mesmo se refira quanto ao «XYZ» Nº 9, prorrogação até 30 de Abril.

 

Fonte: XYZ-MAGAZINE, nº 9 (pág. 15-17), Fevereiro de 1981

© DANIEL FALCÃO